«Tem-se reduzido a cidadania a um programa de uma disciplina, parecendo que o único responsável pela cidadania e valores é somente a escola e não a sociedade. O mesmo acontece com os “smartphones” em que fica a ideia de quem começou a usá-los foi a escola e não as famílias», lamentou, ontem, Fernando Trindade, diretor do Agrupamento de Escolas da Mealhada, aquando da receção municipal à comunidade educativa na Mealhada, que juntou no Cineteatro Messias centenas de pessoas entre docentes, não docentes e técnicos ligados ao setor da educação no concelho mealhadense.
«Devemos olhar com algum sentido crítico para a temática da “cidadania e valores” e a verdade é que as coisas não estão tão bonitas como parecem. Tem-se reduzido a cidadania à questão de um programa de uma disciplina, parecendo que quem tem que tratar disto é a escola e não a sociedade», referiu Fernando Trindade, desvendando também que «a Mealhada vai avançar muito no que toca aos “smartphones”», até porque o Agrupamento de Escolas da Mealhada, sabe o nosso jornal, aprovou em conselho geral, no final de 2024, um regulamento de uso de telemóveis com restrições de utilização, em recinto escolar, mediante os diferentes ciclos de frequência dos alunos.
Dando como exemplo o caso da China e de Taiwan, «em que há regras muito definidas no uso de «smartphones» nas escolas e pelas famílias», Fernando Trindade defendeu que os telemóveis «não são um problema da escola, até porque não foi “ela” que os começou a usar». «Andamos constantemente a atirar ao lado. Se queremos sentido crítico também o temos de ensinar», afirmou.
Ana Mónica Oliveira, em representação da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, entidade que será extinta para dar lugar a uma redistribuição de funções tuteladas por uma Direção Geral alargada e pelas CCDR, destacou que a Escola «deve ter restrição na utilização de “smartphones”; combater a desinformação; e ajudar os alunos a serem ensinados para pensar». Como sugestão, falou «no reforço dos hábitos de leitura; nos dez minutos de sol por dia; e na promoção do convívio sem telefones». «Isto dará reforço à independência e autonomia do aluno», destacou, defendendo ainda que «as associações desportivas e artísticas devem ser acarinhadas pelo papel fundamental no lado lúdico de aprender e estar em sociedade».
Carlos Sousa, diretor da Escola Profissional Vasconcellos Lebre, deu a conhecer «projetos inovadores» implementados na escola no ano transato. «Tivemos, durante várias semanas, uma formação intensiva com professores e colaboradores, que pretendeu essencialmente abolir muros entre disciplinas. Trabalhar em cooperação é mais estimulante para os professores e para os alunos é muito mais fácil a aprendizagem», referiu, acrescentando que no que toca à nova legislação da cidadania, na EPVL foi levada a cabo uma iniciativa que envolveu «toda a escola, pais e as freguesias do concelho. Vivemos vários temas do ponto de vista prático na comunidade, sob o mote de que a cidadania e a educação são responsabilidade de todos e não só da escola».
Também a disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação foi substituída pela do «Projeto de Vida». «Temos uma consultora externa a ajudar-nos, naquele que consideramos o momento que visa proporcionar aos alunos um espaço de reflexão para que sejam treinados e ajudados a criar o seu próprio projeto», disse Carlos Sousa.
António Jorge Franco, presidente da Autarquia, referiu que a transferência de competências trouxe autonomia, entre outros, «para investimentos em manutenção e projetos de maior dimensão; implementação de equipamento moderno; recreios mais seguros; reforço nas AEC; requalificação de escolas; e ensino articulado da música».
Prémios de Cidadania e de Mérito Cívico com candidaturas até 26 de setembro
Na cerimónia, a Câmara da Mealhada deu ainda a conhecer o Prémio de Mérito Cívico, no âmbito do Prémio de Cidadania, aprovado pelo executivo municipal, e cujas candidaturas decorrem até 26 de setembro, referentes ao ano letivo transato. «Esta iniciativa vai muito além de um simples reconhecimento. É um convite à ação e aos valores de humanidade, empatia e pertença», referiu António Jorge Franco, presidente da Câmara.
Podem concorrer alunos do 1.º ao 12.º ano de escolaridade, dos estabelecimentos de ensino e formação do concelho, bem como alunos residentes que frequentem escolas externas ao Município da Mealhada. O critério obrigatório é o de que se tenham distinguido em ações de interesse público nas áreas de Humanidade e Solidariedade, Empreendedorismo, Desporto, Saúde e Bem-estar, Arte e Cultura, Ambiente e Resiliência e Superação.
O Prémio de Cidadania tem duas vertentes: o reconhecimento dos estudantes pelo esforço e dedicação a nível académico, por indicação do Agrupamento de Escolas da Mealhada e da Escola Profissional Vasconcellos Lebre, e o reconhecimento pelo seu sentido cívico, com o Prémio de Mérito Cívico, sendo os alunos distinguidos, após candidatura, individual ou de grupo, feita (por qualquer pessoa) até 26 de setembro, na plataforma http://participacaopublica.cm-mealhada.pt/cidadania.
Voluntariado com idosos, criação de uma aplicação para dar resposta à comunidade, realização de uma peça de teatro que envolva a comunidade ou ações de limpeza foram exemplos dados para uma candidatura válida ao Prémio de Cidadania.
Os prémios a atribuir terão uma natureza relacionada com o desenvolvimento da cidadania, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista coletivo.
Os resultados deverão ser conhecidos no mês de novembro, estando marcada a sua divulgação para dia 5 de dezembro de 2025.
Mónica Sofia Lopes