Noticia atualizada às 16h59 de 29 agosto de 2024

O Festival de Samba na Mealhada, organizado pela Associação do Carnaval da Bairrada nos últimos anos, vai sofrer uma paragem em 2024. O impasse na apresentação de contas da ACB que originou atraso nas eleições para os órgãos sociais, fez com que as escolas ainda pensassem na organização de um evento, acabando por, em decisão conjunta com a Autarquia, optarem por não levar a cabo uma festa menor daquela que foi organizada em 2023 e designada de «Cidade do Samba», que contou inclusive com um grupo internacional. Para já, sabe-se que a escola de samba Batuque, da Mealhada, a responsável pelo «nascimento» do evento em 1995, organizará na sua sede uma festa a 14 de setembro.

Nasceu pelas «mãos» do Grémio Recreativo Escola de Samba Batuque, passando para a organização da ACB em 2002, depois de um ano interregno. Depois de muitos anos a realizar-se no antigo «Sambódromo Luís Marques», o Festival de Samba mudou-se para o Jardim Municipal, tendo em 2022 sofrido nova alteração e crescido em dimensão para o Parque da Cidade da Mealhada e na oferta de atividades. No ano transato, o primeiro de entradas pagas, passou a designar-se «Cidade do Samba».

Em 2024, depois da assembleia-geral de apresentação de contas da ACB ter sido suspensa, por falta dos documentos que suportam o relatório, e de a atual direção, liderada por Alexandre Oliveira, já ter manifestado a não intenção de continuar por mais um mandato, não estavam reunidas, e segundo conseguimos apurar, «as condições para realização do evento».

«Esta era a decisão que tinha que ser tomada», referiu, ao nosso jornal, Patrícia Pinto, presidente da direção dos Amigos da Tijuca, acrescentando que a escola que dirige sempre defendeu esta tomada de posição: «Em 2019, numa situação idêntica, as escolas de samba levaram a cabo o evento em frente à Câmara e foi um prejuízo enorme. Já lá vai o tempo em que os bares suportavam a festa». Para a dirigente da escola «este interregno talvez seja preciso para se repensar o evento e até mesmo o Carnaval». «Não podemos ter este impasse sempre que há mudanças de direções da ACB. Estes dois eventos deveriam ter organização com um maior envolvimento camarário», defende.

Para Gilberto Lima, presidente da direção da escola Real Imperatriz, «a “Cidade do Samba” foi um evento muito bem pensado, que não teve o apoio que devia ter tido da população da Mealhada, talvez por passar a ter um custo de entrada, não sei…». Consciente de que este interregno possa implicar uma «quebra na tradição», o dirigente espera que, em 2025, «regresse em grande». «O Festival de Samba é aquele espetáculo que volta a chamar as pessoas, novamente, às suas sedes», defendeu ainda.

Também os Sócios da Mangueira prestaram uma comunicação aos sócios, esta semana, recordando que cabia a ACB a responsabilidade deste evento e esclarecendo que com «o pouco tempo disponível – apenas um mês – seria impossível para as escolas organizarem, no Parque da Cidade, algo que correspondesse às expectativas já criadas».

Andreia Rosa, presidente da direção do Batuque, resume que «a ACB determinou não realizar o evento e a Câmara, depois de as escolas demonstrarem alguma vontade de fazer algo mais pequeno, considerou que era importante não regredir relativamente ao que foi feito até aqui». «Este festival era aquele em que as escolas do país faziam a sua primeira apresentação e, este ano, isso passará para Estarreja, num evento que eles organizam no próximo dia 28 de setembro», explica a dirigente que refere que a sua escola «não baixou os braços» e vai realizar um evento a 14 de setembro, na parte exterior do Batuque.

Tentamos obter uma declaração do presidente da direção da ACB, mas não foi possível até à publicação deste artigo.

 

Batuque realiza festa na sede da escola a 14 de setembro

Sem Festival de Samba, o Grémio Recreativo Escola de Samba «Batuque», da Mealhada, resolveu organizar uma festa na parte exterior da sede durante todo o dia de sábado, 14 de setembro. «Tentamos envolver as escolas de samba do Carnaval da Mealhada e fizemos convites a outras de fora, mas não houve acolhimento, aguardamos ainda a resposta de Sesimbra, da escola “Bota no Rego”», afirmou Andreia Rosa, presidente da direção da escola.

O evento começa com um almoço, a «feijoada da tia Dina», uma das sócias fundadoras da escola; seguindo-se uma tarde com um «disc-jockey» e jogos tradicionais. A partir das 19h00, teremos porco no espeto e caldo verde com a animação do músico «Xandinho».

Segue-se a apresentação do enredo para a edição de 2025 do Carnaval da Mealhada e a atuação do Batuque, «complementada pela do “Bota no Rego”, caso consigam estar presentes».

A festa, que poderá vir a ter também «street-food» no recinto, termina com animação de DJ’s.

 

Preparação do Carnaval de 2025 «começa a preocupar»

A preparação do Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada para 2025 começa agora, e devido ao processo de término de mandato da atual direção da Associação do Carnaval da Bairrada, a preocupar as direções das escolas de samba.

Patrícia Pinto, dos Amigos da Tijuca, avança que «o enredo está a ser construído, mas não haverá qualquer compra sem assinatura de protocolo ou um acordo financeiro». «Isso está fora de questão», enfatiza a dirigente, que faz um balanço muito bom deste ano: «Só paramos as atividades em agosto e agora estamos a organizar a nossa Gala dos 20 anos, que acontecerá em novembro».

Também, este ano, a escola candidatou o seu projeto artístico do Carnaval de 2024 – Acorda Ti’Juca! Há Samba na Feira – sendo um dos 82 aprovados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, no âmbito do Programa «Cultura ao Centro», cujo principal objetivo é apoiar iniciativas desenvolvidas por associações culturais de caráter não profissional, com sede na região Centro. «Ganhamos 1.500 euros e foi importante para nós desencadear este processo, a vários níveis», disse ainda a dirigente.

Apesar de estar prestes a apresentar o seu enredo, o Batuque está na incerteza de «como vai ser o Carnaval de 2025». «Estamos a aguardar pelas contas da ACB para ver o que se segue», afiança Andreia Rosa, que também fala num ano de atividade da escola, nomeadamente, com a promoção de uma oficina, em maio passado, com Tati Rosa, musa da Imperatriz Leopoldinense e rainha da bateria da Académicos da Rocinha, no Brasil.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Fotografia do Carnaval de 2024