A entrada do bebé na creche é uma das etapas mais tensas e temidas pelos pais, uma vez que é interpretada pelos mesmos como um “mal necessário”, pois necessitam de trabalhar e não têm onde deixar o bebé, ou apenas por opção, considerando que o bebé necessita de se relacionar com outras crianças e adultos.

Naturalmente, durante os primeiros dias em creche existem muitas questões e inquietações sentidas pelos pais, as quais são perfeitamente compreensíveis e legítimas. No entanto, sem se aperceberem, os pais são os principais transmissores de ansiedade e angústia influenciando o comportamento das crianças.

Desta forma, é aconselhado aos pais, numa fase inicial, que o bebé fique poucas horas na creche, fazendo, assim, uma adaptação progressiva (por exemplo: ficar apenas uma hora de manhã, noutro dia almoçar, noutro dormir e, por último, lanchar).

Uma adaptação realizada desta forma ajuda a criança e os pais a adaptarem-se de forma lenta e gradual, diminuindo a ansiedade de ambos.

Contudo, cada criança e família têm o seu ritmo e necessidade, não existindo uma adaptação estanque e “mágica”!

Neste sentido, os pais e os educadores (adultos da instituição) têm um papel fundamental na integração e podem torna-la mesmo num processo fácil e sem traumas.

Quando o bebé é deixado na creche, pode experimentar sentimentos de abandono e até de solidão, sendo que não conta com a presença dos pais ao longo do dia. Em compensação, é integrada num grupo de crianças, que se podem mostrar agressivos nos primeiros dias, uma vez que existem sempre algumas crianças que já se conhecem de anos anteriores e já têm o seu grupinho formado.

Desta forma, podem acontecer mordidelas, arranhadelas, etc. mas tudo isto é perfeitamente natural nesta fase de desenvolvimento, ainda que não seja satisfatório ver o vosso filho com uma mordidela ou arranhão.

image (8)Porém, estas situações não acontecem por falta de atenção ou mesmo de supervisão por parte dos adultos pois os educadores não podem concentrar todas as atenções apenas numa criança.

É importante salientar que também é uma fase receada pelos educadores, uma vez que se preocupam muito com a forma como a criança se vai adaptar, se a criança cria relação com eles, se os pais compreendem os conselhos dados, se os pais gostam deles…

Relembro que o processo de adaptação da criança começa muito antes do primeiro dia de creche, começando em casa com os pais. É importante que os pais conversem com a criança, explicando-lhe como vai ser e o que irá acontecer.

A creche deverá ser entendida como a grande parceira na educação, desenvolvimento e crescimento do seu filho, como adjuvante na transmissão das bases necessárias para o seu bem estar físico, psíquico, emocional e intelectual.

 

COMO AJUDAR?

         Confie na creche escolhida: esta será casa do bebé e para que ele se sinta confortável, é imperativo que os pais se sintam seguros.

         Diversifique as pessoas que estão com o bebé antes da entrada na creche, fazendo com que o bebé fique mais confiante com outras pessoas para além dos pais.

         Brinque às escondidas com bebé, esconda-se atrás de uma toalha ou de uma porta e reapareça de imediato com um efusivo “cucu”. Esta brincadeira permite visualizar a ideia da sua ausência e ajuda a compreender pouco a pouco que voltam a encontrar-se depois da separação.

         Entregue a criança ao educador, não espere que seja o mesmo a retirar o seu filho do seu colo.

         Nunca deixe a criança sem se despedir, sem lhe dizer que vai sair e que vai voltar mais tarde.

         Crie uma rotina de separação: enquanto o bebé está ao seu colo, diga-lhe que vai trabalhar e que depois vem buscá-lo. Dê-lhe beijinhos e entregue-o procurando não demonstrar ansiedade.

         Assim que o bebé estiver ao colo do educador, não prolongue o momento da separação e saiam do seu campo visual (não é tentando acalmar a criança e prolongando o momento da separação que a criança se vai acalmar, antes pelo contrário, vai fazer com que a criança fique mais ansiosa).

         Seja firme na hora da despedida, não chore nem mostre insegurança porque o seu filho vai sentir a sua angústia e ficar mais aflito. É essencial que, mesmo que a criança chore ou implore para não ficar ali, não ceda a este tipo de “chantagem”.

         Leve o objeto de estimação (por exemplo: boneco, carro, fralda de pano) funcionando como objeto de transição. Este objeto é utilizado pela criança como um suporte de autonomia, pois é uma espécie de substituto materno e permite à criança organizar-se mentalmente na ausência das suas figuras de referência. Neste sentido, tranquilizará o bebé por ser uma recordação de casa, fazendo-lhe sentir mais seguro e acompanhado.

         Não esconda nada do bebé nem lhe conte meias verdades, seja claro e diga-lhe como será o seu dia-a-dia.

         Crie um ambiente alegre e descontraído, não se foque nas situações menos positivas mas sim nas coisas positivas: relembrar a criança o quão é importante brincar com outras crianças, explorar outros objetos e espaços.

         Não desista!!

 

         É natural que o seu filho fique a chorar após a separação, uma vez que é a forma de demonstrar desagrado e de protestar. Contudo, na maioria das vezes, o bebé acalma-se com relativa rapidez e deixará de o fazer ao fim de alguns dias!

         Sempre que possível, a criança não deverá permanecer na creche até muito tarde, não devendo prolongar a hora de ir buscá-la.

 

Artigo: Mariana Sousa – Educadora de infância e responsável pela Creche do CAPP

Imagem de capa: freestocks-photos (pixabay.com)