As contas da Associação do Carnaval da Bairrada, no período vigente de 1 de junho de 2023 a 31 de maio de 2024, foram aprovadas por maioria, em assembleia-geral, onde estiveram cerca de oito dezenas de sócios, que tomaram assim conhecimento de que o ano económico encerra com cerca de mil euros de valor positivo e sem qualquer dívida a fornecedores, garantia dada pela direção liderada por Alexandre Oliveira. Houve, contudo, alguma contestação pelo facto de no período de apresentação de contas não lhes ter sido permitido pronunciarem-se. Segue-se agora uma nova sessão, por parte da assembleia-geral, para eleições, dado que os atuais órgãos sociais já tinham transmitido indisponibilidade para novo mandato, mantendo a direção apenas tarefas administrativas.
No documento apresentado constata-se que a atividade desenvolvida, no último ano económico, se prendeu com a participação na Feira de Gastronomia em junho de 2023, a realização da «Cidade do Samba» em setembro do mesmo ano; e o Carnaval de 2024. O relatório começa por frisar a edição do Carnaval de 2023 em que ficaram dívidas a fornecedores no valor de 37 mil euros (com o principal valor pendente à empresa de segurança), «facto que levou à participação na Feira de Gastronomia da Mealhada», avançou o tesoureiro da associação, acrescentando que «havia a intenção de consolidar o Festival – que em 2022 se mudou para o Parque da Cidade – como um evento nacional».
Mas se a Feira de Gastronomia acabou por resultar num saldo positivo de pouco mais de seis mil euros, o mesmo não aconteceu com o Festival de Samba de 2023, onde o resultado negativo foi superior a 42 mil euros e os principais gastos se prenderam com o valor do grupo Monobloco (perto de 22 mil euros); seguindo-se toda a estrutura de som para os três dias de evento que incluiu dormidas e refeições para os técnicos (cerca de 12 mil euros); Rosmaninho (cerca de 8 mil euros); e segurança (perto de 5.500 euros). Nos maiores proveitos para este evento estão um subsídio camarário de 12 mil euros e 8.600 euros de entradas, um valor aquém das expectativas que, segundo a direção da ACB, se deveu «principalmente às condições climatéricas pelo mau tempo que se fez sentir nesse fim-de-semana, mas também pela pouca adesão à “Cidade do Samba”».
Chegados aqui, ACB fez «avaliação de viabilidade» para o Carnaval de 2024, contando com o apoio da Autarquia no que toca a carros, instalações sanitárias, bancadas, instalações elétricas, licenças camarárias e um subsídio totalizado em 39.880 euros. «Partimos para este Carnaval com grande redução do nosso orçamento, mas a tentar que não fosse visível para quem assiste e o procura», continuou o tesoureiro da direção.
Na despesa, os valores mais altos foram com licenças de direitos de autores (cerca de 11 mil euros); GNR (5.351 euros); som (cerca de 13.600 euros); segurança das bilheteiras (7.915 euros); Tenda (cerca de 8 mil euros); e gráfica (cerca de 7.900 euros). Nos maiores proveitos estão o subsídio camarário; as entradas de bilheteiras nos corsos de segunda-feira e diurno de terça-feira que perfez 61.591 euros; e os feirantes num valor de perto de 12 mil euros. O evento resultou em 53.692,08 euros positivos.
«Apesar do mau resultado financeiro do festival, a direção conseguiu encontrar soluções junto de todos os envolvidos de forma a não deixar dívidas para o próximo mandato», lê-se nas considerações finais do documento apresentado aos sócios. «Neste momento, a ACB não tem dívidas a fornecedores», garantiu o tesoureiro, descrevendo terem ficado «697 euros na conta, 400 em caixa e por receber 250 euros de um patrocinador».
O documento foi aprovado com 23 votos contra, três abstenções e 57 favoráveis.
Sugestão de criação de uma comissão de gestão que envolva as quatro escolas de samba
A sessão «aqueceu» no ponto de «outros assuntos de interesse para a Associação», com alguns elementos de escolas de samba e também integrantes em direções antigas da ACB a manifestarem o seu descontentamento pela forma como a assembleia foi conduzida.
«Esta direção tem culpa de tudo e devia ir embora e, por isso, proponho que saia daqui uma comissão de gestão, com as quatro escolas de samba, que comece a preparar o Carnaval de 2025», referiu António Ferraz. Já Patrícia Santos, que foi tesoureira num mandato anterior liderado por Janine de Oliveira, justificou a sua abstenção «pelo facto de as contas não terem sido esclarecedoras».
Carla Carvalheira, presidente da mesa da assembleia-geral da ACB, declarou que «os documentos estiveram disponíveis, durante uma semana, para consulta».
Direção diz que tudo o que fez «foi para elevar o bom nome do Carnaval da Mealhada»
A direção da ACB pediu à mesa da assembleia que lesse um documento de balanço dos últimos três anos, onde enfatiza que o objetivo «foi sempre elevar o bom nome do Carnaval da Mealhada».
O documento continha um périplo pelo que consideram ter sido mais importante: participação durante dez dias na Feira de Artesanato e Gastronomia em 2023 e 2024; mudança do Festival de Samba para o Parque da Cidade em 2022 com receita «única e exclusivamente para as quatro escolas de samba da Mealhada»; no Carnaval de 2023, os corsos estenderam-se para a Avenida 25 de Abril e colocação de iluminação na zona do desfile noturno; e coorganização do Carnaval de Palmo e Meio este ano.
Como «projeto mais ambicioso» apontam a «Cidade do Samba», em setembro de 2023: cartaz com grupo internacional; recinto reinventado com inúmeras atividades; «um palco como nunca tiveram em nenhum evento em Portugal, que dignificou as apresentações das escolas de samba»; e «uma comunicação estudada, trabalhada e de qualidade, apresentada em tempo real».
No Carnaval de 2024, ressalvam «o desfile trapalhão, inovador, com trio elétrico».
Mónica Sofia Lopes