“Era uma vez um país

Onde entre o mar e a guerra

Vivia o mais infeliz

Dos povos à beira-terra”

 

É assim que começa o poema de Ary dos Santos sobre o 25 de Abril. Fala-nos de um país que ainda não tinha sido resgatado pela Revolução; que ainda não tinha sido salvo da escuridão; onde o tal dia “inicial, inteiro e limpo” ainda não tinha nascido. Um país “onde o pão era contado”, “onde morria primeiro/ quem nascia desgraçado”, onde o povo tão pobre para a guerra era mandado.

 

Esse país renasceu há exatamente 50 anos. Da guerra fez paz. Contra a doença construiu a saúde gratuita, contra o analfabetismo a educação universal. À exploração das elites respondeu-se com o direito ao trabalho e o trabalho com direitos. Ao fascismo – que é o regime da extrema-direita e dos ultraliberais – respondeu-se com liberdade e democracia.

 

Foi há exatamente 50 anos que deixámos de viver no passado e que passámos a caminhar em direção ao futuro.

 

 

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Muito caminho fizemos para cá chegar. Muito outro temos de trilhar. Mas sem permitir passos atrás.

 

A Revolução inscreveu o direito à habitação na Constituição e acabou com as cidades de barracas sem água nem eletricidade. Construiu e realojou, mas sabemos que o 25 de Abril nunca estará cumprido se permitirmos que a especulação nos continue a tirar casas.

 

A Revolução deu acesso à saúde e à educação num país onde nascer pobre era sinónimo de morrer novo e analfabeto. Construiu hospitais e escolas, mas sabemos que o 25 de Abril estará ainda longe de se cumprir quando o lóbi privado da saúde atenta contra o direito à saúde ou quando os Governos não cuidam do Estado Social.

 

A Revolução trouxe a democracia. E isso é também a igualdade perante a lei, a não discriminação, a emancipação das mulheres. Sermos donos da nossa vida, dos nossos corpos, das nossas vontades. Mas o 25 de Abril não estará completo enquanto a violência doméstica for o crime que mais mata em Portugal ou a exploração laboral permitir que um CEO ganhe num mês o que um trabalhador ganha em 10 anos.

 

O caminho é longo. Nos 50 anos da nossa revolução, dizemos: estamos presentes para todo esse caminho. Para toda essa luta. Sem passos atrás.

 

 

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Ouvimos, vemos e lemos a direita reacionária a sair das suas tocas. E não podemos ignorar.

 

Na mudança de governo viu uma oportunidade para tentar impor retrocessos nos nossos direitos. A extrema-direita de hoje tem a mesma agenda da extrema-direita da ditadura fascista; a direita reacionária tem a mesma agenda da direita reacionária que suportava o regime de Salazar e Caetano.

Falam de proibir a Interrupção Voluntária da Gravidez, de enviar as mulheres para a clandestinidade e para os julgamentos públicos. Falam de um Estatuto da Dona de Casa e do papel da mulher submissa. Falam de conceções tradicionais de família e do desrespeito por escolhas de amor, da negação ou julgamento público de direitos sexuais, reprodutivos e de identidade de género. O caminho da liberdade é ainda de aceitação de todos, independentemente da opção sexual, da identificação de género ou opção de constituição de família.

Anunciam o bodo aos patrões e aos mais ricos. Com borlas fiscais para lucros milionários, mas mãos cheias de nada para quem vive do seu salário. Com um programa económico que é fruto do lóbi da Confederação dos Patrões e tem como intenção a retirada de direitos aos trabalhadores.

Menos direitos, mais desigualdade. É o que anunciam. Não vamos ignorar. Vamos dar luta. Com a força que nos vem da Revolução de Abril.

A todos esses nós dizemos, nos 50 anos da Revolução de Abril e todos os dias: Nem um passo atrás!

A todos esses dizemos como disse Sophia de Mello Breyner:

“Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo”

 25 Abril significou um caminho de liberdade, mas ainda há muito caminho de aceitação, respeito, dignidade e igualdade para muitos cidadãos deste país. A luta por igualdade de direitos não está terminada porque ela ainda está por cumprir, mas não vamos deixar cair aqueles que já ganhámos e de que tanto nos orgulhamos.

 

Viva Abril. Viva a Liberdade. Viva a Revolução.

 

 

Texto: Concelhia na Mealhada do Bloco de Esquerda

Imagem: Bloco de Esquerda – Mealhada