Envolvidos numa cumplicidade nunca antes vista. Ao longo desta idade de prata nunca me vi tão entrelaçado com ele como agora me vejo e sinto. Recorrentemente se diz por aí que o céu é o limite, mas não observo nem apalpo nada disso. A cada vez que mergulho nele mais suavidade sinto à minha volta e na minha própria estrutura física.

É por ele que ergo a cabeça a cada vez que saio à rua. É por ele que digo coisas sem voz e ao mesmo sem saber o que digo. E é por ele que penso além dos limites que se quer impor nesse mundo. O limite não nos cabe a nós e nem ao céu. O limite em si não tem limites.

Se calhar é por isso que me descubro todos dias. Se calhar é por isso que me zango sem razão. Se calhar é por isso que sorrio sem perceber o motivo. Se calhar, é, talvez, por isso que existo. Existir nessa condição de não pôr nada em causa. De encarar a vida com leveza e legitimar tudo o que acontece. Tal como aceitar que digam que o céu é o limite, mesmo desconfiando que o limite só ao limite pertence e tudo que existe na restrição não tem fim.

E agora existindo nesta condição em que se restringe tudo, será legítimo aceitar que o céu é limite só porque está muito distante da terra? Será aceitável concordar que pela distância que existe não haja nenhum teto que me trave? Ou será melhor viver na desconfiança de que não há teto nenhum que me possa limitar?

Assim me vou aceitando, conhecendo-me a cada dia com nova forma de sorrir, com nova forma de chorar, com nova forma de fingir que está tudo bem e ainda com nova forma de assumir que, na verdade, está mesmo tudo bem.

Nunca deixando de lado os princípios básicos, pois quando o básico é garantido não haverá nada que me impedirá de alcançar o secundário, o terciário e por aí a diante… desta forma, continuo a enganar-me dizendo verdade aos outros. Porque o que de mais belo que existe é aceitar os outros e (re)negando a mim. Ao contrário disso, é crueldade em forma da existência nula.

Que esta cumplicidade e proximidade com o céu continue e cada vez mais proporcione uma suavidade surpreendente que provoca arrepios pelo corpo e brilho nos olhos. Eu e o céu.

 

 

Artigo de Mamadu Alimo Djalo