Todos nós, em diferentes momentos e circunstâncias das nossas vidas, já pedimos a alguém ou a um determinado grupo para “não bater no ceguinho”. Ou seja, que não voltasse a falar do mesmo assunto, porque cansa ouvir a mesma informação várias vezes. Mas essa forma de pedir e/ou de exigir para não se falar do mesmo tema é feita de diversas maneiras através de palavras e/ou de atos.

É exatamente nessa linha de ação que devemos, todos, caminhar. “Bater no ceguinho” até que se cumpra aquilo que se deseja, caso contrário não estaríamos a viver. Por outras palavras, tal como a nossa respiração é constante, ao longo da nossa existência, devemos também manter-nos constantemente a pedir, exigir, falar, ouvir, fazer e fazer cumprir todas as promessas que fazemos e as que nos fazem. Por esse motivo, temos todos que “bater no ceguinho” para que se cumpra o ideal da construção de pontes e ao mesmo tempo derrubar muros, sejam eles muros físicos ou virtuais.

Cada um de nós, em sua maneira de ver as coisas, percebe que a humanidade carece de uma liderança capaz de demonstrar e ao mesmo tempo cumprir com a construção de uma ponte que una duas margens. Sejam margens entre “periferias e centro”, “ricos e pobres”, “Natureza e Humanidade”, “exploração e conservação do planeta”, etc. Mas também, cada um de nós sabe que nem todas as promessas políticas chegam a ser realizadas na íntegra, tal como prometidas, e é por que não se cumpre com as justiças, igualdades, valorizações do outro e de “n” outras promessas feitas, que devemos levantar a voz e “bater no ceguinho” para que se efetive a edificação das Pontes Vivas. Onde a humanidade juntamente com a natureza poderá caminhar de mãos dadas sobre A P-O-N-T-E.

A nós, cidadãos comuns, resta-nos nas nossas localidade “bater no ceguinho” contra todas as discriminações, desde violações dos direitos das crianças, violências domésticas, abusos contra as mulheres e raparigas, racismos (quotidiano, institucional e estrutural) e de muitas outras formas de desrespeito da condição humana, e sem se esquecer da luta contra todos os modos de exploração abusiva da nossa casa comum (Planeta Terra).

É importante que se continue, “cegamente”, a “bater no ceguinho” de forma a que toda a humanidade se possa (re)encontrar e desfrutar de todas as belezas deste mundo sem desigualdades e discriminações entre raças, cor, género, pretensões religiosas (…), em busca de uma verdadeira pedagogia de convivência e ao mesmo tempo de incorporar a cada instante o Espirito Ubuntu (eu sou porque tu és). E de saber realmente que só somos quem somos através de outros e é essa interdependência que nos mantém como humanos. 

 

 

Artigo de Mamadu Alimo Djaló

Licenciado em Sociologia pela Universidade do Algarve;

Chef de Cozinha no Restaurante Paço 100 Pressa na Covilhã.