O ano de 2020 foi dos piores para o setor da restauração e o novo estado de emergência, aprovado esta semana, trará agravamento das medidas para o primeiro fim de semana de 2021. Na Mealhada, muitos gerentes de restaurantes confirmam que financeiramente o ano foi mau, mas há também quem se tenha adaptado a uma nova realidade, a da entrega de refeições a pedido, uma «exigência» que os clientes, principalmente dos grandes centros urbanos do país, já se habituaram nos últimos meses.

«Em termos de faturação e de negócio, o ano de 2020 foi fraco em relação ao ano anterior, mas melhor do que há quatro, cinco anos», começa por dizer António Paulo Rodrigues, do Rei dos Leitões, garantindo que «foi um ano de muita aprendizagem», em que o serviço de entrega, que a empresa já fazia, «aumentou imenso os pedidos desde o passado mês de março». «Este ano vamos também fazer entregas nos dias 24 e 25 de dezembro e já temos encomendas para todo o país, havendo rotas em que já não conseguimos aceitar mais reservas porque não temos capacidade», diz o gerente do restaurante, acrescentando que «nesses dias têm também muitos serviços na região da Bairrada e uma lista extensa para a cidade de Coimbra». Um cenário que se repete no primeiro fim de semana do ano.

Para além disso, António Paulo Rodrigues sublinha que o Rei dos Leitões investiu numa esplanada, com ambiente aquecido, que, mesmo no Outono, deu frutos, acabando por compensar financeiramente os lugares que se perderam dentro do espaço.

Num ano normal, e por opção, o restaurante Rocha não faz entregas, «mas neste começámos a ser contactados por muitos clientes, quase a implorar para irmos fazer entrega e, pela primeira vez, iremos a Lisboa, no dia 24 de dezembro». «Não quisemos “abandonar” os nossos clientes e já temos efetivamente bastantes encomendas», explica Joaquim Luís, desiludido, contudo, com as medidas impostas para o final do ano. «Por norma abrimos no último dia do ano, mas fechamos antes da meia-noite. Neste decidimos apostar num artista e, para além da refeição, faríamos aqui uma coisa gira e diferente, para a qual já tínhamos reservas», diz.

«Sem a semana da Páscoa; com a proibição de circulação entre concelhos no fim de semana do 1 de Janeiro; e com a redução de lugares disponíveis, o mês de Agosto não conseguiu ser similar ao de outros anos», lamenta, enfatizando: «Tivemos 74 dias fechados, e apesar do Verão ter sido muito bom, a partir de Setembro, com os fechos consecutivos dos municípios, a situação ficou difícil».

No restaurante O Castiço, a situação é idêntica. «Natal e fim de ano são sempre dias muito fortes. O dia 1 de janeiro costuma ser uma loucura de trabalho», afirma Carla Carvalheira, gerente do espaço, garantindo que «já têm encomendas para a véspera e dia de Natal», mas que se sente «uma quebra». «Em 2019, o nosso mês de dezembro foi tão bom como o de agosto. Tínhamos convívios de Natal, de manhã à noite, tanto de empresas como de particulares», conta, lamentando que «este ano não haja nada disso e que o fim de semana do final de ano esteja também agora comprometido com regras apertadas».

Sandra Alves, do Pic-Nic, fala em situação «muito grave». «Vamos abrir no dia 24 até às 16h00 e no dia 25 até às 17h00, com possibilidade também de “take-away”. Nos dias 1, 2 e 3 vamo-nos restringir somente ao “take-away”, assim tenhamos encomendas», diz a gerente do restaurante, garantindo que «os meses de Verão foram bons, com muita afluência de clientes portugueses», mas que a partir de setembro «viemos por aí abaixo». A esperança de Sandra Alves é que «a vacina traga ao espaço que gere, dias idênticos aos de outros anos». Enquanto isso não acontece, «terminaremos o ano abertos até às 22 horas, mesmo que, até ao momento, não tenhamos nenhuma reserva».

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

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