Bruno de Jesus, natural do Travasso, freguesia da Vacariça, é um dos coordenadores da equipa de investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes que conseguiu “reverter células adultas em células estaminais” ao reduzir o gene expresso nas células de ratinhos envelhecidos.

Ao «Bairrada Informação», Bruno Miguel Bernardes de Jesus explicou-nos o processo realizado para esta “descoberta”. “Todos os seres vivos passam por um processo de envelhecimento das suas células, envelhecimento esse que está relacionado com a perda de características vitais que poderão levar ao aparecimento de várias doenças (doenças relacionadas com o envelhecimento). Por outro lado, o envelhecimento celular constitui uma barreira para a manipulação das células adultas, como por exemplo na capacidade de transformar uma célula adulta numa estaminal (com características mais ‘novas’). Este processo denomina-se reprogramação celular”, referiu o também Professor Auxiliar na Universidade de Aveiro, que acrescenta que “o ácido ribonucleico, ou RNA, é responsável pela síntese de proteínas dentro das células. No entanto, existem moléculas denominadas de RNA não-codificantes que não produzem proteínas. Desde o mapeamento do genoma humano em 2001, sabe-se que apenas dois por cento do genoma é capaz de ser traduzido em proteínas”.

“De modo a desvendar o papel dos RNA não-codificantes no processo de envelhecimento, utilizámos um modelo de ratinho com uma alteração genética que permite estudar mais facilmente o processo de envelhecimento e reprogramação celular. A partir de fibroblastos de ratinhos com diferentes idades, os cientistas perceberam que um RNA não-codificante, chamado Zeb2-NAT, era responsável por controlar a diferenciação e envelhecimento celular. Ao silenciar esta molécula os investigadores conseguiram transformar mais rapidamente fibroblastos envelhecidos em células pluripotentes, ou seja, com características estaminais tendo a capacidade de se diferenciarem em qualquer tipo de célula adulta do corpo”, explicou ainda Bruno de Jesus, concluindo que “estes resultados são um avanço no campo das células estaminais adultas que poderão servir de base para avanços na área da medicina regenerativa”.

Bruno Miguel Bernardes de Jesus nasceu em Coimbra, mas foi na localidade do Travasso, no concelho da Mealhada, que viveu até aos dezoito anos de idade, altura em que se mudou para a “cidade dos estudantes” para estudar Bioquímica pela Universidade de Coimbra (1998-2003).

O Doutoramento foi feito em Estrasburgo, de 2004 a 2008 e o Pós-doutoramento em Madrid, de 2009 a 2013. Atualmente é investigador do Instituto de Medicina Molecular em Lisboa e, desde abril de 2018, Professor Auxiliar na Universidade de Aveiro.