Num cenário crítico para a economia do país, muitos foram os consumidores que recorreram ao mecanismo de proteção financeira, através do pedido de moratória dos seus créditos. No entanto, entre 15 de março e o dia 29 de abril, foram registadas no Portal da Queixa 135 reclamações relacionadas com as moratórias de créditos. Pedidos negados, ausência de resposta, muita burocracia, estão entre principais queixas. Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP, WiZink, Santander Consumer, Cetelem e Cofidis estão entre as marcas com maior número de reclamações.

 

Instituições Total de reclamações %
Caixa Geral de Depósitos 22 16.2%
Millennium BCP 18 13.3%
WiZink 16 11.4%
Santander Consumer 15 10.5%
Cetelem 10 7.6%
Cofidis 10 7.6%
Novo Banco 8 5.7%
ActivoBank 6 4.8%
Oney 5 3.8%
Santander Totta 5 3.8%
Banco Credibom 4 2.9%

Entidades e respetivo número de reclamações de 15 de março a 29 de abril.

 

Segundo as orientações da Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês), as instituições financeiras devem procurar defender os interesses dos consumidores na atual situação provocada pela paragem da atividade económica, no contexto da pandemia. Mas de acordo com a análise feita pela equipa do Portal da Queixa aos dados recolhidos, foi possível identificar 25 casos de recusa do pedido de moratória e 48 de ausência de resposta aos pedidos.

 

Para surpresa de muitos consumidores, a relação de confiança que era esperada numa conjetura como esta, saiu totalmente gorada ao verem os seus pedidos recusados sem justificação fundamentada ou sem qualquer resposta até à data. Em tempos anteriores, foram os contribuintes que deram o seu voto de confiança no resgate à banca e são os mesmos que veem, agora, os bancos de costas voltadas para um problema que já não é só financeiro, sendo também social”, afirma Pedro Lourenço, CEO do Portal da Queixa e embaixador da Comissão Europeia para os Direitos dos Consumidores.

Exemplos de reclamações registadas no Portal da Queixa:

“É com uma tristeza enorme que depois de mais de 20 anos sendo cliente desta entidade bancária me deparo com o meu pedido de moratória negado”

“Venho por este demostrar a minha desilusão pelo meu Banco há mais de 18 anos pois solicitei o pedido da Moratória porque me encontro Desempregada e com 2 filhos em casa. Confirmamos a receção da V. comunicação de 1 de abril de 2020 sobre a qual nos cumpre

“Pedi moratória Santander no passado dia 26 Março e até agora não recebi qualquer resposta! Já contactei chat online, balcão onde criei conta, net banco particular e não tenho resposta ainda.”

 

Esta semana, também o Banco de Portugal (BdP) informou ter recebido 160 reclamações no domínio da supervisão comportamental, no âmbito dos apoios às empresas e famílias em contexto de covid-19.

 

Banca tradicional deve manter confiança e reputação

“É fundamental para a reputação e os níveis de confiança na banca portuguesa, que a resposta seja eficaz e de acordo com as circunstâncias atuais, na medida em que, caso se verifique uma intransigência total e uma análise de processo com critérios idênticos aos tempos antes da crise pandémica, poderá potenciar um enorme descontentamento e distanciamento dos consumidores face à banca tradicional, optando estes, no futuro, pelas ofertas digitais”, analisa Pedro Lourenço.

 

De referir que os principais bancos têm cerca de 211 mil moratórias de créditos de famílias e empresas, segundo os dados divulgados pela CGD, BCP, Santander Totta e Novo Banco no parlamento.

Desde final de março, está em vigor a lei que permite a suspensão dos pagamentos das prestações de créditos à habitação e créditos de empresas (capital juros) por seis meses, de abril a setembro.