«(…) esfumaram-se dos cofres municipais quase três milhões de euros em resultados negativos acumulados (…)». A declaração é de Hugo Silva, vereador na Câmara da Mealhada, e faz parte de uma carta aberta entregue na Assembleia Municipal em maio de 2020 e «amplificada na comunicação social e redes sociais». Afirmação que não caiu bem a Rui Marqueiro, presidente da Autarquia, que, na altura, anunciou que iria apresentar uma queixa-crime no Ministério Público contra o vereador da oposição, por considerar a afirmação «caluniosa e difamatória». Esta quarta-feira, Hugo Silva, num comunicado remetido aos jornalistas, confirma ser alvo de uma acusação, garantindo que «se tiver de ser, irei a Tribunal defender o que escrevi, sem subterfúgios e sem desdizer uma palavra».

 

Na «carta aberta – aos desafios municipais», Hugo Silva escreveu que «na economia sempre se recorreu a financiamentos, sempre se projetou investimento imediato antevendo receita futura, porque é no presente que a população retira partido da obra realizada deixando, normalmente, obra paga à geração seguinte e tirando partido da obra paga pela geração anterior». Para o vereador da oposição «aqui (no Município da Mealhada) aconteceu o oposto desde 2013, executou-se investimento em valores que baixaram aos 38% do orçamentado anualmente – numa média a 6 anos inferior a 50% – e ainda assim, neste mesmo período, esfumaram-se dos cofres municipais quase 3 milhões de euros em resultados negativos acumulados».

Rui Marqueiro considerou a afirmação «caluniosa e difamatória», anunciando em reunião do executivo municipal, em junho de 2020, de que iria apresentar uma queixa-crime contra o vereador. Na ocasião, também Arminda Martins, vereadora na Autarquia, refutou que «no senso comum, “esfumar-se” significa fazer desaparecer». «Para além de uma ofensa à honra dos vereadores do PS, ofende-se também os funcionários da Câmara, com responsabilidade partilhada em matéria financeira, cuja honestidade é posta em causa pelo senhor vereador», disse.

Ontem, num comunicado enviado aos jornalistas, Hugo Silva começa por escrever que «o presidente e os seus vereadores fizeram queixinhas de mim». «Aqueles que tenho enfrentado cara a cara, no campo político no concelho decidiram apresentar uma queixa-crime contra mim. Por fazer uma análise literal dos resultados contabilísticos acumulados do município, por defender na política aquilo que todos queremos, equilíbrio, resultados positivos e investimento que melhore a vida das pessoas e as condições de atração das empresas», continua o vereador, afirmando que a acusação de que é alvo «é bem diferente das que outros políticos mealhadenses têm a pender sobre si». «Se tiver de ser, irei a Tribunal defender o que escrevi, sem subterfúgios e sem desdizer uma palavra», enfatiza.

Já Rui Marqueiro, questionado pelo nosso jornal, sublinha que «o senhor vereador fez uma afirmação que considerei ofensiva da minha honra e dignidade e, por isso, apresentei queixa-crime no Ministério Público». «Espero que tal queixa suba a juízo para que, no local próprio, seja apreciada e feita justiça. Há tribunais para apreciarem afirmações e propósitos. Confio na justiça», acrescenta o edil, recordando que «antes de apresentar a queixa-crime, dei a oportunidade ao senhor vereador de se retratar das afirmações caluniosas por si proferidas». «Em face da sua recusa, só me restava apresentar queixa», remata.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Fotografia de Arquivo da autoria de José Moura