José Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, lidera os destinos desta entidade desde 2012. Ao nosso jornal abriu as portas do trabalho diário que faz há seis anos, numa região que hoje começa a ver frutos de um trabalho de “reinvenção” após uma quebra abrupta no mercado nos anos noventa. Hoje os números de produtores, produção e certificação aumentaram, sendo os espumantes a bandeira da Bairrada e onde mais se produz este tipo de vinho em todo o país.
“Se há produto que nos distingue é o espumante”, começa por dizer José Pedro Soares, falando da região do país “onde mais espumante se produz”, onde existem mais empresas a produzi-lo “num curto espaço geográfico” e o que “tem mais ‘know-how’ nessa produção”.
Um interesse que vai mais além do território de seis mil e quinhentos hectares na Bairrada, uma vez que “existem empresas, de Norte a Sul do país, a enviarem os seus vinhos para serem cá espumantizados”.
E só nesta região demarcada, que fica entre Aveiro e Coimbra, existem “ vinte e oito castas autorizadas”, fugindo assim, de outros tempos, em que havia sete nas tintas e seis nas brancas… Hoje são variadas e vão desde Maria Gomes a Cercial nas brancas até Baga e Touriga Nacional nas tintas. “Mas é efetivamente a Baga que nos diferencia, é a nossa casta tradicional”, referiu o presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, elogiando a região “que é composta por castas muito diversas”.
O segredo para o sucesso dos vinhos da Bairrada, José Pedro Soares acredita passar por três fatores essenciais: os solos argilo-calcários; a proximidade do atlântico com um clima adequado ao desenvolvimento das plantas; e as pessoas da região rotuladas “de muito viajadas”.
“A mancha de solo argilo-calcária é muito forte na Bairrada e sabe-se que este tipo é o melhor para a produção de vinhos, especialmente os tintos”, explicou, adiantando que “a proximidade ao Atlântico tem influência principalmente nos meses antes da colheita”. “As noites são frescas e as manhãs húmidas, mas os dias são de calor, o que permite fazer desaparecer os problemas que possam estar associados à planta em contacto com a humidade”, disse.
Por último, o presidente da CVB coloca a tónica nas “pessoas”. “Se há região onde o conceito de ‘terroir’ faz sentido é aqui…”, diz, garantindo que “na Bairrada as pessoas sempre foram bastante viajadas e a interpretação e os vinhos que produzem tem muito a ver com o conhecimento que têm do mundo”.
A CVB tem cem produtores inscritos: setenta são da Bairrada e os restantes de produtores que certificam ali vinhos da Beira Atlântico. São exemplo Terras de Sicó, Lousã e Sever de Vouga. As sete dezenas da Bairrada representam, contudo, três mil viticultores. “Muitos deles têm menos de meio hectare de parcela de terreno”, afirma.
Mas o que mais se destaca na região da Bairrada são os números, onde a média dos últimos três anos ronda os vinte e oito milhões de litros de produção anuais. Destes apenas oito estão certificados. “Se por um lado, lamentamos que haja tanto potencial ainda por certificar, por outro significa que temos muito trabalho a fazer pela frente”, enfatizou Pedro Soares, relembrando que “há quatro anos apenas tinham cinco milhões em certificação”.
O ano de 2017 foi bom, uma vez que houve um aumento de todas as categorias de vinhos da Bairrada – Tranquilos, Espumantes, Beira Atlântico e Bairrada –, sendo inclusive a região que mais cresceu nos últimos dois anos. “No caso dos espumantes, por exemplo, há quatro anos não certificávamos um milhão, em 2017 ultrapassamos os dois milhões”.
Texto de Mónica Sofia Lopes
Fotografias de Gonçalo Villaverde