Na nossa rubrica “Vamos sair disto juntos” apresentamos, hoje, a entrevista a Manuel Veiga, presidente da Junta de Freguesia de Avelãs de Cima, no concelho de Anadia. O autarca confessa que a pandemia provocada pela Covid-19 está a ser encarada com “naturalidade, responsabilidade e adaptação” na freguesia, defendendo o uso da máscara, em cada saída à rua, e a paciência que cada munícipe terá que ter enquanto espera para ser recebido num serviço e/ou estabelecimento. “É preferível mantermos a guarda, do que estarmos confinados numa cama de um hospital ligados a um ventilador”, enfatiza.

 

 

Como é que a Junta de Freguesia tem lidado com esta pandemia?

A Junta de Freguesia tem lidado com esta pandemia com três predicados: naturalidade, responsabilidade e adaptação.

A naturalidade está associada à capacidade de estar nesta pandemia com as regras e orientações que nos são impostas em termos organizacionais e de executivo. Exigem algumas mudanças de comportamentos, contudo são ações apenas impróprias com a nossa maneira de viver até à data, mas sem nada de extraordinário. Temos a sorte de estar confinados num espaço rural, onde a maioria das famílias ainda tem jardim ou horta para se “distrair”.

Com muita responsabilidade, na medida em que temos de ser os primeiros a dar o exemplo e a estar preparados para qualquer tipologia de intervenção pública que seja necessária ou forçada. Dispomos dos equipamentos de segurança e estamos preparados para apoiar a população na globalidade dos serviços que sejam urgentes responder. Estamos atentos e a responder no minuto seguinte.

 

E a adaptação?

A adaptação passa por três dimensões. Na primeira, a de se executar as orientações das instituições superiores que tutelam diretamente a pandemia, em particular da Direção Geral da Saúde e instituições afins, como por exemplo, o trabalho de informação com a extensão do posto de saúde e a comunidade; na segunda, a articulação com o Município em todas as decisões que promovam a proteção e combate da pandemia em instituições sociais e particulares desfavorecidos a nível local, onde se destaca a desinfeção dos locais públicos e a comunicação de entrada de cidadãos provenientes do estrangeiro, para quarentena obrigatória de quinze dias. Apesar dos serviços da Junta estarem encerrados, sempre que solicitados, mantemos a resposta a um pedido.

Na terceira, apoiamos todas as instituições e cidadãos da freguesia no âmbito das nossas competências, ajustando esta aptidão, num apoio de comunicação, assegurado pelas redes sociais ou através do envio de flyers a todos os alojamentos.

 

Como tem reagido a população à quarentena / confinamento?

Pressentimos no início da pandemia uma certa dose de esperança na resolução rápida da mesma. Com o tempo essa ideia foi caindo e a população reagiu de forma muito ordeira e responsável às indicações e orientações solicitadas. No geral, ainda hoje se respeitam e dão a respeitar tais indicações. Agora, tem sido muito difícil deixar separados pais de filhos e avós de netos, num ambiente nunca vivido até à data, assim como a redução da “hospitalidade” nas nossas aldeias, pois um dos nossos postais é mesmo o convívio entre amigos, famílias e conhecidos. Deixar de celebrar as festividades religiosas e outras de índole cultural são momentos marcantes, de forma negativa, na alma dos nossos cidadãos e nossa.

 

Considera que o comportamento das populações se alterou com esta pandemia?

Naturalmente que o comportamento das pessoas se alterou com esta pandemia, principalmente na fase inicial com o receio de deixar de haver mantimentos e bens de consumo imediato e daí a corrida desenfreada aos locais de comércio. Essa fase, felizmente, passou e presume-se que hoje, haja um certo travão a esse ímpeto de comprar para guardar, até porque na maioria das famílias das nossas aldeias há capacidade de produção de muitos bens de consumo.

No entanto, há outros comportamentos que vão precisar de tempo e de uma certa maturidade, tais como a paciência para estar à espera na entrada das lojas para o seu tempo de atendimento, o uso da máscara, o convívio, etc.. Este último momento, sempre bem-vindo, normalmente, acabava por juntar as pessoas num balcão a beber uma rodada e a consumir-se algo mais. E estes momentos estão adormecidos, mas fazem falta para se manter a coesão social local e de amizade.

 

Quais as maiores preocupações que tem enquanto autarca?

As maiores preocupações enquanto autarca é que nada falte a qualquer cidadão ou família desta freguesia, de consumo, mas também em qualidade de vida. Tudo temos feito para manter a excelência da disponibilidade dos serviços aos cidadãos e temos respondido energicamente a qualquer falha, que pode sempre acontecer, como no abastecimento de água. Já foram detetadas e corrigidas algumas fugas de água. Em termos de serviços, ainda que encerrados, sempre que solicitados, temos dados as respostas aos cidadãos, de forma natural e sempre a incentivá-los a fazê-lo porque nós existimos para isso mesmo. Este é o nosso papel enquanto autarcas de freguesia: estar por perto das populações locais e apoiá-las nas suas necessidades e angústias.

 

Tem conhecimento de casos na freguesia?

No início da pandemia, éramos informados dos infetados por freguesia, o que muito nos tranquilizava, na medida em que somos conhecedores dos modos de vida e integração das pessoas nas nossas localidades. Com o tempo essa informação deixou de existir e só a muito custo o sabemos, isto é, informam do número de infetados, mas sem indicação da identidade e população, por parte da Direção Geral de Saúde. Achamos errado, por dois motivos: primeiro porque há dificuldade em atuar caso haja alguma incidência, segundo porque dá origem a boatos e considerações menos positivas. Nas IPSS é que temos essa informação, também relativa ao número de infetados entre utentes e funcionários, mas desconhecendo a sua identidade.

 

Quer deixar uma mensagem à população, nesta altura (ainda) de confinamento?

Deixamos uma mensagem de esperança, como sempre o fizemos e de disponibilidade, que é a nossa forma de ser e de estar perante os nossos cidadãos. As pessoas sabem e sentem que o resultado depende muito do comportamento de cada um, mantendo-se o nível de alerta e de cumprimento do confinamento social.

É preciso estarmos preparados para o uso de máscara, cada vez que sairmos de casa, num futuro muito próximo, pois é preferível mantermos a guarda, do que estarmos confinados numa cama de um hospital ligados a um ventilador.

E se assim o fizermos, da próxima vez que nos abraçarmo-nos, ninguém há de faltar.

As orientações são para cumprir, integralmente, para depois nos divertirmos, globalmente.