A população do Pego, na freguesia da Vacariça, teme que o apeadeiro da localidade, situado em plena Linha da Beira Alta, não volte a ter qualquer paragem de comboio até porque, recentemente, foi totalmente vedado, tirando inclusivamente a possibilidade de os moradores usufruírem de uma passagem pedonal. O tema preocupa os autarcas da Mealhada e da Vacariça, António Jorge Franco e Ricardo Ferreira, respetivamente, chegando o presidente do Município a desafiar que seja feito um abaixo-assinado a ser remetido à Comboios de Portugal e Infraestruturas de Portugal.
«Depois de tanto dinheiro gasto no apeadeiro, por que não abrir para o comboio parar? O Pego tem pessoas a estudar em Coimbra e num recente inquérito que fiz à população, 90% das respostas apelam à reabertura do apeadeiro, nem que seja para que passe um comboio de manhã e outro ao fim do dia», declarou Rui Carvalho, presidente da direção da Associação Recreativa e Cultural Amigos do Pego, na última sessão da assembleia municipal, recordando que «já lá pararam três comboios diários, depois passou a dois e agora temos zero».
António Jorge Franco explicou que «a Autarquia já tinha sido alertada para esta possibilidade» e que, por isso, contactaram com o IP e reuniram com a CP. «Chegaram a dizer-me que não tinham passageiros, mesmo antes da paragem da Linha da Beira Alta para obras, um tema que levei a uma reunião da Comunidade Intermunicipal com a senhora secretária de Estado», disse o edil, lamentando que «depois de todo o investimento feito no apeadeiro, o tenham vedado». «Iremos fazer todos os esforços para que, pelo menos, haja uma paragem de manhã e outra à noite», disse ainda, enfatizando: «Andamos a apelar às pessoas para andarem de transportes públicos e depois parece que as entidades não querem colaborar nisto».
«Gastou-se 400 mil euros no apeadeiro do Pego para agora estar fechado. Na reunião que tive há cinco anos, no IP em Lisboa, se me tivessem dito logo que era para fechar, as coisas eram diferentes, agora virem dizer que não há passageiros, é mentira. O que realmente aconteceu, é que forçaram a que não houvesse passageiros»., referiu Ricardo Ferreira, presidente da Junta da Vacariça, admitindo que «ainda vamos a tempo de fazer alguma coisa com a auscultação da população».
Para além disso, informa o autarca, «o apeadeiro tinha uma passagem pedonal, de categoria 5, que estava no projeto e deixou de existir, porque estrangularam uma parte da aldeia com aquela vedação». «No mínimo que a retirem porque está a criar transtorno a quem passa de um lado para o outro da aldeia. As pessoas mais idosas gostam de fazer as suas caminhadas, vindos da Rua do Carvalhinho e depois seguindo por aquele circuito, que agora está fechado. Há vários locais, que mesmo sem apeadeiro, mantém as suas passagens pedonais», enfatizou.
Declarações que levaram António Jorge Franco a recordar que «o apeadeiro deixou de funcionar muito antes de eu ser presidente, tempo em que o senhor já era presidente da Junta. Quando fechou ainda nem se falava em encerrar a Linha da Beira Alta para obras». O edil aconselhou a população «a fazer um abaixo assinado» e apelou à união «de todos» para que «sejam feitos ainda mais esforços do que aqueles que se tem vindo a fazer».
O nosso jornal tentou entrar em contacto com a CP e IP para ver respondidas algumas questões, nomeadamente, qual o motivo do encerramento do apeadeiro; se confirmam que a paragem já não era feita, mesmo antes de terem início as obras na Linha da Beira Alta; e o porquê da colocação de uma vedação. Da IP o «feedback» foi uma resposta «com brevidade» por parte da Direção de Comunicação e Imagem.
Deputada do «Juntos» recorda processo da Linha da Concordância
Sobre o tema da ferrovia no concelho da Mealhada, Isabel Santiago, da coligação «Juntos pelo Concelho da Mealhada» – que agrega o PSD, CDS, Iniciativa Liberal, Partido da Terra e o Partido Popular Monárquico – recordou o que aconteceu, naquele órgão (em assembleia municipal do anterior mandato), para que a Linha da Concordância, que atravessa o Travasso, tivesse sido possível.
«Vivo na Pampilhosa e tenho ligações ao Travasso. Sei o que custou à população a concordância. De tudo tentei para um resultado diferente e para que ao menos houvesse contrapartidas para a população», disse a deputada municipal, relembrando que a coligação «até assembleias populares realizou».
«Muito me espanta que as indignações de hoje sejam de pessoas que foram a favor da concordância, sem contrapartidas nenhumas, votando a favor da utilidade pública da mesma», lamentou, rematando que «o pecado original está lá atrás».
Texto de Mónica Sofia Lopes
Fotografias com Direitos Reservados