Há duas décadas que o pão, a broa e a doçaria fazem a vida diária da Padaria Nossa Senhora das Candeias, na aldeia de Mala, no concelho da Mealhada. A este sucesso juntou-se a localização do negócio, que fica no meio do caminho da peregrinação para Santiago de Compostela, inspiração para a criação das «Broinhas de Santiago» e até mesmo pizzas, que Pedro Trindade, proprietário do espaço, aprendeu a fazer com um peregrino italiano.
Assinalam 20 anos em 2025, sob o lema «amassar, folgar e cozer» (cuja premissa são massas de fermentação lenta, que não vão ao frio), e há mais de uma década que se recordam de ver por ali passar peregrinos. «Um grupo de italianos chegou a Compostela, há cerca de 13 anos, e recomendou a nossa padaria para o Guia dos Caminhos de Santiago», começa por explicar Pedro Trindade, filho dos proprietários, que há dez anos abraçou também o negócio, desvendando ainda que «foram os próprios peregrinos que me ajudaram a criar uma página no google, onde eles vão indicando a padaria através de comentários».
«Um pequeno Oásis na pista do caminho», lê-se num comentário em inglês, realizado há três meses, que se confunde com centenas de outros deles, em várias línguas, e todos muitos similares com elogios aos produtos, ao espaço e aos proprietários. «Eles param sempre para tomar alguma coisa, alguns para descansar e conversar e nós colocamos o “carimbo” numa espécie de passaporte que usam», continua Pedro Trindade, confessando que aprendeu «a fazer pizza à napolitana com um italiano», com quem mantém contacto e que até já esteve para ficar em sua casa. «Também fiz amizade com um japonês, que já fez o caminho duas vezes, e me enviou mensagem recentemente a dizer que para o ano cá estará outra vez», diz.
Com um pico menor em julho, agosto e por alturas do Natal e da Páscoa, o ponto alto da passagem acontece agora de setembro a novembro. «É um orgulho e uma grande satisfação ver o nosso pão ser comido por pessoas de todo o mundo, em maior número australianos, italianos, holandeses, alemães e americanos», sublinha o jovem de 36 anos, que afiança, que antes da pandemia, «recebíamos 30 a 40 peregrinos por dia. Chegávamos a vender um quilo de café diariamente».
Passada a pandemia, em que a padaria sobreviveu com serviço «porta a porta», e já integrado na marca «4 Maravilhas da Mesa da Mealhada», desde 2021, a Autarquia da Mealhada desafiou o espaço a criar um doce conventual em homenagem aos peregrinos, que foi apresentado na BTL duas vezes. Assim nasceram as «Broinhas de Santiago», que depois de «levadas» a um programa televisivo em dezembro de 2023, resultaram num grande sucesso, em que só numa semana foram confecionadas sete centenas.
A receita não tem segredos: «Farinha, amêndoa, ovos, chila, cocô, raspa de limão e finaliza com folha de hóstia». «Fui corrigindo algumas coisas na maneira de confecionar, para me facilitar o trabalho, mas os ingredientes são totalmente os mesmos desde o início, que foram pensados e originados pela diversidade cultural de países que por aqui vão passando», explica Pedro Trindade, acrescentando que «os peregrinos mais curiosos, que fazem pesquisa antes, já chegam a perguntar pelas broinhas. Para os americanos é um “cookie”, os brasileiros chegam mesmo a levar umas quantas consigo».
Pedro Trindade confessa que nunca foi muito chegado ao trabalho dos pais, mas que terminado o 12.º ano não sabia o que fazer. «Fui para o Centro de Formação da Pedrulha e com a teoria, mais do que a prática, comecei a ter um gosto enorme por este trabalho. Apercebi-me que afinal isto não era só misturar farinha com água», diz-nos.
«Para além do que consomem, peregrinos enriquecem-nos culturalmente»
«Luto pela sinalética e melhoramento dos Caminhos de Santiago porque considero essencial que tiremos proveito turístico disso», declarou ainda, ao nosso jornal, Pedro Trindade, confessando que «para além do que consomem, enriquecem-nos muito culturalmente».
«Muitos deles, que fazem vários percursos, falam muito bem do francês, desde os caminhos, à sinalética e aos vários momentos alusivos ao tema durante toda a via», afirma o jovem, concluindo que, apesar disso, Portugal tem todo o potencial para fazer o mesmo: «Ainda na semana passou aqui uma médica, que vive em Nova Iorque, e me disse que gostou tanto do nosso país, que quando se reformar é aqui que quer comprar casa».
Mónica Sofia Lopes