De hoje até domingo, a vila termal de Luso recebe a Feira do Mel e do Pão, na Alameda do Casino, onde estarão oito apicultores de vários concelhos da região das Beiras, num certame que inclui ainda artesanato e muita animação. Durante quatro dias, os visitantes têm a oportunidade de experimentar o pão e o mel produzidos pelos produtores locais, bem como outros produtos regionais, como queijos, vinhos e doces. A inauguração acontece esta quinta-feira, dia 14 de agosto, pelas 15h00. «Os visitantes têm a oportunidade de experimentar não só o bom pão e o bom mel como também outras iguarias, nomeadamente, doces e licores», apela a organização, que acrescenta que, no que toca ao pão «procura-se preservar a incentivar a produção tradicional, com farinhas e fermentos, e recurso ao forno a lenha».
Longe vão os tempos em que se vendiam «1200 quilos de mel, 300 pães, 50 broas e 40 bolos de mel» num só evento, conforme noticiou um jornal local em 2003. De qualquer das formas a Feira é um marco desde 1983, altura em que um grupo de amigos e produtores locais de mel decidiu organizar um evento onde pudesse promover os seus produtos. Não tinha data fixa, nem se realizava anualmente, só o espaço era sempre o mesmo: junto à Fonte de São João em Luso.
Em 1999, o «encontro» passa a denominar-se com o nome que ainda hoje tem, realiza-se em maio e em parceria com o GEDEPA; em 2001 a parceria é feita com o Grupo Folclórico «As Tricanas» e realiza-se em setembro, sendo que é nesse ano que nasce a Associação de Apicultores do Litoral do Centro (a 16 de novembro com onze apicultores). A partir de 2002 a feira realiza-se sempre em agosto e, desde 2004, que é levada a cabo somente pela AALC. Desde a sua criação, o certame contou sempre com o apoio do Município da Mealhada, da Junta de Luso, da Sociedade da Água de Luso, entre outras entidades.
Em 2025 cumpre-se a 25.ª edição da Feira do Mel e do Pão. «Agora vendo, habitualmente, 150 kg de mel, mas, no passado, cheguei a escoar 600 kg», disse, ao nosso jornal, Vitor Cruz, de Luso, um dos fundadores da Associação e elemento do grupo dos primórdios que iniciou a feira nos anos oitenta. «Hoje ainda acontece muitas pessoas virem aqui só para comprar mel, mas a Feira reinventou-se e temos muitos outros produtos como sabonetes, rebuçados, batom, geleia real e creme de mãos», continua o produtor.
«Há um decréscimo no consumo e os apicultores têm de arranjar outras alternativas para que o negócio se mantenha, nomeadamente com a aguardente e o licor de mel», explica também Rui Barrocas, do Pego, outro dos fundadores da Associação e da Feira, que garante que a grande premissa da Feira é «apanhar» sempre o feriado de 15 de agosto: «É quando os emigrantes estão cá e dão muito valor em levar este mel para os países onde estão».
E se em outras alturas, o certame chegou a ter perto de duas dezenas de produtores, em 2025 terá oito oriundos de Coimbra, Penacova, Cantanhede, Águeda e Luso.
Licínia Ferreira, da Lendiosa, está neste evento, com o pão, desde 2012. «As feiras de antigamente eram muito boas. Estacionavam muitos autocarros e vendia-se muito porque vinham ranchos de longe que traziam muita gente. Depois com a pandemia notou-se uma grande quebra, muito devido ao aumento do preço das farinhas e dos ovos que levou também à subida do produto final», diz, explicando que só faz pão com «massa mãe», amassa à mão e em forno a lenha. «Só produzo o meu pão depois de apanhar casca de eucalipto e pauzinhos para colocar no forno a lenha», desvenda, garantindo que também é muito procurada pelo bolo de mel. «Estou a ensinar as minhas filha e neta a cozer até porque é tradição estarmos aqui, todos os anos, nesta feira», diz.
Desde a pandemia que a animação da Feira está a cargo da programação de verão da vila termal promovida pelo Município. Assim, a inauguração dá-se a 14 de agosto, pelas 15h00 com término às 22h00; e no dia seguinte, a feira acontece das 10h00 às 22h00, com a atuação de Rui Tanoeiro prevista para as 21h30, no Palco da Alameda.
No sábado, 16 de agosto, o horário será também das 10h00 às 22h00, com Hangover Band às 21h30. No domingo, o certame volta a realizar-se no mesmo período, com a realização das «Manhãs Ativas» às 11h00 na Fonte de São João; e uma tarde de folclore, a partir das 17h00, no Palco da Alameda.
Vespa asiática mudou o panorama da apicultura
A Associação dos Apicultores do Litoral Centro foi fundada a 16 de novembro de 2001 por um grupo de apicultores onde estavam João Moras, Manuel Várzeas, Rui Barrocas, António Rodrigues, António Heleno, Fernando Maria, Nelson Miranda, José da Costa, José Pedro, José Figueiredo, Vítor Cruz e António Morais. Atualmente conta com 801 sócios, sendo que destes, três centenas são sócios ativos.
Com abrangência de Ovar até Coimbra e de Santa Comba Dão até Figueira da Foz, a associação – com sede em Luso – nasceu, de certa forma, por força da Feira da Mel e do Pão em Luso, que permite, desde há vários anos, o escoamento do produto. «O nosso número de associados é muito bom quando comparado com outras associações. De qualquer das formas dos cerca de 300 sócios ativos, só dez são profissionais, uma vez que se exige para esta condição 150 colmeias e os nossos associados, em média, têm somente trinta cada um», refere Andrea Chasqueira, da AALC.
Vitor Cruz tem atualmente trinta, mas já chegou a ter 105. «De mil e tal quilos que produzia por ano, se agora fizer 300 já é bom. O mel já não sobra como antigamente», refere, corroborado por Rui Barrocas que garante que «com as pragas, o investimento cada vez é maior. As condições climatéricas e a vespa asiática, que ataca as abelhas, veio mudar muito o panorama de quem produz o mel».
«Recentemente fiz as contas aos gastos que tenho em cada quilo de mel e ronda os 15 euros, quando eu o vendia a dez. Obviamente que tive de aumentar o preço e nem contabilizo o trabalho que tenho semanalmente com as colmeias, caso contrário ainda subia mais», acrescenta ainda Vítor Cruz.
Mónica Sofia Lopes