O primeiro dia da terceira edição do FLIM – Festival Literário da Mealhada contou com um jantar literário alusivo à obra camiliana, a assinalar os 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco, com dramatização da companhia cultural «Sons e Ecos». A iniciativa, onde estiveram cerca de seis dezenas de participantes, contou com a presença da apresentadora e escritora Fátima Lopes e deixou no ar o desafio para que grupos de teatro e restaurantes do concelho possam promover iniciativas idênticas.
Camilo Castelo Branco é uma das maiores referências literárias portuguesas e foi recordado, através de momentos teatrais, durante a noite da passada segunda-feira, num restaurante da Mealhada. Trajados à época, as personagens de «Um serão à mesa Camiliana» – Camilo Castelo Branco, sua esposa Ana Plácido e o médico da família e padrinho de casamento – foram recitando algumas passagens de obras do autor, como o «Banquete» onde as suas iguarias favoritas não foram esquecidas. À mesa, os participantes iam saboreando algumas delas, nomeadamente, peixe frito, azeitonas, orelheira, caldo de couves, galinha mourisca e pudim. Citando Eça de Queirós, ficou bem patente que «a mesa é (mesmo) a alcoviteira da amizade».
A meio do jantar, Fátima Lopes estava rendida à iniciativa. «Jantar muito criativo com uma gastronomia de excelência», destacou a escritora, congratulando «este humanismo e densidade que se representa da vida do autor e também o funcionamento de um escritor antes de se lançar para o papel. Aqui somos transportados para o Camilo pessoa e o Camilo escritor». Já sobre esta forma de se falar de um dos autores portugueses mais importantes, a também apresentadora enfatiza que se trata «de nos focarmos nas nossas raízes, identidade e valor».
Palavras corroboradas por Filomena Pinheiro, vice-presidente da Câmara da Mealhada, que defende que «temos que arriscar e ousar. Iniciativas destas trazem para o território novas ideias e o despertar de novas oportunidades e os livros podem realmente impactar os territórios de modo completamente diferente». A autarca lança ainda o desafio para que «as companhias de teatro e outras coletividades do concelho possam promover iniciativas idênticas. Tem que se arriscar, impactar e criar história. Esta pode ser também uma oportunidade para muitos restaurantes e novos projetos que apareçam. O melhor recurso e âncora são mesmo as pessoas, este jantar foi demonstrativo disso».
Oriunda de Aveiro, o nosso jornal falou com Marlene Melo que soube da iniciativa através de uma amiga. «Já tive em uma iniciativa parecida, mas era um jantar de poesia, que não tinha a dinâmica deste encontro. Hoje estamos a conhecer a vida destas personagens», referiu Marlene Melo, elogiando a presença de Fátima Lopes: «Ter aqui uma escritora no meio, foi a cereja no topo do bolo».
Sendo profissional na área de relações públicas e comunicação de um setor cultural, Marlene Melo garante que leva deste jantar na Mealhada «algumas ideias». «Admiro muito quem tem a coragem de promover estas iniciativas, porque sem tentar, nunca se saberá se vale ou não a pena», diz, enfatizando que o encontro da passada segunda-feira foi «extraordinário». «Até já coloquei nas minhas redes para seguir sempre o FLIM», enfatizou.
No âmbito do Festival Literário da Mealhada, o restaurante Burguezia do Leitão recebe, até 30 de abril, a exposição Linha, Ponto e Vírgula, de André Carrilho, cedida pela Casa de Camilo, constituída por caricaturas com recurso «ao exagero, traços carregados e proporções das pessoas visadas».
Mónica Sofia Lopes