CORDEIRO, Beatriz

Enfermeira na UCCI de Média Duração e Reabilitação da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada

CARVALHO, André

Enfermeiro no Internamento Médico-Cirúrgico da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada

CRUZ, Fátima

Enfermeira Especialista na área de ESMO do ACeS Baixo Mondego/USF Caminhos do Cértoma

 

Ao longo das décadas, tem-se vindo a observar mudanças demográficas devido ao aumento da longevidade e à diminuição da natalidade, que exigem mudanças na sociedade (Direção-Geral da Saúde, 2017). A salientar que o avançar da idade acarreta dificuldades físicas e psicossociais que comprometem a independência do idoso, o que consequentemente, aumenta a carga nos cuidadores, frequentemente familiares, podendo tornar esta população sujeita a violência (Silva de Oliveira et al., 2015).

Numa mesa-redonda, três enfermeiros a exercerem funções em três áreas distintas do CUIDAR, pegaram na temática “Maus-tratos e Violência contra Idosos”, de onde surgiu esta reflexão que emergiu pelos seguintes descritores: Capacidade; Violência & Idoso, que não deixaram de querer partilhar.

De acordo com Silva de Oliveira et al., (2015), existe relação entre o comprometimento da capacidade funcional dos idosos e os sinais de violência: quanto mais dependentes e a necessitar de mais cuidados, mais vulneráveis estão à violência.

A violência contra idosos é um verdadeiro drama nas sociedades atuais, calamidade social que se verifica em diferentes países, independentemente do seu nível de desenvolvimento, daí ser um dever de cidadania saber interpretar sinais e sintomas para ajudar nesta problemática.

Este tipo de violência assume muitas vezes a forma de abusos psicológicos, financeiros ou físicos e pode acontecer nos mais diversos ambientes, seja no domicílio dos próprios idosos, na casa de familiares, ou até mesmo em lares.

Problema social grave que afeta milhões de idosos em todo o mundo, uma negligência tão grave quanto silenciada e por isso, este tema merece não só a nossa atenção, mas um apelo sentido para que tomemos todos consciência da sua imensa gravidade e das consequências que pode deixar nas vítimas.

A violência pode surgir de diversas formas e pode acontecer várias vezes. No caso particular dos mais idosos, e devido à sua vulnerabilidade, estes tornam-se menos capazes de lutar contra possíveis atos de violência e maus tratos, tornando-se, assim, um alvo para a prática deste crime.

Na maior parte dos casos, a pessoa idosa remete-se também ao silêncio, por medo e/ou vergonha, vivendo anos em sofrimento sem nunca denunciar o abuso e a violência.

Existem inúmeras razões pelas quais uma vítima não denuncia os abusos que sofre, como por exemplo: Não reconhecer que está a ser negligenciado e a ser vítima de violência; Sofrer de perda de memória ou estar em demência; Não identificar os seus direitos; entre outros. O abandono é igualmente considerado violência.

No caso da violência contra os idosos, é preciso ajudar os jovens a construir laços de respeito mútuo, cordialidade e carinho com as gerações mais velhas, assim como é importante ajudar os mais velhos a abrirem-se ao mundo dos jovens e a deixarem-se envolver pela sua jovialidade e novas formas de olhar o mundo.

É preciso aprender a construir pontes de diálogo entre as diferentes gerações, porque só daí poderá nascer o respeito, a compreensão mútua e o fim da violência sobre os mais frágeis.

Conclui-se que idosos com comprometimento cognitivo tem maior probabilidade de abuso. Indica que quanto menor for a escolaridade e o apoio social, maior é a probabilidade de serem expostos a situações de violência (Mathes Faustino et al., 2016). A violência geriátrica representa uma grave violação dos direitos dos idosos. Neste sentido as profissões de saúde devem ter uma participação ativa e interdisciplinar de modo a proteger os idosos e a punir os abusadores (Araújo dos Reis et al., 2014).