“Sou diferente dessa gente, que anda ai a passear” não foi certamente por “Meracaso” que o destino ditou que o João, o “Macaca”, cantasse isto na Queima das Fitas, em Coimbra, em 1992. Fê-lo porque a ambição que tinha pelo mundo das Artes vingou, quase sempre, em tudo aquilo “onde se meteu”. E foi assim, até ser vítima de uma doença que o impediu de continuar o caminho. Um caminho cheio de ideias, cheio de teorias, repleto de vida…
Foi na manhã do dia 2 de dezembro, curiosamente no Dia dedicado ao Samba, que João Fernando Lopes de Oliveira, de cinquenta e seis anos, faleceu na Unidade dos Cuidados Continuados do Hospital da Misericórdia da Mealhada. Foi vítima “daquela” doença mortal que todos acabamos por nem querer dizer o nome, por tanto a temermos….
O João, o “Macaca”, era filho de António de Oliveira, também conhecido pela mesma alcunha e fundador daquele que viria a ser o Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada. Ligado ao samba desde sempre, pelas fortes raízes familiares transmitidas pelo pai, João de Oliveira fundou a escola de samba Sócios da Mangueira, associação pela qual erguia a bandeira por onde passasse. Esteve ligado a esta escola trinta e oito anos e, há mais de uma década, em viagem ao Brasil, visitou a escola de samba Mangueira, sediada no Rio de Janeiro, realizando, assim, um sonho que tinha.
Gostava de samba, mas também gostava de cinema, de teatro e de música. Integrou a banda musical “Meracaso”, nos anos noventa, grupo constituído por “amigos” oriundos da Bairrada. Com formação académica na área do Português e Línguas Estrangeiras, foi sempre o mundo das Artes que fascinou o João, tendo, há poucos anos, frequentado o curso de Estudos Artísticos na Universidade de Coimbra.
Mas voltemos à Mangueira, aquela “família”, que o deixava tão feliz….
Escreveu ele, o sócio número dois da primeira escola de samba a existir no concelho da Mealhada, em 2013: “Um grupo de amigos que a um certo dia fatídico de 1978 decidiu desfilar no Carnaval. (…) Orgulho, orgulho, claramente orgulho de ser Mangueirense”.
Um sentimento sempre transmitido a “quem chegava” e, por isso, não será difícil imaginar que, nas últimas horas, a rede social mais conhecida do mundo tenha sido “inundada” de mensagens, de condolências, mas também de força para se continuar o trabalho, que começou ali, naquela pessoa… no João.
“(…) Se hoje poderíamos festejar o Dia (Mundial) do Samba – 2 de dezembro – é porque um dia foste capaz de criar os Sócios da Mangueira, esta grande família que tanto te adora e respeita!”, lê-se na página oficial dos Sócios da Mangueira.
O João deixou a Mealhada, o samba e as artes. Seguiu, a 3 de dezembro, da cidade “adorada” para o Crematório da Figueira da Foz…. Mas o João deixou uma marca, uma história que, todos nós, cada um à sua maneira, deve perpetuar até porque “UMAS PESSOAS MARCAM TEXTOS, OUTRAS MARCAM VIDAS…”
E eu, ó João, quero com este texto deixar uma marca pela vida que “nos” deste, mesmo tendo plena consciência de que uma folha de word não “conta” nem dois por cento…
Editorial de Mónica Sofia Lopes