Ó Gentes da minha Terra?

Vossos feitos aqui chegaram

por imensas vidas sofridas,

olhares acaso deslembrados

e um oprimido gemido

por imérito sofrimento

 

Ó gentes,

que em vão não tenha sido…

 

Tantas lavouras,

quantas sementeiras

tantas mãos calejadas

quantas amarguras…

 

Ó gentes?

 

De vestes negras vos viam

pelas almas que partiam

rugas tristes carregaram

em faces que não sorriam

foram penas tão pesadas

sem culpas …

não mereciam, Ó gentes!

 

Poucas festas fizeram

mas poucos de vós faltaram,

parcos sorrisos de vós vieram,

e nem sempre vontade trouxeram

… a que custo este mundo nos deram…

… o que aguentaram!

 

… Ó gentes?

 

Já não temos de vós beirais,

com ninhos de andorinha,

nas casas onde moraram

restam peitoris vazios

carentes de mantas domingueiras

que distraíram corações,

agasalham-nos agora outros mantos

assolam-nos outros prantos

Vivemos este incerto meão

em que não nos amparamos

ignoramos quanto vos devemos

deslembrámos o que aprendemos

incapazes não replicamos,

descuramos o apreço devido

pelo legado deixado

almejamos que os netos sonhadores

vos memorem com orgulho sentido

 

Para que, ó gentes,

em vão não tenha sido!

 

Adérito Duarte