13 mulheres, com idades dos 33 aos 57 anos, todas familiares e provenientes da freguesia de Vila Chã, no concelho de Vila do Conde, caminham desde a madrugada de sábado com destino ao Santuário de Fátima. O núcleo duro do grupo de «peregrinas» foi constituído há cinco anos. A fé, aliada a algumas promessas e ao convívio, faz esquecer o medo que sentem por caminharem à beira da estrada. Caminhos alternativos não são opção, pois dizem ser mais difíceis e acumulam mais horas ao tradicional percurso, que todos os peregrinos fazem por esta altura.
O relógio ainda não batia as 9h00 desta terça-feira, 10 de maio, quando saltou à vista da jornalista do «Bairrada Informação», num posto de combustível em Sernadelo, concelho da Mealhada, dois veículos onde se lia: «Apoio às Peregrinas». Quisemos saber quem eram estas 13 mulheres, que tencionam assinalar o 13 de maio em Fátima, como aliás já o fazem desde há cinco anos.
Partiram na madrugada do passado sábado de Vila Chã até Santo Ovídio, no Porto, tendo no primeiro dia ido descansar em suas casas dada a proximidade geográfica. A partir da madrugada de domingo o percurso começou à séria com destino a São João da Madeira, daqui até Águeda e desta cidade da Bairrada até Coimbra, este último trajeto a ser feito no dia de ontem. «Venho de França só para vir fazer a peregrinação até Fátima», diz-nos Rosa, garantindo que a primeira vez que fez o percurso, num outro grupo há 20 anos, foi por promessa, mas que agora «é também pelo convívio e por todos os momentos que aqui passamos».
Para Ana Cláudia, a experiência é totalmente nova. «Venho por uma promessa feita por causa da minha mãe», confidenciou, acrescentando que «a etapa de ontem (a de São João da Madeira até Águeda), uma das maiores, custou-me muito. Quando paramos, os músculos ressentem-se e custa mais, mas depois compensa o convívio, em que rimos, brincamos, choramos e dançamos».
Com previsão de chegada a Fátima nesta quinta-feira, perguntámos o que esperavam do resto do trajeto. «Esperamos muito sacrifício e calor, mas não podemos falar demasiado para que as mais novas não ouçam o que ainda aí vem desde Coimbra até Pombal. O que nos vale é esta coluna de mulheres que a partir das 4h00 está pronta, primeiro para rezar, depois para cantar e dançar por aí fora», referiu Rosa, a mentora do grupo.
São unânimes em considerar que «os automobilistas deviam ser mais sensíveis aos peregrinos» e quando questionamos o porquê de não utilizarem os caminhos alternativos, existentes e sinalizados para o efeito, Rosa lamenta: «Houve um ano, em Coimbra, que seguimos as setas que desviam o peregrino, e correu muito mal. Deu-nos mais três horas de trajeto, mais tempo ao calor e os caminhos eram maus. Aqui temos que ter cuidado, mas andamos em alcatrão e em bons passeios, ali era muito mais difícil». «Nós que moramos à beira-mar e temos passadiços por todo o lado, custa-nos perceber porque não fazem um percurso para Fátima em passadiço também?», questiona, deixando «a dica».
Para além disso, lamentam o facto «de haver albergues para os peregrinos de Santiago de Compostela e não existirem para os caminhantes de Fátima. Nós ficamos sempre em hotéis, mas é uma coisa que nos faz muita confusão…».
«Achamos difícil desviar os peregrinos», referiu autarca em reunião do executivo
O tema dos Caminhos de Fátima é uma preocupação também por parte de quem gere os Municípios. A 21 de março, na reunião do executivo, Filomena Pinheiro, vice-presidente da Câmara da Mealhada, deu conta da sua participação na reunião do conselho geral da Associação Caminhos Fátima, referindo que existiam algumas manifestações de desagrado por parte dos peregrinos em relação ao traçado.
A autarca explicou que existem três caminhos de Fátima: o Caminho da Estrada Nacional 1, que engloba municípios desde Gaia até Fátima, o utilizado pelos peregrinos de 13 de maio e 13 de outubro; o Caminho da Fé e da Espiritualidade, que é o inverso dos Caminhos de Santiago e o aconselhado pelo Turismo de Portugal; e o Caminho Centenário, que surge para resolver o problema da perigosidade no IC2 e retirar os peregrinos da estrada. «É um caminho que, no concelho da Mealhada, vem de Tamengos (Anadia) e passa por Ventosa do Bairro, Antes, Casal Comba e Adões (em Barcouço). Está identificado e sinalizado e querem que seja este que as autoridades indiquem», disse Filomena Pinheiro, lamentando não conseguir entender a estratégia: «Achamos difícil que os peregrinos de 13 de maio e de outubro o utilizem, pois não corresponde às suas necessidades e aumenta a distância».
«Vamos mantê-lo e preservá-lo, até porque o da Mealhada é o que está menos vandalizado, mas achamos difícil desviar os peregrinos para ali», enfatizou.
Declaração que levou Rui Marqueiro, vereador da oposição e anterior presidente da Autarquia, a afirmar que «o traçado dos Caminhos de Fátima não foi uma escolha do Município, mas sim uma imposição, julgo que a partir de um estudo da Universidade do Porto, com a qual nunca concordei». «A justificação dada foi sempre a de que as pessoas não gostam de subir e descer passeios, mas a verdade é que foi uma imposição tanto aqui como em Anadia», disse.
Mónica Sofia Lopes