Chegou à Câmara da Mealhada, enquanto presidente, depois de eleito em setembro de 2021 pelo Movimento Independente Mais e Melhor, numa Autarquia que não lhe era desconhecida, tendo sido, num mandato liderado pelo socialista Carlos Cabral, vereador responsável pelos pelouros do Desporto, Juntas de Freguesia, Resíduos Sólidos Urbanos, Rede Viária, entre outros. Foi ainda presidente da Fundação Mata do Bussaco e o mentor da Feira de Artesanato e Gastronomia do Município da Mealhada, certame que fez «renascer» novamente em 2022. Cerca de um ano e meio do final do mandato, o autarca leva a cabo o término de obras que já decorriam quando chegou aos destinos desta Autarquia e avança com novos projetos, nomeadamente, a requalificação da Quinta do Murtal, na Mealhada; criação de uma praia fluvial na Ferraria, em Barcouço; bem como dar uma nova «vida» ao rio Cértima, num projeto conjunto com o Município de Anadia, desde a sua nascente em Santa Cristina até à Curia.

 

 

O que foi feito até agora com aplicação de fundos comunitários e do Plano de Recuperação e Resiliência?

No PRR fizemos vários projetos, já aprovados, nomeadamente no que tem a ver com acessibilidades, mobilidade e ambiente. Procedemos a uma intervenção na Praça do Choupal e em várias pracetas por todo o concelho – entrada de Luso, Rua dos Moinhos e as zonas centrais de Ventosa do Bairro, Antes, Casal Comba e Barcouço – e também junto ao Chalet Suisso. Colocámos elevadores na Casa da Juventude e queremos colocar um elevador no Tribunal da Mealhada, no valor de cerca de vinte mil euros.

Vamos agora entrar na obra da Escola Básica 2 da Mealhada no valor de cinco milhões de euros, verba que sofreu um grande aumento devido a uma nova lei que exige uma análise e construção de um projeto sísmico.

Também ao PRR fizemos uma candidatura, no valor de três milhões e meio de euros, que obteve 20 valores, para intervenção nos polos de Luso, Vacariça e Pampilhosa, bem como do Centro de Saúde da Mealhada, excetuando Barcouço, que é um edifício mais recente.

Ao mesmo fundo europeu candidataremos a Esplanada do Jardim da Mealhada, que está já em fase avançada.

 

No mesmo âmbito, houve candidatura ao Programa 1.º Direito, de Apoio ao Acesso à Habitação.

Sim, através da Estratégia Local de Habitação da Mealhada, para habitação a custos controlados, prevemos a construção de fogos na Póvoa da Mealhada, na Pedrulha, no Bairro Ferroviário da Pampilhosa e requalificação do Bairro do Canedo.

 

Relativamente ao Fundo Ambiental…

Ao Fundo Ambiental temos o projeto de requalificação do rio Cértima e seus afluentes, no valor de um milhão e 300 mil euros em conjunto com o Município de Anadia, numa vertente ambiental e de lazer, desde a nascente junto a Santa Cristina até à Curia. Queremos dar vida ao rio, que está abandonado, fazendo limpeza, colocando árvores ribeirinhas e criar um caminho ciclável.

Queremos valorizar o rio e garantir que a biodiversidade se mantém, ter um espaço onde se possa pescar e em que os próprios proprietários de terrenos confinados com o rio sintam vontade de investir e intervir.

Pensamos pavimentar algumas zonas para que as pessoas possam vir de bicicleta ou até mesmo a pé, desde a Pampilhosa até à Mealhada, à beira-rio.

 

 

Que obra ou projeto especialmente importante para o concelho foi executada?

Uma grande intervenção foi a retirada de águas dos nossos edifícios municipais, nomeadamente, no Arquivo, Cineteatro e Pavilhões, onde chovia. Ainda não conseguimos tudo, mas estamos a trabalhar.

 

Qual é a aposta para a reta final do mandato?

Temos várias apostas, mas uma das que mais me deixaria feliz em deixar como marca é a da Quinta do Murtal, na Mealhada. Queremos recuperar o edifício, onde habitaram vários presidentes de Câmara, uma obra que dignifique o concelho e que seja um local de receção de entidades externas.

Queremos facilitar a deslocação até à zona desportiva e ao Mercado, através desta Quinta, abrindo um corredor e fazendo um parque, livre durante o dia e fechado de noite. No fundo, criar uma zona nobre mantendo o jardim, desenvolver um espaço para espetáculos (de entradas controladas) e uma zona de casinhas de animais. Assim como queremos criar um acesso fácil a partir do centro da cidade, também o queremos fazer para quem vem da zona da Antes.

A isto juntar-se-á uma intervenção nas laterais da passagem pedonal na linha da ferrovia, onde se possa passar facilmente com bicicletas, bem como a colocação de cadeiras elevatórias para pessoas com mobilidade reduzida, facilitando assim a passagem.

Mesmo ali, temos também o edifício dos Coutos, adquirido pela Autarquia, que será um espaço para dar resposta a necessidades de emergência, num projeto conjunto com a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra e a Segurança Social.

Para ambas as situações já apresentamos as respetivas candidaturas.

 

Tem também a intenção de alargar a Zona Industrial da Pedrulha, na freguesia de Casal Comba.

Já estamos na fase de aquisição de terrenos e a preparar as escrituras. Esperemos que, até ao final deste ano, haja obra no terreno nestes catorze hectares de ampliação.

É uma grande necessidade porque, neste momento, não temos um metro quadrado para vender em qualquer Zona Industrial do concelho. Lutamos todos para alterar o Plano Diretor Municipal e a verdade é que ao fim de dois anos e meio já estamos a falar em obra. Tivemos um grande apoio dos proprietários que consideram esta expansão um bem para o concelho e daí terem consentido a sua venda.

Em paralelo, estamos também a andar com o processo da Zona de Viadores, fazendo o levantamento topográfico, cadastro e avaliação. Aqui ainda teremos que fazer projeto, mas julgo que até final de 2025 o processo estará em andamento.

 

Uma grande novidade será a intenção de praias fluviais no concelho, com a da Ferraria já em «andamento»?

A Ferraria, na freguesia de Barcouço, deve ser o sítio onde mais água nasce no concelho, rebentando em vários pontos. Para além disso, estamos a falar de uma aldeia em que a população está muito envolvida nos projetos locais. Em concreto, queremos para ali um espaço ambiental que valorize a região através de uma praia fluvial e, sendo uma zona muito fustigada por incêndios, será um ponto de abastecimento de água por via aérea e terrestre. Já adquirimos os terrenos e estamos em fase de projeto, num processo que está a ser acompanhado pela Agência Portuguesa do Ambiente. O objetivo é que em 2025 se possa ali tomar banho ou pelo menos em fase avançada de obra.

A intenção é depois poder fazer algo semelhante em Barrô, Santa Cristina e Várzeas. Com isto, estamos a criar qualidade de vida no concelho e a dizer aos munícipes que podem ficar no concelho usufruindo do tanto que temos de bom, por outro lado também estamos a trabalhar para trazer pessoas de fora.

 

Outra grande empreitada é a do Chalet Suisso, na vila da Pampilhosa?

Uma obra que se prevê que esteja concluída neste mandato e que não estava na estratégia eleitoral do Movimento Independente Mais e Melhor, mas que admito que conseguiremos ter ali um bom espaço. É um projeto que vamos candidatar ao Centro 2030 e que pretendemos que seja um Centro Interpretativo ligado à ferrovia e à história da Pampilhosa, no fundo um espaço cultural

O emblemático edifício marca a paisagem da Pampilhosa, especialmente o cenário em frente ao Pontão da Estação de Caminhos de Ferro. Foi, aliás, nesta estação ferroviária que se deu o primeiro encontro entre a princesa D. Amélia de Orleães e D. Carlos de Bragança a 19 de maio de 1886, que pernoitaram nesse dia no Chalet Suisso, hotel onde a família real se hospedava quando visitava a região beirã e que era propriedade do empresário suíço de Paul Bergamim.

A empreitada foi consignada em outubro de 2022 e inclui trabalhos de restauro, de estuques, pinturas e outros revestimentos, de carpintaria, de canalizações e condutas, de ajardinamentos, de instalações elétricas, de infraestruturas de telecomunicações, de sistemas de extinção de incêndios, de segurança e de deteção, de instalações de elevação, de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração, e de impermeabilizações e isolamentos.

Foi uma obra que acolheu muitas horas dos nossos dias e tem um valor incalculável, que se traduz em dois milhões e meio de euros. Tivemos ali surpresas agradáveis com apontamentos que estavam escondidos, nomeadamente, alguns frescos que vão aparecendo. Há lá um teto, por exemplo, que me fazia lembrar alguma coisa e é igualzinho a um outro que vi no Campo Pequeno em Lisboa.

 

O novo edifício dos serviços camarários será também algo a encerrar neste mandato?

O novo edifício dos Paços do Concelho tem um custo de sete milhões de euros e é uma obra lenta, que o nosso executivo teria escolhido outro projeto, que contemplasse estacionamento subterrâneo e tivesse uma ligação ao edifício antigo, onde estamos agora. Obviamente que esta nova obra dará uma melhor resposta aos serviços, mas vai afastar-nos do espaço atual.

O que pretendemos fazer é recuperá-lo (o atual edifício) e meter ao serviço da Assembleia Municipal, com gabinetes para os deputados das várias forças partidárias, pois é algo que faz muita falta à democracia, a possibilidade de os eleitos locais conseguirem também receber os munícipes

Apesar do atraso da empreitada do novo edifício, a intenção é que no próximo ano possamos estar a preparar a mudança.

 

Que outra obra ou projeto, por executar, destacaria?

Sinceramente, o que pretendo é deixar o concelho com uma estratégia para o futuro, que envolva todas as gerações e que seja de continuidade.

 

Nos primeiros dois anos de mandato repetiu, várias vezes, que a gestão estava “confiscada” a projetos e obras pensadas pelo anterior executivo. Começa agora a respirar…

Houve ali obras muito trabalhosas, como foi o caso das Piscinas e do Mercado, e isso acabou por atrasar o nosso plano político. O Mercado, mesmo sendo uma obra do anterior mandato, é uma excelente resposta não só para quem vende, mas para quem cá vive. Eu teria executado em outro local e com outro tipo de construção, mas estando assim, temos é que o dinamizar e se possível abrir diariamente, de segunda a domingo. Sabemos que é um processo lento, mas o passo seguinte é o de se proceder a atividades culturais.

 

O Carnaval é uma das grandes bandeiras do concelho que a Autarquia continuará a apoiar?

É um extraordinário projeto cultural e uma marca muito forte que os munícipes devem abraçar, pois envolve crianças e foliões com mais idade, juntando num só evento milhares de pessoas. É um Carnaval muito profissional feito por carolice e amadores, em que se nota que lhes está no sangue o orgulho comensurável com que o fazem. As escolas de samba são a parte integrante deste Carnaval.

Sou da opinião que os órgãos sociais da Associação de Carnaval da Bairrada deviam ser integrados por elementos das quatro escolas de samba e deixo a garantia, porque às vezes parece existir algumas dúvidas, de que todo o dinheiro que a Câmara investe no Carnaval é controlado e auditado, sendo que grande parte já vai diretamente para as escolas de samba, através de protocolo.

 

As «4 Maravilhas» nasceram com António Jorge Franco. Quando regressou à Câmara, agora como presidente, como estava a marca?

Quando saí, a marca tinha uma ligação e trabalho entre empresários e, entre estes e o Município. Senti agora que isso se perdeu ao longo dos anos, principalmente no que toca ao trabalho de equipa.

A verdade é que nesta marca nunca nos podemos esquecer que os aderentes, empresários do setor gastronómico e vínico, são os seus representantes. São eles que decidem os projetos mais importantes, mas considero ser uma marca diferenciadora, forte, que valoriza os empresários e o produto de cada um.

 

O facto de esta marca existir leva a que o apoio da Autarquia queira ir mais longe e proteja a iguaria primordial do concelho: o leitão. Não é verdade?

É um grande investimento que a Autarquia tem para valorizar o produto leitão e que nasce de um protocolo entre a Câmara e a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária. Anualmente, investimos mais de 50 mil euros neste processo e a DGAV o restante do valor, mas asseguramos que nos 365 dias do ano – inclusive fins-de-semana, feriados, Natal -, quatro veterinários garantem que os leitões são abatidos poucas horas antes de irem para a mesa e isso prima pela segurança alimentar e pela qualidade do produto. Isto acontece em todos os restaurantes com matadouro, aderentes às «4 Maravilhas».

 

No início do mandato, por diversas vezes, a oposição lamentou a falta de apoio financeiro para a Fundação Bussaco. como considera que deve ser feita a gestão desta entidade, tendo por base o seu próprio conhecimento da estrutura, uma vez que foi o primeiro presidente?

Defendo um modelo de negócio autossustentável e há condições para isso. Sinceramente acho que a Administração Central também devia olhar para o Bussaco de outra maneira.

 

Como está a situação das Garagens do Palace?

Depois de o empreiteiro não ter cumprido com a execução da obra, teremos agora que proceder à alteração do projeto. Contudo, há muitas necessidades no concelho para que estejamos centrados numa obra da Administração Central.

Enquanto vir buracos na estrada e passeios destruídos, teremos aí o nosso foco…

 

Quanto ao Centro de Recolha Animal…

Mais um processo muito complexo, com vários projetos que não cumpriam os requisitos necessários, mas, neste momento, a arquitetura está feita e o projeto praticamente terminado. Será instalado na Zona Industrial da Pedrulha e é uma obra muito necessária, que ficará pronta ainda neste mandato.

 

O renascer da Feira de Artesanato e Gastronomia na Mealhada há quem defenda ser um retrocesso ao que já estava consolidado com uma feira empresarial, a Festame. O que responde a isso?

A nossa promessa eleitoral sempre foi a de realizar a Feira de Artesanato e dinamizar o centro da Mealhada. Não vamos e nem queremos misturar dois conceitos diferentes, mantendo, contudo, os espetáculos de cariz nacional implementados pela Festame.

Estamos aliás a expandir o certame desta Feira conforme as necessidades que vamos sentindo. O palco principal não funcionou junto ao Tribunal porque a poucos metros estava o secundário; na avenida 25 de abril afunilou e não deu o resultado que esperávamos; achamos que agora na Quinta do Choupal poderá ser um ótimo local.

 

Como veria a mudança de distrito da Mealhada?

Não faz sentido uma mudança de distrito e isso só tem importância ao nível do ciclo eleitoral. Em Aveiro só tratamos de assuntos relacionados com as Infraestruturas de Portugal, GNR, Ação Social e Tribunal Judicial. Todo o resto podemos fazer em Coimbra.

 

Desagregação das freguesias da Mealhada, Ventosa e Antes. Há novidades?

O processo está na Assembleia da República e ainda há poucos dias questionei sobre a situação. Com a queda do Governo, o processo parou e estamos curiosos com o que vai acontecer a partir de agora. Apesar disso, continuo a tratar Mealhada, Antes e Ventosa do Bairro como freguesias em separado.

 

Sente hoje, passados dois anos e meio, que o concelho tem mais e faz melhor?

Sinto que o concelho está a ir no bom caminho para melhor e que faz mais, apesar de desejar que sejamos mais céleres e mais concertados. A nossa estratégia foi aprovada pelos munícipes, mas mantendo a consciência de que temos muito ainda por resolver.

 

Recandidata-se?

Quatro anos é um mandato curto e com muito pouco tempo para implementar projetos e executar obra. Estarei disponível a ser candidato se o mesmo grupo de pessoas que me desafiou a ser candidato, voltar a entender que é o certo.

 

Isso pressupõe uma candidatura pelo Movimento Independente Mais e Melhor?

Só serei candidato com o aval dessas pessoas do «Mais e Melhor», um movimento que surgiu de uma mobilização de cidadãos, que criaram um grupo de trabalho e cuja coragem valorizo muito. Estamos a falar de um conjunto de pessoas que continuam a trabalhar sem qualquer força política por trás.

 

Mónica Sofia Lopes