Um dos projetos já no terreno, implementados no concelho da Mealhada, é o do «CompostaME», apoiado por uma candidatura ao Fundo Ambiental, e que visa a valorização dos biorresíduos (restos de comida) evitando que estes entrem no circuito de resíduos indiferenciados para aterro. «O que pretendemos com este projeto é reduzir drasticamente o lixo que vai para aterro. Quanto menos lixo colocarmos no indiferenciado, o chamado “contentor verde”, menos pagaremos no futuro», explica o presidente da Câmara da Mealhada, enfatizando que «as pessoas não vão receber dinheiro, mas vão ver na sua fatura o resultado de fazerem separação dos resíduos e compostagem em casa».
A distribuição de cerca de duas centenas de compostores domésticos começou pelas escolas do Município, seguindo-se Instituições Particulares de Solidariedade Social, particulares e moradores em apartamentos, que através de uma inscrição conseguiram receber um pequeno recipiente, que depois de cheio, pode agora ser depositado numa das doze ilhas de compostagem comunitária, existente em diversos bairros espalhados por todo o concelho. O projeto das ilhas comunitárias começou com um milhar de baldes disponíveis e incluiu sessões de esclarecimento presenciais e online.
«Com um investimento que ronda os 66 mil euros, na Mealhada, este projeto de valorização dos biorresíduos surgiu no âmbito de uma candidatura conjunta ao Fundo Ambiental, levada a cabo pelos dezanove municípios que compõem a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra», que garantiu, no caso da Mealhada, um financiamento de 43 mil euros, sendo o restante valor suportado pela Autarquia.
«Apostamos muito neste projeto. Eu sou um defensor da compostagem e pratico-a há muitos anos. É muito importante eliminar estereótipos, como a ideia de que origina moscas e odores. Feita de forma correta – que, na verdade, é um processo muito simples -, consegue-se criar fertilizante vegetal natural – uma “terra” sem cheiro, mas muito rica em nutrientes -, sem qualquer incómodo e com inúmeros benefícios ambientais e económicos, na medida em que se reduz a fatura paga com os resíduos indiferenciados para aterro; “elimina” os fertilizantes sintéticos e ajuda na criação de um solo mais fértil. É destes solos que, posteriormente, iremos colher os legumes e frutas que vão voltar a estar nas nossas cozinhas», explica António Jorge Franco, acrescentando que «nos últimos anos, a Taxa de Gestão de Resíduos (visível na fatura da água) sofreu grandes aumentos, juntando a isto o que pagamos de transporte para que o lixo não seja abandonado, chegou a altura de começarmos a agir de outra forma». «Se continuarmos a tratar o lixo de qualquer maneira, não vai haver aterro nenhum que aguente. Este cuidado, bem como a separação dos resíduos, está nas mãos de todos», apelou.
Mesmo antes de estar implementado no terreno, o «CompostaME» já se fazia «ouvir» na comunidade, através de quinze jovens, embaixadores do mesmo, que tiveram formação sobre compostagem, em abril do ano passado. «Aprendemos as regras básicas da compostagem para conseguirmos, depois, explicar às pessoas. Regras como a proibição de colocação de gorduras e produtos animais nos compostores, seja penugem ou dejetos, o equilíbrio entre a humidade e temperatura e as orientações para quem faz compostagem numa moradia ou quem faz num apartamento, onde as condicionantes são diferentes», explicou, na ocasião, Mariana Paranhos, uma das jovens participantes.
O projeto mereceu apoio e foi destacado «com grande mérito» precisamente pela inclusão dos jovens. «O interessante nesta ação foi a perceção de que a compostagem é muito mais simples e fácil do que inicialmente pensavam», sublinha ainda o edil.
A Autarquia da Mealhada tem investido neste setor, sendo exemplo disso, a aquisição, no último ano, de uma viatura de recolha de resíduos urbanos – Projeto Mealhada Porta a Porta, a aquisição de viatura de recolha de biorresíduos equipada com sistema de lavagem de contentores – Projeto Mealhada e Biorresíduos e a aquisição de cilindro compactador.
A recolha já começou centrando-se, nesta primeira fase, na restauração e hotelaria do município, estando identificados, no passado mês de abril, 150 locais – Canal Horeca, nas escolas, nas indústrias com cantina, nos hotéis e em todos os produtores de biorresíduos, cuja produção o justifique – para receção de baldes de vinte litros e contentores de 120 com pedal e identificador. Ao nível do setor residencial, o Município dará prioridade aos grandes produtores de biorresíduos do concelho, designadamente, os edifícios em propriedade horizontal, estando prevista a distribuição baldes e contentores em 1.324 alojamentos. Só com esta recolha, estimada em 450 toneladas por ano, prevê-se que se consiga reduzir em cerca de 6% o volume de resíduos enviados para resíduos indiferenciados, já neste primeiro ano de 2024.
Texto de Mónica Sofia Lopes
Fotografia com Direitos Reservados