Augusto Mamede homenageado, no passado dia 15 de agosto, pela população, com a atribuição do seu nome a uma rua de Casal Comba, ato aprovado pelos executivos da Junta de Freguesia e Câmara Municipal

Cerca de duas centenas de pessoas prestaram a sua homenagem, com presença num jantar em Luso, na noite da passada sexta-feira, a Maria Odete Isabel, a primeira presidente da Câmara Municipal da Mealhada – e uma das primeiras cinco mulheres em todo o país – eleita após o 25 de Abril, nas primeiras autárquicas livres. Esta eleição a 12 de dezembro de 1976 aconteceu pela bandeira socialista, partido, concretamente a Comissão Política na Mealhada, que levou a cabo esta homenagem, onde esteve também Augusto Mamede, vice-presidente desse primeiro executivo camarário.

A sala do espaço hoteleiro em Luso estava repleta de militantes do PS e simpatizantes do partido, mas também de amigos da Maria Odete Isabel, que assim prestaram homenagem à sua obra perpetuada no concelho da Mealhada. Esteve ainda presente o único elemento vivo, além de Maria Odete Isabel, que integrou o primeiro executivo da Câmara em 1976, Augusto Mamede, que foi seu vice-presidente, também eleito pelo PS.

Emocionada com o número de pessoas presentes, Maria Odete Isabel começou por dizer que estava «muito longe de imaginar que isto ia ser assim. No ano em que festejamos 50 do 25 de Abril, já imaginaram a alegria que vai neste coração?». «Ninguém faz nada sozinho e o sucesso das eleições de 1976, e o trabalho após isso, deveu-se à população e ao pessoal camarário», recordou a homenageada, confessando que «muita coisa foi feita e correu bem, mas também muita não o foi e correu mal».

Com uma vida profissional ligada à área farmacêutica, onde teve um cargo máximo nos Hospitais da Universidade de Coimbra, a homenageada foi também a responsável pela criação de um dos primeiros movimentos independentes em Portugal, tendo concorrido à Câmara em 2001, pelo Movimento Odete Isabel, hoje o MOI tornou-se uma associação cultural. «Esta iniciativa de hoje representa a reconciliação do PS Mealhada comigo e com os militantes da Mealhada expulsos pela comissão nacional por proposta da Federação Distrital», enfatizou Maria Odete Isabel, relembrando que os intervenientes da organização de um movimento independente «conheciam os estatutos do partido (PS) e as consequências disso, mas, mesmo assim, não baixamos os braços». «Se me tiraram o cartão não me tiram a marca: serei socialista até morrer. Continuo a acreditar, com os meus 84 anos, que não é pelas coisas serem difíceis que não temos ousadia, mas é precisamente por não termos ousadia que as coisas são difíceis. Desejo que sejam audazes na defesa dos valores de Abril e do Partido Socialista, que considero seriamente ameaçados”.

«Inspiração» foi assim que Joana Sá Pereira, presidente do PS Mealhada, definiu a homenageada. «A minha geração não teve oportunidade de ser governada pela dr.ª Odete Isabel, mas temos na memória a coragem que teve num período em que Portugal saia da Ditadura. O PS é um grande partido na Mealhada, muito também por ter políticos que transformam a vida das pessoas, como o fez Maria Odete Isabel, grande mulher e construtora de alicerces sociais no concelho da Mealhada», referiu.

Coube a João Pega, também militante do PS Mealhada, recordar o início do trabalho da homenageada na vida política concelhia. «Houve melhoria do acesso das crianças às creches; a preocupação com a habitação e em arranjar estradas; houve eletricidade para todos e devemos ter muito orgulho nisso», enumerou, agradecendo a Odete Isabel «a vida que levou a favor de todos nós».

 

«Mulher com qualidades absolutamente excecionais», referiu Jorge Sequeira

Jorge Sequeira, presidente da Federação Distrital de Aveiro do PS, enalteceu o facto de ter vencido «duas eleições e não uma. Convenceu os seus camaradas e depois o povo, numas eleições livres, por voto secreto, e isso diz muito não só da dr.ª Odete Isabel, mas também do povo da Mealhada. Não é menos importante que um povo tenha escolhido uma mulher, com qualidades absolutamente excecionais, para governar a sua terra».

«Antes do 25 de Abril, as mulheres não podiam estabelecer atividade profissional, não viajam sem autorização do marido, não podiam ser militares e diplomatas. Conseguir romper com tudo isto e ser-se eleito é um facto histórico de saudar», congratulou ainda.

 

Mónica Sofia Lopes