«A estância termal do Luso constitui uma das maiores riquezas com que a Natureza dotou o nosso país». As palavras são do Coronel J. Corrêa dos Santos e podem ler-se num livro editado por altura da inauguração do Grande Hotel de Luso, em 1940. A sua construção nasce precisamente de uma intenção do conselho de administração da Sociedade da Água de Luso, fundada em 1852 – da qual era presidente o médico Professor Fernando Bissaya Barreto, que tinha como «braço-direito» o empresário Comendador Messias Baptista, também elemento do órgão -, em fazer algo «para o engrandecimento das nossas Termas de Luso».

A ideia deste hotel, com uma piscina (de dimensões olímpicas, «inusitada» para a altura), começa a desenhar-se em 1937, depois de proposta apresentada em assembleia geral extraordinária. «O projeto do então chamado de Grande Hotel das Termas de Luso (durante décadas considerado um “departamento” da Sociedade da Água de Luso) é da autoria de Cassiano Viriato Branco, considerado por muitos a personalidade mais poderosa e inventiva do modernismo, mas também versátil entre a linguagem moderna e o estilo tradicional do qual é um bom exemplo o Portugal dos Pequenitos (Coimbra)», lê-se no sítio da internet do Grande Hotel do Luso, sobre um empreendimento inaugurado a 27 de julho de 1940, que primou, e segundo o Diário de Coimbra da altura, «pela rapidez da construção (cerca de 18 meses) e o uso (somente) de materiais portugueses».

«(…) O edifício em questão é constituído por sete andares, onde se encontram 200 quartos (dos quais 80 com apartamentos), servidos por dois ascensores, e diversas outras amplas divisões como sejam: salas de receção, leitura e fumo; restaurante, bar, grandes terraços, etc., etc., tudo mobilado com requintado gosto e harmonia. (…) Há telefones por toda a parte, assim como casas de banho, e o hóspede mais exigente encontra no interior do hotel tudo o que lhe possa fazer falta – barbeiro, cabeleireiro, manicure, etc. etc.», lê-se no Diário de Coimbra de 28 de julho de 1940, na edição do dia seguinte à inauguração do espaço, que faz também referência ao discurso do primeiro hóspede inscrito nos livros do Grande Hotel de Luso, José Bento de Almeida, oriundo de Lisboa e diretor do Laboratório «Saúde».

Muito ali foi vivido pelas «gentes» de Luso, do concelho e da região, mas também de várias partes do país e do mundo. A verdade é que ao longo dos seus 85 anos de «vida», o hotel, situado na vila de Luso com um olhar sobre a Mata Nacional do Bussaco, «soube acompanhar as novas tendências e exigências dos clientes», nomeadamente, a concretização do projeto do auditório, salas de conferência, piscina interior (nos anos de 90 do século passado), túnel de acesso às Termas de Luso e a reclassificação do hotel para 4 estrelas. Na história mais recente do hotel, deu-se a execução do projeto, da autoria do Atelier Reimão Pinto, de remodelação do espaço, que teve como ponto de partida a criação de uma nova imagem, que respeitou a identidade e arquitetura original, potenciando, contudo, os elementos modernistas, utilizando apontamentos Art Déco e valorizando a singularidade da sua arquitetura».

A vertente do termalismo nunca foi esquecida e, desde 2017, que as Termas de Luso estão concessionadas ao Grande Hotel de Luso, sendo assim um regresso às origens, uma vez que a unidade hoteleira foi construída na década de 40 do século passado, precisamente para fazer face ao alojamento de muitos aquistas, «à época, uma prática corrente das boas famílias, em que o Luso era um destino de eleição». Nos dias de hoje, um túnel liga as duas unidades, evitando que os utentes tenham de sair à rua.

Hoje, o Grande Hotel de Luso «grosso modo», entre outras ofertas e espaços, possui 132 quartos, um auditório com capacidade para 320 pessoas, doze salas de reunião, um ginásio (aberto ao público) e um bar / restaurante.

A piscina é marca forte daquela unidade hoteleira e a que gera mais memórias dos lusenses, uma vez que durante anos foi aberta ao público, atraindo pessoas de todo o lado. Foi o que aconteceu ao produtor cinematográfico Henrique Oliveira, que em junho de 2021, gravou ali uma das principais cenas da série televisiva «Cuba Libre». «É de longe a piscina mais bonita que há em Portugal», disse, ao nosso jornal, nessa altura.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Imagem de capa cedida pelo Arquivo Municipal da Mealhada

Imagem interior da notícia da autoria de José Moura