O Cineteatro Messias, na Mealhada, contou com sala cheia na apresentação do filme teatro «Terra Queimada», de Paulo César Fajardo com a Caixa de Palco, que se realizou na noite do passado dia 9 de abril e colocou assim fim a um projeto que dura há quase um ano. Feito e produzido por artistas e profissionais da região, nomeadamente, do concelho da Mealhada, a produção recria os momentos da passagem das tropas francesas e anglo-lusas pelo território do município mealhadense, antes, durante e depois da Batalha de setembro de 1810, no Bussaco.
«As tropas francesas aproximam-se, o confronto dar-se-á muito em breve e a população vive momentos de ansiedade e sufoco. “Queimem tudo” são as palavras de ordem que ecoam entre o povo, sob a voz das tropas anglo-lusas que por Sir Wellington ordenados fazem cumprir a retirada dos habitantes. Era chegada a hora de deixar tudo para trás e ao abandono, havia que deixar a villa deserta e desprovida de mantimentos para que nada restasse que desse recursos de sobrevivência às tropas inimigas. Preparam-se então as nossas inexperientes tropas que, acabadas de formar como que nascidas das cinzas, se posicionam estrategicamente como defesa e suporte à iminente disputa». Foi assim há 200 anos que a passagem das tropas francesas no concelho da Mealhada se começou a desenrolar. Uma história real agora transpostada para a ficção e que tem como artistas principais João Tarrafa, Marta Pires, Joana Sarabando, Ruben Dias, Nelson Luís, Dinis e Diogo Binnema, Gustavo Caldeira, Pedro Gama, Pedo Camarinho, Joka, Iúri dos Santos, Afonso Semedo, Beatriz Guedes e Filipa Almeida.
«Estou extremamente cansado, mas muito feliz. Foram dez meses de muito trabalho, com algum covid e atribulações pelo meio», começou por dizer o produtor e realizador Paulo César Fajardo, confessando ainda: «Venho da área da reportagem e sai da minha zona de conforto para uma coisa totalmente diferente. Com estas pessoas aprendi muito acerca do caminho da representação…». Para o repórter de imagem de profissão, a história agora lançada em muito se assemelha à guerra a que o mundo assiste nas últimas semanas. «Duzentos anos depois, dou por mim a editar um filme que em muito se assemelha ao que estamos a viver agora», enfatiza.
Nuno Canilho, vereador da Cultura na Câmara da Mealhada no executivo que terminou o mandato em outubro passado, foi, segundo a atriz Marta Pires, também produtora desta obra, «o impulsionador e mentor do projeto». «Era um sonho antigo, que em conversa com a dr.ª Dora Matos (Chefe de Divisão de Turismo e Cultura no Município da Mealhada) fomos fazendo crescer. Saiu-nos a sorte grande quando foi lançado um fundo que permitia fazer alguma coisa e que, numa parceria entre Municípios, fez com que o “menino” fosse andando e crescendo», referiu Nuno Canilho, congratulando-se pelo facto «de Marta Pires ter abraçado logo o projeto, seguindo-se Paulo Fajardo». «Este há-de ser sempre o meu filho mais querido», confessou ainda.
Gil Ferreira, atual vereador na Câmara da Mealhada com o pelouro da Cultura e também ator na produção, enalteceu «a experiência que este projeto foi para as associações culturais do município. Já nada voltará a ser, neste domínio, como era antes. Foi verdadeiramente transformador». E continua: «Do ponto de vista da história e memória, o que sai deste projeto é património e estou muito orgulhoso por isso. Feliz o concelho que tem pessoas capazes de produzir um trabalho tão interessante».
A cerimónia do passado sábado contou ainda com o lançamento e apresentação do eBook «Terra Queimada», que pode ser visualizado através do sítio da internet https://caixadepalco.pt/.
Texto de Mónica Sofia Lopes
Fotografias de José Moura