O trabalho do assador do leitão da Bairrada foi reconhecido e passará a ficar perpetuado num monumento que a Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada (que em janeiro último completou trinta anos) e o Município da Mealhada inauguraram, no passado sábado, junto ao Parque da Cidade da Mealhada, na presença de vários assadores da região, numa cerimónia presidida pelo secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado.

O novo Monumento ao Assador do Leitão da Bairrada teve como “objetivo prestar tributo à figura do assador do leitão, num concelho e numa vasta região onde diariamente são servidas milhares de refeições com base neste reconhecido ex-líbris da gastronomia nacional”, lê-se num comunicado da Autarquia da Mealhada, que acrescenta que foi o culminar de um desafio lançado há um ano. “A Câmara da Mealhada aceitou desde o primeiro momento este repto”, vincou Paulo Cerca, presidente da Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada.

A peça escultórica, da autoria do confrade António Duque, representa um tributo ao assador do leitão e aos cinco municípios da Bairrada onde o leitão é marca distintiva (Mealhada, Cantanhede, Anadia, Oliveira do Bairro e Águeda). “Hoje considera-se que a Bairrada tem mais municípios, mas em 1991, quando fizemos a nossa primeira reunião de trabalho com as câmaras foram estes municípios que estiveram presentes”, explicou, ao nosso jornal, desvendando que “há quinze anos que lutamos para prestar esta homenagem”. “O mais importante é valorizar uma classe, que nem sempre é respeitada, mas que contabiliza centenas e centenas de assadores. Hoje fala-se muito, e bem, em chefs de cozinha, mas não conheço nenhum que trabalhe nas condições de um assador de leitão”, disse ainda, enfatizando que “um leitão da Bairrada para estar às 10h00 em Lisboa, implica que um assador acorde às 5h00”.

“O monumento apresenta o arco do forno, numa estrutura constituída por diferentes lamelas (cada uma delas simboliza os diferentes tipos de assadores). Na base temos os cinco elos entrelaçados que representam os cinco municípios. O monumento terá, em breve, uma vara, que simbolizará o leitão da Bairrada, elemento que por razões de força maior não pôde ser incluído, a tempo útil, nesta peça escultórica”, lê-se ainda no comunicado da Autarquia.

“É uma justíssima homenagem a uma arte única que dá origem à nossa marca gastronómica e aos rostos anónimos que estão por detrás de cada prato servido com orgulho: os mestres assadores, os ajudantes, as famílias que mantêm viva esta tradição única”, começou por referir António Jorge Franco, presidente da Autarquia da Mealhada, apontando que “aqui está muito mais do que ferro e cimento, está memória viva”. “Que este monumento inspire os mais novos a respeitar e a continuar esta arte, e que seja um ponto de encontro para todos os que amam esta região”, rematou.

Na mesma tónica, Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, reconheceu que o novo monumento da Mealhada e da Bairrada “celebra a arte e o engenho, o património, a história e celebra a obra e aqueles que, muitas vezes, ficando na segunda linha, são responsáveis por nos apresentar um prato que é um ex-libris, que todo o país conhece e que devemos e temos a obrigação de continuar a preservar”.

Presente na cerimónia estava Ricardo Nogueira, assador há 35 anos e proprietário de um restaurante em Sangalhos, que, ao nosso jornal, admitiu “ter tido convites para outro ramo”, mas que é nesta profissão que quer continuar. “Assamos de forma tradicional, a lenha, e os cerca de mil leitões que asso num mês, é quase na totalidade para ser vendido no restaurante”, diz, acrescentando que “a matéria prima é de excelência, somente nacional e de vários pontos do país”.

Recordamos que para apoiar a materialização deste monumento, a Câmara da Mealhada aprovou, por unanimidade, um apoio extraordinário de 24.980 euros (+ IVA).

 

Mónica Sofia Lopes