A Destilaria do antigo Instituto da Vinha e do Vinho, na Mealhada, foi o epicentro de uma visita que pretendeu assinalar o Dia Mundial do Enoturismo. A «guiá-la», para cerca de uma dezena de participantes, esteve Carlos Jaime, antigo funcionário Junta Nacional dos Vinhos, posteriormente designada de Instituto da Vinha e do Vinho. A iniciativa foi promovida pelo setor do Turismo do Município da Mealhada.
Foi Dora Quintans, precisamente do setor turístico, quem fez o enquadramento histórico. «Tudo começou em 1867. Joaquim Lopes Carreira, com a ajuda do genro Adriano Baptista Ferreira, fundou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas e do Comércio, que pretendia proteger a qualidade dos vinhos da Bairrada», disse, sublinhando que «a região se afirma como produtora de vinhos de grande qualidade em 1883», quando estes começam a arrecadar muitos prémios.
«É já nos anos vinte, que nasce a União Vinícola da Bairrada. Messias Batista, fundador das Caves Messias, fazia parte desta organização», continuou, recordando a criação da Junta Nacional dos Vinhos, em 1937, onde para além de se pretender proteger o setor, também se queria «regularizar o mercado do vinho». Com a adesão de Portugal à Comunidade Europeia, que começou a vigorar em 1986, a Junta adaptou-se às novas funções no que se refere à reestruturação dos organismos de coordenação economia, sendo substituído pelo Instituto da Vinha e do Vinho, que fechou portas, na Mealhada, em 2004.
Mas a este organismo chegaram vinhos brancos e tintos, sendo que os que não fossem tão bons passavam por um processo de destilação, que originava aguardente. Foi precisamente no local, em que era feita essa destilação, que decorreu a visita, onde foi explicado que «as pessoas realizavam o seu manifesto de venda do vinho, com indicação da quantidade. Havendo interesse, o produto era avaliado e pesado, permanecendo em tunas, onde era colhida uma amostra para avaliação». Se o vinho tivesse classificação 1 ou 2 poderia ser vendido às Adegas; os de 3 ou 4 seguiam para o processo de destilação.
Os de pior qualidade iam logo para a caldeira a alta temperatura, para originar aguardente vínica, passando por uma avaliação de hora a hora, num processo em que as temperaturas ultrapassavam os 70 graus. Carlos Jaime explicou que «os vinhos eram todos da Bairrada e envelheciam durante oito anos em cascos de carvalho», numa altura em que chegaram a ter 200 cascos, «fazendo-se então a proposta para engarrafar alguns frascos». «Sete cascos de vinho davam uma aguardente», recordou.
O «guia» desta viagem vínica, também afirmou que nos anos de 1974, 75 e 76 o excedente de vinho era tanto, que se começou «a destilar vinhos para vários pontos do país». «Foi uma época em que tínhamos armazéns em vários locais da Bairrada e em que chegamos a vender vinho para a Rússia, num carregamento que partiu de Poço do Bispo a 26 tostões o litro».
Filomena Pinheiro, vice-presidente da Autarquia, referiu que este tipo de iniciativas «fazem perdurar a memória da nossa história. Grande parte dos nossos jovens passam aqui e nem sabe o que existiu cá dentro». Palavras corroboradas por Victor Lobo, oriundo de Coimbra, que participou na visita «por se interessar por tudo aquilo que sejam visitas ao património, em todas as suas vertentes. «Não conhecia este espaço, mas gostei muito da descrição e da sua história. Sou químico e naturalmente aprecio aguardente vínica», referiu.
Durante a tarde de ontem foi também feita uma visita às caves «Da Mina», em Luso, com a participação de meia centena de pessoas.
Mónica Sofia Lopes