A família «Dantas Martins» é uma das milhares de famílias portuguesas que tenta, desde março passado, lidar com a pandemia da melhor forma possível. Se por um lado, o tempo em família é maior, por outro, e quase um ano depois, o espaço de trabalho e de escola é o mesmo onde se come e vê televisão. T. esteve infetada com covid-19 em novembro. Nessa altura, marido e filhos testaram negativo. No início de janeiro, R. testou positivo e a esposa voltou a ter sintomas da doença, tendo testado novamente positivo. Os filhos – de 19 e 9 anos – continuam «negativos».

Em teletrabalho desde março de 2020, T., técnica de informática de profissão, nos últimos meses praticamente só sai para ir às compras. «A exceção, foi dois, três dias em que fomos à praia no verão. Chegamos a ir e voltar para trás porque estava muita gente», diz.

O setembro trouxe uma «normalização» nas rotinas, com os filhos na escola e o marido na fábrica. As coisas só mudaram em novembro. «No dia 4 fui ajudar uma familiar que dias depois testou positivo», conta-nos, garantindo que também ela, quatro dias depois, começou a sentir «um cansaço extremo e dores no corpo». «Quando a familiar me confirmou que estava positiva, liguei logo para a Saúde 24 e fui fazer o teste. No dia 11 de novembro recebi a confirmação de que estava positiva», recorda.

A residirem num apartamento, na cidade da Mealhada, e após o restante agregado ter testado negativo, a solução foi ficar em isolamento, fechada, num dos quartos. Com um histórico de bronquite asmática e infeções respiratórias recorrentes, durante o isolamento, T. chegou a ir de ambulância para as urgências do Covões, «com falta de ar e a tensão a 18». «Nessa altura, tive muitos enjoos e diarreia», disse.

Estava fechada numa divisão, enquanto o marido e os dois filhos tinham acesso a toda a casa, onde também estiveram em isolamento durante 14 dias. «Recorremos às compras online e algumas pessoas conhecidas iam nos deixando coisas à porta de casa», recorda, enfatizando o acompanhamento que teve por parte da médica de família de uma unidade de saúde em Coimbra. «Todos os dias me ligava», refere, recordando o dia 30 de novembro, o primeiro em que saiu à rua. «Estive quase 20 dias isolada. E, contrariamente, ao que ouvia falar no início da pandemia, eu tive “alta” sem fazer novo teste», afirma, acrescentando que «se sentia bem». «Tenho ideia que só sinto mais cansaço do que era habitual a fazer pequenas coisas de rotina», confessa.

O Natal foi passado em casa, os quatro, sozinhos. «O meu marido esteve em casa de 24 a 27 de dezembro, mas foi trabalhar nos dias seguintes. A 31 começou com os primeiros sintomas. Doía-lhe o corpo e espirrava. No dia seguinte começou com diarreia. Nessa altura, também eu comecei a ficar com dores no corpo e febre», continua T., afirmando que a 5 de janeiro o marido testou positivo. «Liguei para a Saúde 24, pois também já estava com diarreia e dores de cabeça fortes. Fui para os Covões, fiz teste e raio-x e vim para casa com antibiótico», acrescenta.

A 7 de janeiro, toma conhecimento que também o seu teste era positivo, tendo os filhos voltado a testar negativo. «Desta vez senti-me muito mais em baixo do que em novembro», conta-nos, adiantando que «a sua imunidade poderia estar muito baixa» e, por isso, dois testes positivos com a diferença de dois meses.

Os últimos dias foram passados, em casa, com distância dos filhos e sempre de máscara. A filha conseguiu ter acompanhamento escolar; já o filho, no 12.º ano, «foi-se esforçando por estudar sozinho para não perder tanta matéria». «Não é fácil! Quando penso na nossa situação, só me vem à cabeça a possibilidade de voltarmos ao mesmo se os miúdos alguma vez ficarem infetados. Há ainda essa possibilidade», remata.

 

Doentes ligeiros ou moderados têm «alta» ao fim de dez dias

O nosso jornal contactou a Divisão de Comunicação e Relações Públicas da Direção-Geral de Saúde que explicou que «o fim das medidas de isolamento dos doentes sintomáticos com covid-19, sem necessidade de realização de teste laboratorial para a SARS-CoV-2, em doença ligeira ou moderada, é de dez dias desde o início dos sintomas, desde que não haja utilização de antipiréticos durante três dias consecutivos» e decorra «uma significativa melhoria dos sintomas durante três dias consecutivos».

Recorde-se que, em outubro passado, a DGS publicou uma nova norma para o fim das medidas de isolamento – até então os doentes infetados só saiam de casa após testarem negativo -, em que os doentes assintomáticos ou com doença ligeira ou moderada têm alta ao fim de 10 dias, sem necessidade de realização de teste ao novo coronavírus, mas com declaração médica de alta clínica, desde que não apresentem os critérios acima descritos.

Tudo indica que a capacidade de transmissão do novo coronavírus seja reduzida ao fim de um determinado período de tempo nos casos de doença ligeira ou assintomática.

 

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

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