A noite do passado sábado foi de festa no Velódromo de Sangalhos, onde para além do Município de Anadia ter prestado o anual reconhecimento de Mérito Desportivo aos atletas e clubes anadienses, foram comemorados os quinze anos do Centro de Alto Rendimento de Anadia. Iuri Leitão, o primeiro atleta português a vencer duas medalhas numa edição de Jogos Olímpicos – em agosto deste ano – não faltou à cerimónia, precisamente no local onde esteve, com o seu par Rui Oliveira, uma semana antes de rumar a França, em treino de tática, que os levou à medalha de ouro na prova de Madison.

São algumas modalidades – como ginástica, esgrima e judo – que treinam no Velódromo de Sangalhos, sendo a grande procura para o ciclismo. Não é de estranhar, assim, que só em 2023, o espaço tenha recebido 9.525 atletas de 67 nacionalidades diferentes. Em 15 anos, passaram pela infraestrutura – Centro Satélite Europeu do World Cycling Centre por decisão da União Ciclista Internacional – 93 mil atletas e só nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foram alcançadas 26 medalhas olímpicas (oito de ouro, sete de prata e onze de bronze) e 15 medalhas paralímpicas (quatro de ouro, seis de prata e cinco de bronze) por desportistas que incluíram o CAR Anadia na sua preparação pré-jogos.

Se o poder central em vigência, em 2005, tivesse financiado a intenção da Autarquia de Anadia num complexo desportivo com campo de futebol, pavilhão, etc., hoje possivelmente não existia um CAR no concelho. A história foi contada por Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto no ano em que o Velódromo foi inaugurado, que refutou ter negado a intenção, «uma vez que o Governo não estava disponível para financiar mais do mesmo», admitindo, por sua vez, ter desafiado o executivo de então para a construção de um Velódromo que Portugal não tinha. «Na altura, os nossos atletas diziam que não tinham condições para treinar ao nível europeu, mundial e olímpico e, na verdade, só o Governo tinha condições para lançar obras deste tipo», afirmou, na Gala do último sábado, acrescentando que, na altura, a pergunta era simples: «Anadia não tem em Sangalhos a pátria do ciclismo, com empresas do setor à volta?».

Decisão tomada, «foi preciso ultrapassar muitos obstáculos». «Um dia à noite telefonam-me a perguntar se não estava a ver no telejornal um homem em cima de uma camioneta a lutar contra o encerramento de um centro de saúde? “Não é neste concelho que estas a construir uma obra de milhões?”, perguntaram-me. Agora digo sim e aqui está essa obra passados 15 anos», contou, manifestando-se «feliz e comovido».

«Hoje o problema é gerir a quantidade de procura que temos», enalteceu Jorge Sampaio, vice-presidente da Autarquia de Anadia, garantindo que «já estamos a trabalhar no próximo ciclo olímpico e não há melhor reconhecimento do que as medalhas que se conquistam a partir daqui».

Através de um vídeo, o primeiro-ministro Luís Montenegro descreveu o CAR de Anadia «como um equipamento emblemático a nível nacional», exemplo de como «vale a pena investir e criar condições». «Se há coisas bonitas que vejo na minha vida quando olho para trás, é este velódromo. Obrigado!», referiu também Artur Lopes, presidente do Comité Olímpico de Portugal.

Iuri Leitão confessou, aos jornalistas, que depois da sua casa, «é aqui (Velódromo) onde passo mais tempo». «Neste sítio fazemos todo o trabalho técnico e, na semana antes, de irmos para França fizemos treinos muito específicos, com simulação do que faríamos lá», destacou o atleta, que está na seleção há cinco anos, declarando que, depois do ouro, o objetivo «é continuar a trabalhar».

 

«Este espaço não pode estar a cargo apenas do Município de Anadia», apela autarca

«Há cerca de 18 anos, quando se pensou nesta infraestrutura fizemo-lo com visão futura e depois de muitos estudos», referiu Maria Teresa Cardoso, presidente da Câmara de Anadia, lamentando, contudo, a falta de apoio.

«Quando construímos o CAR tivemos em conta que não seria apenas útil para atletas e modalidades, mas também um motor de desenvolvimento. O que parecia uma loucura, hoje é uma aposta ganha», enalteceu a autarca, referindo, contudo, que «para conseguirmos manter estas instalações precisamos de apoio». «Este espaço, utilizado pelos cinco continentes, não pode estar a cargo apenas do Município de Anadia», sublinhou.

Pedro Dias, secretário de Estado do Desporto, falou em «coragem e visão» para a construção do empreendimento, revelando ter «ouvido com atenção» o discurso da edil. «Gostamos de saber que estas infraestruturas contribuem para o desenvolvimento», enalteceu.

 

Espumante «olímpico» em homenagem aos 15 anos do CAR de Anadia

Para marcar a cerimónia e presentear os convidados foram produzidas mil garrafas de espumante com designer «olímpico», elaborado pelo artista anadiense Pedro Silva e engarrafado pela Quinta dos Abibes.

Batel Marques, da Quinta dos Abibes, referiu, aos jornalistas, que foi um desafio lançado pela Câmara de Anadia. «Um espumante, extra bruto reserva, de 2022, com as castas arinto e baga, que estagiou durante 16 meses e que agora foi lançado especificamente para o 15.º aniversário do Centro de Alto Rendimento de Anadia», disse, acrescentando ainda que o momento «é mais uma promoção ao espumante e à Bairrada».

«A inspiração vem deste edifício e das suas pistas. O rótulo foi produzido com material mineral, 95% à base de cal e o conceito apesar de ser todo o mesmo, não tem um rótulo igual», declarou Pedro Silva, enfatizando que, por tudo ter sido feito manualmente, «todos imprimem uma dinâmica diferente, em que cada pessoa olha e faz a sua interpretação».

 

Mónica Sofia Lopes