A segunda obra do barcoucense António Melo de Carvalho, intitulada “Gentes do Planalto”, vai ser apresentada amanhã, domingo, dia 10 de fevereiro, pelas 15 horas, no Salão Paroquial da Igreja de Barcouço. Um romance, inspirado em factos reais, e cuja receita da venda de exemplares reverterá a favor das associações da freguesia.

Há muito que as ideias “fermentavam” na cabeça de “Tó”, como é conhecido em Barcouço, mas só depois da publicação da primeira obra, em 2015, é que António Melo de Carvalho lançou “mãos à obra” sobre o primeiro capítulo de “Gentes do Planalto”. O primeiro, porque o autor promete a continuação da história para daqui a dois, três anos.

A dureza dos dias “em terras do vinho da Bairrada” desde os primeiros anos do século XX são o mote para o livro que “termina” no grande incêndio que assolou a freguesia em 2017. “No virar das páginas, sucedem-se diferentes narradores, que me desafiaram a imaginação”, explicou, ao «Bairrada Informação», António Melo de Carvalho, acrescentando que “os nomes, lugares e o contexto acabam por ser pura ficção”.

“…. Quase cinco e meia de uma madrugada do final da Primavera. Cinco mulheres ainda jovens e uma criança, descalços como sempre, em fila indiana. Já levam mais de uma hora de passada rija. Faz-lhes companhia o ar fresco dos pinheirais que ladeiam o caminho…”. É desta forma que o escritor, na história a criança que tantas vezes foi, a pé, com a mãe de Barcouço até Pampilhosa, Cantanhede, Luso e Coimbra, para vender os produtos que a progenitora carregava à cabeça, retrata em romance “aquilo que foi real!”.

E de toda a obra, a descrição que mais entusiasma Melo de Carvalho é a dos banhos em presas de água na localidade mais a sul do concelho da Mealhada. “Ouvíamos falar do mar. Descreviam-nos como sendo de uma grande imensidão e achávamos que poderia ser parecido com as águas das históricas cheias do rio Mondego”, descreveu.

O livro, lançado em Barcouço este domingo, será depois apresentado no Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes, no dia 16 de fevereiro, pelas 15 horas, e no  Clube Militar de Oficias de Coimbra, no dia 28 do mesmo mês, pelas 12h 30m. Com um custo de dez euros, os lucros obtidos reverterão para as associações da freguesia de Barcouço.

Foi nesta localidade que António Melo de Carvalho nasceu a 18 de agosto de 1940 e onde frequentou o ensino primário. Daqui partiu para o seminário na Figueira da Foz de onde só saiu para o Liceu de Coimbra.

Em 1960, entra para Academia Militar, onde enquanto Coronel comandou duas comissões no Ultramar: uma na Guiné e outra em Moçambique.

A passagem por Bissum, na Guiné-Bissau, foi aliás o mote para a primeira obra intitulada “Paz e Guerra”, onde o autor descreve os tempos passados como capitão de uma Companhia com cento e oitenta homens. “Orgulho-me muito de ter estado lá desde o primeiro dia de guerra até ao último e ter trazido todos os militares de volta para Portugal. Nem um lá ficou!”, enalteceu, enfatizando o facto de terem construído duas escolas para duzentas e cinquenta crianças, enquanto nos mostrava uma fotografia de um furriel “seu” a ensinar a tabuada aos meninos que o ladeiam na imagem.

Com a obra “encerrada” e o livro na rua, António Melo de Carvalho contou-nos ainda que por força de uma coincidência, “coisas inexplicáveis”, conheceu um médico, que exerce a profissão em Santarém, chamado de “Melo de Carvalho”, e que hoje é seu amigo de casa. “É tão somente o filho do padeiro que nos fornecia o pão todos os dias em Bissum e que tem este nome pela consideração que o seu pai tinha pela nossa Companhia durante aquele período”, descreveu-nos ainda com muita emoção nas palavras.

 

Mónica Sofia Lopes