A Associação Desportiva Cultural e Recreativa de Antes, no concelho da Mealhada, esteve em festa, na passada quinta-feira, 19 de junho, com o centenário de Irene Duarte Saldanha, utente da resposta social Estrutura Residencial para Pessoas Idosas. A ligação à instituição, que os familiares não se coíbem em congratular, tem já quase duas décadas.
Irene Duarte Saldanha nasceu a 19 de junho de 1925, em Ventosa do Bairro; tendo vivido na Quinta da Tapada na Mealhada; emigrado para Angola durante dez anos, na década de 60, para acompanhar o marido, que trabalhou no setor da fruta; e regressado a Portugal, para viver na Antes, onde esteve na sua habitação, até passar a permanecer a tempo inteiro na Instituição Particular de Solidariedade Social situada na mesma localidade.
António Batista da Cruz, marido da «Ti Irene», passou a integrar a ERPI da Antes em 2002, tendo a companhia da esposa, desde 2006, quando iniciou o Serviço Apoio Domiciliário. Em 2019, ambos passaram a ficar a tempo integral na instituição, local onde festejaram os seus 70 anos de matrimónio. O marido faleceu há quatro anos, com 98 anos de idade.
Apesar de algumas limitações próprias da idade, a ADCRA refere que «a utente é um exemplo vivo de muita dedicação familiar e de muitas memórias. Preza muito a companhia da família, demonstrando sempre alegria com as visitas, videochamadas e outras atividades que se realizam na instituição».
No seu centenário, Irene Saldanha contou com a presença da sua família mais próxima nas instalações da ADCRA, nomeadamente, os filhos Albertino e Lourenço, de 77 e 76 anos, respetivamente, ambos emigrantes nos Estados Unidos da América, um deles já a residir em Portugal há alguns anos. «Nem todos chegamos a esta idade desta forma, mesmo que a andar com a ajuda de um andarilho», afirmaram, ao nosso jornal, os filhos, referindo que a mãe «nunca teve doenças». «A única operação que fez foi a uma perna, durante a pandemia, em que caiu duas vezes», explicou Albertino Saldanha Batista, acrescentando que «até o vírus da covid teve e está aqui assim, como se vê».
De quatro irmãos, «Ti Irene» foi a única que chegou aos cem anos, sendo que o único vivo tem menos de dez anos do que a recém aniversariante. Com a terceira classe incompleta, os filhos recordam que, durante cinco anos em que o pai esteve sozinho em Angola, a mãe escrevia cartas ao marido. «Aprendeu a ler e a escrever com a nossa ajuda», declararam.
Enquanto falávamos com os filhos, Irene Saldanha foi interrompendo a conversa ora recordando «a vida dura do campo de antigamente, onde tudo era carregado à cabeça», ora manifestando alguma estupefação de assinalar cem anos de vida, prometendo, contudo, ir «comer bolo e beber uma tacinha de espumante».
Para Céu Almeida, diretora técnica da ERPI, «é sempre uma grande alegria e um enorme privilégio, poder ter utentes na instituição, a celebrar os seus cem anos de vida. É um marco importante na vida da aniversariante, mas também para todos os outros que estão a seu lado». Com quase duas décadas de ligação à instituição, «sentimos que fazemos parte da sua história e felizes por celebrar este dia em conjunto».
Texto de Mónica Sofia Lopes
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