Assinalado anualmente a 5 de maio, o Dia Mundial da Higiene das Mãos, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), reforça a importância de uma prática essencial na prevenção de infeções: a higiene das mãos. Esta data convida à reflexão sobre os comportamentos individuais e institucionais e à necessidade de promover uma cultura de segurança nos cuidados de saúde. Apesar das campanhas e da simplicidade do gesto, será que a adesão é, de facto, suficiente? Estarão todos os profissionais de saúde, utentes e instituições verdadeiramente comprometidos com esta prática?

De acordo com a OMS, a correta higiene das mãos pode reduzir significativamente a ocorrência de infeções associadas aos cuidados de saúde (World Health Organization, 2023). No entanto, estudos indicam que a adesão dos profissionais a esta prática ainda está longe de ser universal. Falhas na higiene das mãos continuam a ser um fator crítico na disseminação de agentes patogénicos, especialmente em ambientes hospitalares e unidades de cuidados continuados (World Health Organization & UNICEF, 2020).

Mais do que uma técnica, a higiene das mãos é um gesto de cuidado, respeito e responsabilidade para com o outro. Representa um compromisso ético com a segurança de quem confia nos nossos cuidados (WHO, 2023). As cinco indicações da OMS — antes de tocar no doente, antes de procedimentos limpos ou assépticos, após risco de exposição a fluidos corporais, após tocar no doente e após contacto com o ambiente envolvente — devem ser interiorizadas como parte natural da nossa prática diária (WHO, 2023; CDC, 2021). Incorporar este gesto no quotidiano é um sinal de que valorizamos a vida e a dignidade de cada pessoa que cuidamos.

Apesar da existência de recursos como soluções antissépticas e lavatórios acessíveis, a adesão a este procedimento é frequentemente condicionada por fatores como pressa, rotinas mecanizadas ou desvalorização da importância desta ação. O não cumprimento sistemático deste cuidado compromete a segurança do utente e evidencia a necessidade de reforçar uma cultura institucional que priorize a prevenção, a vigilância e a formação contínua.

Além disso, a pandemia da COVID-19 evidenciou de forma clara a importância da higiene das mãos na contenção de doenças transmissíveis. Durante este período, a lavagem das mãos recebeu uma atenção significativa como medida preventiva primária, sendo amplamente promovida através de campanhas de saúde pública e mensagens nas redes sociais. No entanto, estudos anteriores à pandemia já indicavam que a adesão à higiene das mãos entre os profissionais de saúde necessitava de melhorias substanciais. A pandemia trouxe um foco renovado nesta prática essencial, destacando a necessidade de manter e reforçar os comportamentos de higiene das mãos tanto na comunidade quanto nos ambientes de saúde (Alzyood et al., 2020). Após períodos de crise sanitária, é comum observar um certo relaxamento nos comportamentos de prevenção, como a higiene das mãos, algo já discutido em diversos estudos recentes. Por isso, torna-se essencial manter viva a consciência da importância desta prática como uma medida preventiva contínua e transversal (CDC, 2021; Alzyood et al., 2020).

Enquanto comunidade, todos temos um papel: desde as escolas às empresas, das unidades de saúde aos próprios cidadãos. Devemos exigir condições para praticar a higiene das mãos e promover o conhecimento sobre os seus benefícios. Cuidar das mãos é cuidar da vida, tanto da nossa como da dos outros.

A mudança de comportamentos começa na consciencialização e no exemplo. E esse compromisso com a excelência no cuidado deve estar presente desde a formação académica até à prática profissional contínua. O gesto é simples. A consequência é vital.

 


Referências bibliográficas:

Alzyood, M., Jackson, D., Aveyard, H., & Brooke, J. (2020). COVID-19 reinforces the importance of handwashing. Journal of Clinical Nursing, 29(15-16), 2760–2761. https://doi.org/10.1111/jocn.15313

Centers for Disease Control and Prevention (CDC). (2021). Clinical Safety: Hand Hygiene for Healthcare Workers. Disponível em: https://www.cdc.gov/clean-hands/hcp/clinical-safety/index.html

 

World Health Organization. (2023). WHO research for hand hygiene in health care 2023–2030: summary. Disponível em: https://www.who.int/teams/integrated-health-services/infection-prevention-control/hand-hygiene

World Health Organization & UNICEF. (2020). Hand hygiene for all: improving access and behavior in health care facilities. Disponível em: https://www.unicef.org/media/71776/file/Hand-hygiene-for-all-2020.pdf

 

Artigo de Fátima Cruz, enfermeira na Unidade de Saúde Familiar Caminhos do Cértoma