Na ausência de um sorriso, onde se possa ver a desconstrução

facial mais linda de um ser humano, pisca-me o olho.

Na ausência de constatar o teu agrado sobre

as minhas palavras ou ações, pisca-me o olho.

Na ausência de toques ternurentos sobre a tua pele macia,

não digas nada, simplesmente, pica-me o olho.

 

Nada mais te poderei pedir quando de mim tudo foi roubado.

Nem aproximação, nem toque, muito menos abraços ou beijos.

Se não fossem os olhos libertos de uma cobertura forçada,

ao contrário do que nos obrigam a fazer com a nossa zona respiratória,

o que seria de mim, sem a linguagem dos teus olhos?

 

Presumo que saibas a resposta. Porque de mim, é certo, não restaria nada.

Que o piscar dos teus olhos possa compensar a ausência dos toques,

numa altura em que tudo parece nublado e nada se sabe sobre nada.

E assim sigo, ausente de uma absorção normal dos ares e dos cheiros

que em mim entram sem licença. Tendo os teus olhos a dar-me sinais já é tudo.

Pisca-me os olhos na ausência de tudo. Pisca-me os olhos para compensar TUDO.

 

 

Mamadu Alimo Djaló

 

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