Povo que lavas na rua, porque nem sempre te dão voz noutro lado, avivai as memórias e as de outros mui nobres desta terra, que reciclar não é propriamente “vira o disco e toca o mesmo” e, vai de modas até à exaustão lá porque quase ninguém dá por nada!

 

Não há justificação para que em certas alturas (ou incertas) nos façam aguentar, que é o termo, doses de injeção sobre a importância que supostamente nós temos… as PESSOAS!

Mas gaita, (de foles) não era suposto? Ou não será para levar à letra e não é para todas… as PESSOAS?

 

A importância das pessoas comuns não carece de referência destacada se não tiver subjacente a vontade expressa de suprimir as NECESSIDADES dessas mesmas pessoas e, quem o pode e deve fazer, em vez de as contornar ou ignorar e apenas de quando em vez, mas mesmo só de vez em quando, nos virem impingir que as pessoas são muito importantes, sem nos dizerem muito bem para quê e o que devemos esperar disso.

E as “pessoas” são um todo, são todas, são os cidadãos e são as organizações e empresas onde atuam diariamente. E, não pode haver logo à partida a divisão entre pessoas boas e más porque ajuizar é para juízes!

 

Pode parecer apenas uma questão de semântica mas faz toda a diferença, porque as pessoas valem o que são e o que precisam para viver bem e portanto, sempre e quando se falar ou ouvir o chavão que “o importante são as pessoas” deverá estar escarrapachado o que daí virá. O depois.

 

Parece que nessas tais certas alturas, assim de repetente mesmo, alguém descobre que andava a tratar bem de mais os animais (isso nunca é demais) mas se tinha esquecido das pessoas! Ou então que não consegue encobrir quer a importância das ditas só diz respeito á sua existência por si só e não ao que elas precisam de facto. E, já agora, em que é que lhes pode valer quem lhes diz que são importantes!?

Mas tenho cá para mim que as ditas cujas pessoas de tão importantes serem acabam por ter, é mais de menos e menos de mais, por parte de quem lhe atribui essa generosa importância… efémera.

 

Devia ser óbvia a importância das pessoas e das suas necessidades em qualquer altura e, não só por moda como nas coleções de roupa, nos slogans políticos ou nos anúncios do faceboock, (que até há quem não tenha…)!

 

E mais; devia ser proibida, democraticamente claro (como nem sempre) qualquer preocupação destacada com as pessoas e passar a ser obrigatório por decreto não democrático, a exclusiva preocupação com o que elas precisam, com o que elas sofrem, com o que pensam e passam, com o que lhes falta na escola dos filhos, com o que têm e o que não têm e deveriam ter, como vivem, o que podem comer, o que sabem, o que lhes é escondido, o que lhes é vedado, que oportunidades lhes são dadas e com que resultados podem sonhar e ainda com quem podem contar e da parte de quem… ufa !!!

– Isso é que era! Dirão que estará implícita essa importância! Não, não é de todo assim… linear e há uma linha que separa, em vez de juntar, a trivialidade de referir a importância das pessoas da responsabilidade de lhes proporcionar as boas condições e felicidade de vida (que todos merecem)!  

 

Mudaria tanta coisa se algumas pessoas pensassem, mas sobretudo agissem MESMO em prol… das terceiras pessoas!

E assim até poderíamos a esses beneméritos chamar depois… “muito boas pessoas”!

… Pois, mas é só fumaça… porque o povo é (obrigado a ser) sereno e até já tem mais um genuíno SALVADOR.

E por falar em Sobral e no facto dele ter dito após ganhar o Euro-festival que ia aumentar o caché (é justo!) dou por mim a pensar que enquanto nesta terra dos Festames que tem destaque no cartaz “entradas gratuitas” talvez fosse também boa ideia pensar em proporcionar, “às pessoas daqui” um bilhetito grátis para as festanças vizinhas, porque senão, lá está… temos pessoas e pessoas e, depois umas não pagam num lado e pagam no outro ou no fim… pagam todas mas de outra qualquer forma! No fim… ou não têm importância nenhuma, porque as pessoas aguentam!

 

Não escondo o meu fascínio por aquela soberba interpretação do Lima Duarte: “quanto mais festa… o povo melhor! … Distrai eles, cansa eles… e eles fica quieto”!

 

Era mas é, levar a coisa á letra (ai se se pudéssemos!) sobre a importância das necessidades reais das pessoas e não permitíssemos que na maior parte do tempo nos deixassem fora do alvo! (ao invés de nos manterem na mira, se é que me faço entender).

 

Quantas Mulheres mães e pais, quantos Homens pais e mães, percecionam que lhes dão a justa importância?

Que apoio tem mais de um quinto das famílias registadas como residentes no município da Mealhada constituídas por uma SÓ pessoa? (Quase 19 %, sendo a média distrital de 17% – INE)

– Famílias com uma só pessoa sempre as houveram e, na maioria dos casos não é bom sinal, mas o que mais me faz pensar são as famílias que até têm várias pessoas mas afinal são “apenas” a soma de várias “famílias” de uma só pessoa, uma espécie de cada um por si e… todos tristes (embora isso possa ter razões para além das pessoais)!

E também é bom saber que por aqui, somos mais cerda de 20 mil, mas que mais de um quinto tem mais de 65 anos e 14 % são crianças ou adolescentes, que é como quem diz que por cada 100 jovens, vivam aqui, 154 dos ditos mais velhos e… a quem é que interessa isso? Pois talvez tenha de interessar a todos nós.

… Precisará, a quem a isso se propõe, mais do que conseguir acomoda-las em lares e fazer-lhes festas umas tantas vezes por ano, orientar mais os esforços para formar e sobretudo exemplificar também outras dignidades ou simplesmente ensaiar outras equações a montante e a jusante e, trabalhar de facto em regime proactivo, sabendo que por aqui vivem muitas pessoas a quem ninguém vale e, que pouco valem para alguns!

 

Quanto aos que pensam e acham que vão poder viver eterna e normalmente, beber, comer e também o resto, sem dar conta do que valem verdadeiramente as pessoas mais velhas… pois, “perdoai-lhes senhor que eles não sabem o que fazem” nem o que pensam.

 

Ouvir a toda a hora que as pessoas são importantes e no fim de contas apercebermo-nos que afinal só o são algumas… é uma merda. Ponto.

Se gostarem de dourar a pílula não pensem assim, que eu aceito, e podem também ler Fernando Pessoa.

 

Vivemos a era dos PESSOLITICOS e das POLISSOAS, os tais políticos que se preocupam com as pessoas… QUANDO elas VOTAM e, as tais PESSOAS que já não acreditam nos POLÍTICOS… quando neles VOTAM!

Fica o presente repartido.

– Mas retomando, seria assim tamanha utopia pensar que o principal fossem sempre as necessidades das pessoas? E seria felicidade a mais se as pessoas não andassem tão SÓS a procurar safarem-se?

A indiferença de todos para com as diferenças de cada um, arrepia!

– Claro toda a gente tem facebook” e portanto, temos todos muitos amigos, que ao mínimo sinal de alerta… gritam logo “força amigo”, “beijinhos”, “love you”, “és uma guerreira”, “se precisares de alguma coisa, já sabes”, “se eu estivesse mais perto”, enfim gente boa, mas vai daí… passado um sonito cada um que se desenrasque porque nesta terra que “Deus tem” ninguém tem tempo para nada, mas todos querem ter tudo.

 

É capaz de ser como o Luís de Matos disse, (o tal que andou na ajuda ao Cupressus Lusitânica):

“Nós não gostamos de ser enganados mas gostamos de nos enganar a nós próprios”. Foi ele que disse…

 

Não fosse o Marcelo a dar abraços a todos e ninguém sorria ao saber que há “voos” que só estão ao alcance das vacas metálicas nas mãos de um primeiro-ministro e, mesmo assim a avaliar pela que mostrou na televisão aquilo era meio desengonçado…

 

Um abracinho é um abracinho, mas não é tudo, o pessoal merecia estar “menos só” nos seus sonhos, no seu trabalho, na luta diária pelo pão, na sua formação…, mas a “coisa” é dura e também temos de admitir que a malta às vezes é mole e acomoda-se e, isso acaba no final por lhes ser fatal.

Mas ainda me ocorre que mesmo todos sós e poucos, zás meia volta, ainda nos conseguimos dividir mais!

É só estar atento!

Constato de facto e não sou feliz com isso, ver tanta gente na minha terra a extremar posições por coisas de tamanho de amendoins e a menosprezar os semelhantes conterrâneos por absurdo egocentrismo disfarçado por falso altruísmo.  

Humanamente custa saber disto e sentir ao mesmo tempo um certo andar de carruagem… na mesma linha.

 

Custa-me saber e sentir que a novos e a velhos se lhes amarram as mesmas correntes, as mesmas prisões, que os condicionalismos são mais que muitos e que a liberdade é tanta mas afinal cabe a tão poucos!

Parece (!?) que temos medo de tudo por causa de nada…

Custa-me engolir que ainda tenha de ser assim depois de tantos sacrifícios de quem nos trouxe até aqui!

Custa-me que, com tudo o que o mundo novo nos dá, nos consigam manter apáticos e nos embalem num berço onde cada vez os NOVOS precisam e os VELHOS MERECEM… e ambos não tenham, MUITO MAIS.

 

Quem me dera que todos fossemos mais pessoas, mais livres e mais felizes AQUI.

 

Adérito Duarte