CRUZ, Fátima

Enfermeira Especialista na área de ESMO da ULS Coimbra/USF Caminhos do Cértoma

 

As relações paternas na família contemporânea têm apresentado significativas transformações, nomeadamente o surgimento de uma nova expressão do papel masculino na sociedade. Apesar de ser laboriosa, a esfera atual requer a participação mais ativa do homem não só como cônjuge, mas também como pai, incluindo a vivência do período gravídico-puerperal junto à companheira (Cavalcanti & Holanda, 2019).

Segundo Parke como referido por Piccinini, Silva, Gonçalves e Tudge (2004) o casal, e não apenas a mulher, fica grávido, e as mudanças que ocorrem com os futuros pais durante a gravidez não são independentes das mudanças por que passam as próprias gestantes. Os pais devem ser considerados parceiros nas decisões e intervenções que sejam necessárias para a vigilância da gravidez, pelo que as opiniões, crenças, ambientes culturais e valores de ambos devem ser escutados e respeitados (Direção-Geral da Saúde [DGS], 2015).

O envolvimento do pai com o filho deve iniciar-se durante a gravidez da mulher (Piccinini, Silva et al., 2004 como referido por José, 2018), e este não se refere apenas a comportamentos como acompanhar nas consultas de vigilância e/ou na realização das ecografias, mas também a um envolvimento emocional, na participação em atividades relativas às gestantes, nos preparativos para a chegada do bebé e no apoio emocional proporcionado à mãe (May, 1982 como referido por Piccinini, Silva e Gonçalves, 2004). De facto, a participação do pai na gestação ajuda as mulheres a sentirem-se mais capazes para superar a pressão e as dificuldades da gravidez, a tolerarem melhor o trabalho de parto e a adaptarem-se mais facilmente no pós-parto (Akbarzadeh, 2012 como referido por Firouzan, Noroozi, Mirghafourvand & Farjzadegan, 2018).

A participação dos pais no período perinatal é um passo crucial para compreender as mudanças que devem ocorrer para promover a parceria conjugal durante este período. Os aspetos mais importantes na participação dos pais durante este período importantíssimo são ajudar a manter a saúde da mãe e do feto, dar suporte emocional à mãe, participar na vida matrimonial, colaborar na preparação para um parto seguro e por último apoiar a mãe no pós-parto.

Infelizmente, o foco dos cuidados de saúde na assistência de enfermagem às famílias ainda está muito direcionado para a grávida, ficando o pai num plano de pouco destaque, o que compromete o envolvimento paterno. É necessário sensibilizar e capacitar os profissionais de saúde, para a inclusão do pai durante o período único que é a gravidez. Estes devem entender a importância de reconhecer as necessidades dos pais, discutir as suas ansiedades, e dotá-los de conhecimentos promotores de um envolvimento efetivo durante a gestação através de sessões educativas. Estes devem também incentivar o casal ao diálogo sobre a paternidade e motivá-los a encontrar estratégias para um envolvimento mútuo e treiná-los nas competências parentais. Isto permitirá que o pai se sinta mais valorizado, facilita o processo de transição para a parentalidade e favorece a criação de laços com o bebé, estabelecendo relações vinculativas mais coesas, intensificando assim a estrutura familiar. A presença do pai é um elo facilitador para que a grávida ultrapasse as inseguranças, a falta de confiança e ajude a desmistificar os seus medos.

É necessário trabalhar o suporte legal e as políticas de saúde para o envolvimento do pai, ou seja, a legislação da parentalidade, investir nas estruturas físicas dos serviços de saúde, nomeadamente na criação de espaços e serviços adequados e favorecedoras do envolvimento paterno.

Em Portugal existem várias normas, programas e campanhas que trabalham as questões da paternidade e que procuram promover o conhecimento, sensibilizar sobre os papéis dos homens e incentivar uma paternidade cuidadora, envolvida e positiva. Destes são exemplos o Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco (DGS), o Projeto Paternidade Envolvida e Cuidadora (IMPEC) (DGS) e também Programas de Preparação para o Parto e Parentalidade, excelentes estratégias para envolver os pais, nomeadamente na aprendizagem sobre os cuidados de higiene ao recém-nascido, o transporte do mesmo, a amamentação, entre outros.

Sendo os enfermeiros, os profissionais de saúde que têm uma elevada proximidade com estes utentes, torna-se crucial estes estarem alertas, sensibilizados e consciencializados para poderem modificar positivamente a vivência de uma gravidez por ambos os elementos do casal e fazê-la ser realmente vivida a dois.

 Consciencializar que o envolvimento efetivo do pai durante a gravidez (e também no parto e pós-parto) é de extrema importância, traduzindo-se em benefícios para as mulheres, na medida em que estas se sentem mais apoiadas emocionalmente e mais seguras, o que contribui para a criação de um vínculo familiar consistente e para uma gravidez feliz e saudável. Não menos importantes são os benefícios para os próprios homens, permitindo-lhes uma maior envolvência nesta fase, sensação de pertença, valorização e segurança. Os pais têm perceção dos fatores/barreiras que condicionam o envolvimento paterno, os quais devem ser alvo de reflexão e intervenção por parte dos responsáveis competentes.

 

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