Esculturas religiosas “escondidas” em parede foram encontradas no Convento de Santa Cruz do Buçaco, aquando das obras de recuperação, cujo término está previsto para março de 2019. A revelação foi feita, na manhã de ontem, dia 7 de agosto, aquando da comemoração dos trezentos e noventa anos do início da construção do Convento, onde o presidente da Câmara da Mealhada desafiou a Ordem dos Carmelitas, representada por Frei Joaquim Teixeira, a fixar-se no Bussaco, para assim preservar a história e contribuir para o impulso do turismo religioso.
Desde o passado mês de março que o Convento de Santa Cruz, na Mata Nacional do Bussaco, está fechado ao público para obras de recuperação, que se estendem às Capelas dos Passos da Via-Sacra. No total, o investimento é de cerca de um milhão de euros.
Ontem, Carlos Oliveira, da empresa Augusto de Oliveira Ferreira e Ca. Lda., explicou que, no Convento, as principais intervenções são: “Execução de novos rebocos, levantamento de todas as pedrinhas das paredes e posterior recolocação, mudança de toda a instalação elétrica, tratamento dos pavimentos e recuperação de todas as caixilharias”. “Os rebocos da torre, que estava fechada ao público, vão também ser todos intervencionados”, acrescentou ainda, adiantando que “quando as obras terminarem, este espaço ficará também disponível para visitação”.
No caso da cobertura, Carlos Oliveira explicou que “estão a ser colocadas placas de fibrocimento sem amianto, melhorando, consideravelmente, os níveis térmico, acústico e visual do edifício”.
Já no caso das Capelas dos Passos da Via-Sacra “serão recuperados os rebocos interior e exterior, os pavimentos, bem como as coberturas”.
E foi numa das intervenções, junto à parede lateral esquerda (estando de frente para o altar na Igreja do Convento), que foram descobertos elementos escultóricos. “Na picagem de uma das paredes, que outrora fora uma passagem, estavam as imagens de Cristo (sentado e virado para o altar), em terracota, e da Virgem e de São João Baptista, ambos em calcário”, explicou Nuno Silveira, arqueólogo, da Palimpsesto, que acompanha as obras que estão a ser realizadas no património edificado da Mata do Bussaco.
“As imagens estão fragmentadas. No caso da Virgem, por exemplo, o tronco e o busto estão separados”, acrescentou o arqueólogo, justificando o facto de terem sido encontradas numa parede: “Como o Concílio de Trento proibia que imagens em local sagrado saíssem, é possível que seja esse o motivo para terem ficado a encapar uma porta”.
Ao nosso jornal, Rui Marqueiro, presidente da Câmara da Mealhada, enalteceu o facto “de se ter descoberto um património que nunca tinha sido visto” e que agora é altura “de se fazerem avaliações”, não descartando a hipótese “de restauro”, recorrendo ao apoio de fundos comunitários.
Aproveitando a presença de um representante da Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal, o autarca desafiou para que a referida congregação religiosa se instale no Bussaco, “uma Mata criada por eles”. E o edil vai mais longe, disponibilizando a recuperação de uma casa, para esse fim, numa iniciativa da autarquia e da Fundação.
Ao «Bairrada Informação», Frei Joaquim Teixeira garantiu que “o desafio será apresentado aos seus superiores”. “Há duzentos anos que não estamos aqui, mas a verdade é que, neste local, sentimo-nos em casa”, referiu.
E para Rui Marqueiro, “era muito importante ter na Mata uma congregação religiosa, que promovesse missas e impulsionasse o turismo religioso”. “Íamos saber mais e melhor sobre a história deste espaço”, enalteceu o autarca.
Texto de Mónica Sofia Lopes
Galeria de fotografias, de José Moura, em https://www.facebook.com/bairradainformacao/