O Município da Mealhada levou a cabo mais uma visita guiada, desta vez, pela «Mealhada e os seus caminhos», centrando-se, essencialmente na cidade e na sua situação geográfica, como encruzilhada de caminhos. A atividade não esqueceu Dr. Costa Simões – impulsionador da construção do edifício da Câmara da Mealhada, precursor da Misericórdia da Mealhada e fundador dos Banhos de Luso – e a Quinta do Murtal, onde viveu até 1903, altura em que faleceu. Um dos casais participantes na «viagem», oriundos de Cascais e de passagem pela vila de Luso, enalteceram este tipo de iniciativas.
A cidade da Mealhada é atravessada pela ferrovia, pela antiga Estrada Nacional 1, mas também pelos caminhos da espiritualidade, como os de Santiago e de Fátima. Foi, aliás, a partir daqui que nasceu o negócio do leitão, que era «como uma oferta gastronómica ao viajante que passava na Nacional 10», começou por explicar Lurdes Carvalho, técnica de turismo, que centrou o percurso da visita nessa estrada, a responsável pelo «nascimento» da Mealhada, onde hoje se localizam as Ruas Visconde Valdoeiro e José Cerveira Lebre.
É nesta última rua que se situa a casa, de finais do século XIX, que pertenceu à escritora Maria da Nóbrega, uma das mulheres mais progressistas do início do século XX. Nascida em 1875, na Mealhada, numa família abastada, dominava com segurança a arte de bem escrever português, possuindo uma formação cultural alicerçada nos clássicos. Iniciou a sua carreira literária no Jornal O Bussaco, em 1902, e, em 1925, com as escritoras Ana de Castro Osório e Sara Beirão, passou a escrever nas revistas Eva, Modas & Bordados, Voga e Magazine Bertrand. Em 1930 publica o seu primeiro livro de contos «Fumo nos Casais». Na mesma rua situam-se também o edifício dos Correios, «típico do Estado Novo»; a Capela de São Sebastião, que data de 1621 e onde os caminhantes de Santiago «têm o seu ponto de paragem e reflexão».
Já no centro da cidade, a guia turística destacou o edifício onde está instalado o Tribunal, proveniente da «Família Lebre», com os Paços do Concelho em frente, onde neste se vê o Marco Miliário XII (Estrada romana «Olisipo / Bracara», Troço «Aeminium – Cale», ligação Lisboa – Braga). No largo do Jardim Municipal é também visível a Farmácia Brandão «com azulejo de Arte Nova que, sobretudo, no distrito de Aveiro é florescente», continuou Lurdes Carvalho.
A visita terminou na Quinta do Murtal, já do outro lado da ferrovia, habitação do Professor Doutor António Augusto da Costa Simões, até 1903, altura em que faleceu. Professor na Faculdade de Coimbra e Reitor da Universidade de Coimbra, «Costa Simões» foi o impulsionador da construção do edifício da Câmara da Mealhada, precursor da Misericórdia da Mealhada e fundador dos Banhos do Luso.
Ana Maria Lopes, oriunda de Cascais, mas que visita a vila de Luso «sempre que pode», confessou-nos ser esta uma zona que gosta muito. «Costumamos vir, eu e o meu marido, espontaneamente, por causa do cheiro, das Termas, da paz, das pessoas e da gastronomia», enalteceu, explicando que, no ano passado, fizeram pelo Luso «uma visita com a mesma guia e hoje ao falarmos com ela, percebemos que havia este percurso pela Mealhada e resolvemos vir».
«É uma iniciativa excelente, em que ao fazermos este caminho, ficamos a conhecer a Mealhada e um pouco da sua história, com o requinte de ser um passeio gratuito», congratulou a visitante, garantindo que o passeio «fez toda a diferença no nosso fim-de-semana prolongado».
Texto de Mónica Sofia Lopes
Fotografias de Bernardete Gomes