Arrancou, na passada segunda-feira, o projeto «“changeMakers” arena», que integra os Municípios da Mealhada, de Paredes e de Pedreguer (Espanha), no âmbito do programa Erasmus+. Nesta primeira iniciativa, de uma panóplia que culmina em maio de 2025, os cerca de 30 jovens, participantes, formularam opiniões e propostas para melhorar a vida nas suas comunidades. A abertura foi feita por Lucas Rodrigues, um jovem de 24 anos, que há três muda a vida das pessoas realizando-lhes os sonhos e colmatando as suas necessidades. Na Mealhada, para além de apresentar o seu projeto diferenciador, arrecadou aplausos, lágrimas e até silêncios, após desvendar a sua história de vida.
«Não gostava de redes sociais e queria ser médico ou advogado, muito diferente daquilo que faço agora. Havia, contudo, uma coisa semelhante ao que se passa no meu dia-a-dia de hoje: queria muito mudar o mundo», começou por dizer o jovem Lucas, conhecido nas redes por «Lucas with Strangers», que desvendou que o seu «sucesso» começa como um desafio de superação pessoal, numa altura, em que a ansiedade e depressão tomaram conta da sua vida, depois de um trauma que viveu, onde foi assaltado e sequestrado, com a sua namorada, durante seis horas num bungalow de um parque de campismo.
«Mal fomos libertados ainda tirei umas fotos naquele cenário a sorrir, mas a verdade é que fui atingido por ataques de pânico e sofri uma paralisação pelo medo – stress pós-traumático – durante quase um ano», continuou, revelando que se apercebeu da gravidade «quando um dia não consegui sair do meu quarto para ir buscar comida».
Sair de casa, procurar ajuda médica e tomar fármacos, que aliviasse o que sentia, fizeram parte do processo, «mas mesmo assim não conseguia sentir-me bem fora de casa. Passava-me tudo pela cabeça». Depois de assistir ao filme «Yes Man», desafia-se durante meio ano a dizer que «sim» a tudo e quando uma amiga lhe propõe ir para a rua e gravar-se a falar com estranhos, não podia dizer que não. «Nos primeiros vídeos nota-se que estou altamente medicado e tinha todos os ingredientes para correr mal: não tinha experiência, material, não conseguia sair de casa e editar vídeos, não tinha ideias e nem redes sociais», enumerou o jovem, recordando que os primeiros vídeos eram a oferecer natas, flores e abraços ou até, num dia chuva, abrigar pessoas com o seu chapéu.
Mas nestes primeiros 15 dias, Lucas estava, longe de imaginar, a volta que esta ideia ia dar. «Um senhor que vivia na rua e usava cadeira de rodas, presa por fios, pediu-me se o podia apoiar com uma cadeira nova e fiquei a pensar naquilo. Publiquei um “storie” a perguntar se alguém tinha disponibilidade para ajudar e recebi uma mensagem de uma pessoa de Oeiras a dizer que tinha uma, gerando logo outro problema: como, sem dinheiro, podia ir buscá-la? Fiz outra publicação a perguntar se alguém ia de Lisboa para o Porto e, em 24 horas, o senhor José tinha uma “nova” cadeira de rodas», conta sobre o primeiro grande episódio que mudou a vida de uma pessoa e a sua. A partir daí, foi o rastilho para um sem número de histórias felizes: desde dar dinheiro e almoçar com sem abrigos; levar imigrantes a ver familiares doentes; angariar verbas para rendas de casa de pessoas idosas sem possibilidades; até à colocação de uma prótese dentária a quem não conseguia comer por esse motivo. «Uma coisa má tornou-se numa plataforma de sucesso, em que mudei o mundo de mais de 130 pessoas diretamente e outras tantas indiretamente, com 150 mil euros doados em três anos e mais de 2,5 milhões de seguidores», enfatizou.
Depois de o ouvir, a plateia juvenil na Mealhada estava sem palavras. «Não esperava que a história dele me impactasse tanto. Fiquei mais suscetível a olhar para o futuro e para as dificuldades com que me vou deparar de uma outra forma. Adorei a interação que estabeleceu com os jovens», afirmou Maria Santos, de 23 anos.
Próxima arena a 30 de outubro na EPVL
Próxima arena, inserida neste projeto, acontece a 30 de outubro, das 10h00 às 12h00, na Escola Profissional Vasconcellos Lebre, na Mealhada, sob o mote «Arena digital e inovação: workshops que utilizam tecnologias digitais e gamificação para ensinar os jovens a utilizar as ferramentas digitais para a participação cívica». Os convidados são Tomás Rodrigues, aluno de Multimédia nesta escola e de Margarida Marques, arquiteta, cofundadora da Rés do Chão, um atelier especializado em arquitetura e urbanismo com participação cidadã que desenvolve projetos de regeneração urbana e de qualificação de espaços públicos.
«Estamos a começar, pela primeira vez, o Erasmus+, que fundamentalmente pretende cruzar-se com outras culturas e identidades. Aqui queremos contribuir para que os jovens tenham uma postura crítica e construtiva, identificando o que pretendem para o nosso território. Sejam honestos e proativos com a comunidade», declarou, na cerimónia de apresentação do projeto, Hugo Silva, vereador no Município da Mealhada com o pelouro da Juventude, desejando «um bom ano de trabalho».
«Os jovens podem e devem ser envolvidos na vida cívica das comunidades. Devem ter voz, fazer-se ouvir e serem ouvidos», corroborou António Jorge Franco, presidente da Autarquia da Mealhada.
Mónica Sofia Lopes