A dor fantasma é uma dor neuropática que consiste na perceção de dor num membro amputado, ou seja, parece vir de uma parte do corpo que já não existe. É também designada como dor do membro fantasma (Kaur & Guan, 2018; Morel, 2018). Mesmo após a perda do membro, o cérebro ainda “sente” a presença daquela parte, causando dor, prurido (comichão) ou outras sensações desconfortáveis. Essa dor ocorre devido ao cérebro continuar a processar sinais como se o membro ainda estivesse lá, o que pode ser muito desconfortável.
Muitas pessoas amputadas caracterizam-na como sendo uma dor intermitente, comparam-na como se fossem espasmos, pontadas, facadas ou até choques, consoante a intensidade da mesma. Esses episódios poderão desaparecer gradualmente em meses, anos ou até décadas, dando lugar, frequentemente, à diminuição da intensidade e da frequência da dor. No entanto, para algumas pessoas, as dores fantasmas podem tornar-se persistentes, crónicas e debilitantes tal o grau de intensidade que manifestam (Collins et al., 2018; Kaur & Guan, 2018; Morel, 2018). A dor fantasma é uma experiência individual e subjetiva que pode ser muito dolorosa e debilitante ao ponto de condicionar abruptamente o dia a dia das pessoas amputadas e, consequentemente, a qualidade de vida das mesmas que fica consideravelmente prejudicada (Grilo, 2012). As intervenções ou tratamentos a realizar dependem do grau de intensidade da dor e do nível de incapacidade do indivíduo, sendo que poderão ser executadas ao nível da terapia farmacológica, terapia não farmacológica ou até da intervenção cirúrgica que só ocorre quando as outras estratégias não surtem os efeitos desejados (Les amputés de guerre, 2015, conforme dito por Morel, 2018).
A dor fantasma pode ser um desafio tanto para quem a sente, quanto para quem cuida e está oferecendo apoio. Ajudar alguém que está lidando com essa dor envolve compreensão, paciência e abordagens terapêuticas.
Em relação aos tratamentos farmacológicos, algumas pessoas podem precisar de medicamentos para ajudar a controlar a dor fantasma. Isso pode incluir analgésicos, antidepressivos ou anticonvulsivantes, que ajudam a regular os sinais nervosos:
- Os antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina, têm um bom efeito para aliviar a dor neuropática (Kaur & Guan, 2018);
- Os anticonvulsivantes, como a gabapentina, reduz a frequência e a intensidade da dor neuropática (Collins et al., 2018);
- Os opioides, como a morfina e o tramadol, têm sido usados para tratar a dor neuropática, e alguns estudos sugerem que eles são eficazes na melhoria dos sintomas da dor fantasma (Grilo, 2012);
- As benzodiazepinas costumam ser prescritas como adjuvantes a uma estratégia analgésica devido ao seu efeito ansiolítico, ou até sedativo (Grilo, 2012).
Abordando os tratamentos não farmacológicos, o apoio emocional é fundamental:
- Escuta ativa – Muitas pessoas com dor fantasma sentem-se frustradas ou desesperançosas. Ouvir sem julgar e validar os sentimentos da pessoa pode ser extremamente útil.
- Apoio psicológico – Algumas pessoas podem beneficiar da terapia cognitivo-comportamental (TCC), que pode ajudar a lidar com os aspetos emocionais e psicológicos da dor.
- A terapia do espelho – Uma técnica popular para aliviar a dor fantasma, esta prática envolve o uso de um espelho para criar a ilusão visual de que o membro amputado está de volta. Isso pode ajudar a “enganar” o cérebro e aliviar a dor. Neste método, a pessoa observa o reflexo do seu membro intacto num espelho colocado entre os seus membros superiores ou inferiores, de forma que a imagem visualizada corresponda ao membro fantasma/amputado. Através do uso de ilusões de ótica, descobriu-se que a terapia é uma das modalidades mais eficazes para usar no tratamento da dor fantasma. Estas miragens enganam o cérebro em acreditar que o membro amputado voltou (Kaur & Guan, 2018). A visualização ou imaginação – A pessoa pode ser orientada a visualizar o membro amputado em uma posição confortável, o que pode ajudar a reduzir a dor.
- As técnicas de relaxamento, como a meditação ou o mindfulness, também podem ser eficazes.
- A realidade virtual (RV) – Consiste no uso de tecnologia avançada em que um software cria uma representação virtual ou digital 3D do corpo de uma pessoa dentro do mundo da realidade virtual. Assim, o utente coloca uns óculos de RV e, ao realizar movimentos com o membro intacto, o sistema mostra o membro amputado a mover-se de forma espelhada e sincronizada. Essa representação visual ajuda a “enganar” o cérebro e fazê-lo acreditar na ilusão que o membro ausente ainda está presente, o que pode aliviar a dor fantasma (Collins et al., 2018; Kaur & Guan, 2018).
- A imaginação mental (Mental imagery) – Com a devida orientação inicial de um profissional de saúde, o doente é levado a ver na sua mente que está a mover o membro amputado. Este método imaginativo faz com que a atividade cerebral implicada no movimento seja semelhante àquela que acontece em situação real. Ao praticar a imaginação mental regularmente, o cérebro pode reduzir a perceção errada de dor no membro amputado, diminuindo o desconforto e promovendo o alívio da dor (Grilo, 2012).
- A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) – Consiste na colocação de um dispositivo que envia impulsos elétricos à área onde o membro foi amputado pode aliviar a dor fantasma em algumas pessoas, estímulos elétricos de baixa intensidade através de elétrodos, colocados sobre a pele junto à área do membro amputado, estimulando os nervos próximos do local. Os estímulos vão interferir com a transmissão dos sinais de dor para o cérebro e vão ajudar a “enganar” o sistema nervoso, ludibriando a perceção de dor e, consequentemente, ajudar no alívio da dor fantasma (Grilo, 2012). Em suma, a neuroestimulação, consiste na aplicação de dispositivos que estimulam os nervos de maneira controlada podendo ajudar a aliviar a dor fantasma, alterando a forma como o cérebro processa os sinais de dor.
- Terapias físicas e ocupacionais – A fisioterapia pode ajudar a fortalecer os músculos e melhorar a circulação, o que, em alguns casos, pode aliviar a dor. Também pode ajudar a pessoa a se ajustar à nova realidade de viver sem o membro.
- Outra das inovações tecnológicas são a aplicação de próteses, o uso de uma prótese funcional pode ajudar algumas pessoas a sentirem que estão restaurando a “presença” do membro, o que pode aliviar a dor fantasma.
É imperioso validar a dor fantasma com o indivíduo para ter um melhor entendimento sobre este sintoma, frequentemente vivenciado por pessoas amputadas e que acarreta grande desconforto nas suas vidas. É imperioso paciência e a compreensão, a dor fantasma pode ser imprevisível, e as pessoas que a experimentam podem ter alterações de humor repentinamente. Ter paciência e mostrar empatia ajuda muito. Cada pessoa é diferente, então, o que funciona para um pode não ser eficaz para outro.
Se a dor for muito intensa ou persistente, é importante que a pessoa consulte um médico especializado, como um neurologista ou um especialista em dor, para alcançar as melhores abordagens para o caso específico.
Se você estiver ajudando alguém próximo com essa condição, o mais importante é mostrar que está ao lado da pessoa, pronto para oferecer apoio, seja emocional ou prático.
Procure a sua Equipa de Saúde!
Enfermeira Fátima Cruz – USF Caminhos do Cértoma