A Fundação Mata do Bussaco inaugurou, na manhã do dia 21 de dezembro, a exposição “A Influência dos Carmelitas Descalços na construção da Mata do Bussaco”, que estará patente ao público, de forma permanente, no Convento de Santa Cruz, na Mata Nacional do Bussaco.  Uma mostra oferecida pela Fundação Luso, num valor superior a quinze mil euros, e que, numa exposição anterior, foi vista por mais de cinquenta mil visitantes. Na cerimónia de “inauguração”, António Gravato e Nuno Pinto Magalhães, presidentes das Fundações em questão, adiantaram o início de uma parceria, a iniciar já em 2017.

A exposição, que esteve patente no Casino do Luso, durante quatro meses, “recebeu” mais de cinquenta mil visitantes, que puderam visualizar este espólio, gratuitamente. Um trabalho que, segundo um comunicado de imprensa das duas Fundações, “tem como principal objetivo dar a conhecer a influência que os Carmelitas Descalços tiveram na plantação e edificação da Mata do Bussaco e do contributo singular na criação de um legado patrimonial único, de que todos hoje podemos usufruir”.

Nuno Pinto Magalhães, presidente da Fundação Luso, agradeceu “a oportunidade que a Fundação Bussaco nos dá de termos esta ligação” e referiu estar a ser estudado “um protocolo de três anos entre as duas entidades”. “É a forma que temdsc01747os de ajudar a comunidade e, em simultâneo, proteger o recurso aquífero da água do Luso”, disse.

Agradecendo as palavras, António Gravato, presidente da Fundação Bussaco, declarou: “Não vejo outra forma de desenvolver a minha tarefa, que não seja com parceiros”. “O apoio que estamos a pensar para 2017, na prática até já existe. Por exemplo, o programa que temos ‘Sons do Bussaco’ tem sido um sucesso e tem a vossa ajuda”, referiu ainda o dirigente, acrescentando que “as duas Fundações estão ‘forçadas’ a darem-se bem”.

Ordem dos Carmelitas Descalços. O que é?

Recorde-se que a Ordem dos Carmelitas Descalços foi fundada conjuntamente por Santa Teresa de Jesus e João da Cruz, chegando a Portugal em 1581. É no seguimento da autonomização da província portuguesa dos Carmelitas Descalços que surge, por imposição das constituições da ordem, a necessidade de instituição de um “Deserto” – local de retiro que facilitava a estes religiosos a vivência espiritual em comunidade e, também, em eremitérios.

Em 1628 é constituído o “Deserto dos Carmelitas Descalços do Bussaco” onde, durante mais de dois séculos, estes frades permaneceram em regime de clausura. Aqui edificaram um vasto património que inclui capelas e ermidas, fontes, o convento e uma via-sacra única no mundo à escala de Jerusalém, contribuindo, também, de forma bastante significativa, para a criação da majestosa floresta do Bussaco que hoje podemos contemplar.

Saliente-se a oportuna ocasião para a realização desta exposição que hoje inauguramos, agora que a Mata Nacional do Bussaco é candidata a Património Mundial de UNESCO, pelo seu excecional valor e riqueza. Um património histórico que se reflete através das inúmeras edificações que transportam os visitantes para um espaço excecional, místico e espiritual desta Ordem Religiosa.

Outro registo importante, e patente na exposição, é a ligação à água, evidenciando-se a boa gestão deste recurso natural, e que levou à construção das sete monumentais fontes, distribuídas pela Mata Nacional do Bussaco, permitindo-se assim acesso à água para consumo e para a agricultura.

Histórico Convento de Santa Cruz…

O Convento de Santa Cruz, ligado à prática eremítica dos Carmelitas Descalços e à ação reformadora (1562) de Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, estimulou a criação de um dos mais originais Desertos da Ordem.

A sua história inicia-se em 1628, quando o bispo de Coimbra D. João Manuel doa aos carmelitas da província portuguesa a mata do Bussaco para a construção do convento e retiro dos religiosos da Ordem. No apelo constante à solidão e ao afastamento do mundo, o Convento seria então o palco de uma experiência profunda de contemplação, oração e penitência.

A partir da ação enérgica de frei Tomás de S. Cirilo, frei João Baptista e Alberto da Virgem, o essencial da construção da complexa estrutura conventual decorreu até 1639, altura em que foi sagrada a igreja dedicada a Santa Cruz.  Aqui, aliou-se o sentido simbólico da planta centralizada à prática pouco comum da colocação do templo no meio dos espaços de circulação associados às estruturas claustrais, estabelecendo-se assim a aproximação ao arquétipo do Templo de Salomão, primeiro espaço verdadeiramente sagrado da Cidade Santa. No Convento do Bussaco, o discurso iconográfico do espaço, das formas, dos materiais e das técnicas vai ao encontro de uma espiritualidade que se constrói pela fé e pobreza. O emprego das cortiças e da técnica dos embrechados, os conteúdos da azulejaria ou a força da imaginária religiosa reforçam esse sentido de uma exemplaridade cristã vivida no  isolamento.

O Convento de Santa Cruz do Bussaco tinha outra dimensão que respondia às necessidades da vida conventual mas, apesar dos rigores de um quotidiano de silêncio e penitência, não deixou de ter um papel fundamental no acolhimento ao cenário de guerra da Batalha do Bussaco (1810) ou atrair um constante fluxo de religiosos que, em regime temporário ou perpétuo, escolhiam o Bussaco.

Procurado e beneficiado por algumas das mais prestigiadas entidades eclesiásticas dos séculos XVII e XVIII, como D. Manuel de Saldanha, Reitor da Universidade, ou D. João de Melo, bispo de Coimbra, o Convento de Santa Cruz prosperou até 1834, data em que a extinção das Ordens Religiosas ditou o seu abandono.

A partir de 1888, contudo, um novo impulso construtivo traria ao Bussaco o Palace Hotel que, se implicou a destruição das estruturas conventuais anexas à igreja, ao corredor e pátios que hoje testemunham a existência do Convento, permitiu a sua inclusão num Bussaco romântico que permanece como um dos locais patrimonialmente mais ricos na sua diversidade compositiva.

 

Horários e preços:

A exposição estará patente ao público nos mesmo horários de funcionamento do Convento de Santa Cruz e com as mesmas condições de acesso: das 9h às 13 horas e das 14h às 17 horas;

Adulto: dois euros; crianças dos sete aos doze anos de idade: um euro