«Silêncio do Bussaco», da autoria de João Manuel Ribeiro, do Porto, é a obra vencedora da segunda edição do Prémio Literário António Augusto Costa Simões. O júri atribuiu ainda uma menção honrosa ao romance «A última dor», de António Manuel de Melo Breda Carvalho, da Mealhada. A iniciativa, promovida pela Autarquia, contou com oito concorrentes. O vencedor arrecadou um prémio monetário no valor de três mil euros e vê o custo de 500 exemplares da sua obra serem assumidos pelo município mealhadense.

João Manuel Ribeiro é poeta, escritor, editor e investigador, sendo considerado «um dos mais promissores autores de poesia para a infância», área em que se destacou, com a publicação de mais de cinco dezenas de livros de literatura infantil e juvenil. Na Mealhada arrecadou o seu primeiro prémio na área da literatura para adultos. «Há oito anos andei numa vaga de escrever sobre territórios.  Esta obra é um romance com um fundo histórico que, no caso do Bussaco, é uma memória misteriosa. Acredito que depois de o lerem, irão ao local com outros olhos», declarou o vencedor, desvendando que o livro se centra «numa arqueóloga que vai ao Bussaco para tentar descobrir um mistério, que não o revela. E na verdade é isso que eu sinto sobre aquele local, ao qual faço um apelo: nunca lhe retirem o seu mistério».

Para o painel de jurados, a relevância do tema «Bussaco» foi primordial na atribuição do prémio, «em nome da preservação ambiental, do património local e até mundial e ainda pela originalidade da narrativa que alia a força necessária à referida defesa do ambiente e à frescura da linguagem eminentemente poética».

O júri, constituído por Isabel Lemos, Maria da Luz Pedroso e João Paulo Simões, distinguiu ainda, com uma menção honrosa, o romance «A última dor», de António Manuel de Melo Breda Carvalho, «pela premência social dos temas: violência doméstica e abuso sexual de crianças e pela originalidade intimista da produção narrativa epistolar». O autor é docente e escritor, e conta já com diversos livros publicados e prémios literários, sendo a sua última obra «O Censor Antifascista».

«Foi uma tarefa poliédrica, com várias faces e ângulos de apreciação e com muita subjetividade, do autor e dos jurados, uma vez que se trata de um ato de criação em que o autor escreve sempre para um hipotético público», referiu Isabel Lemos, presidente do júri, explicando, porém, que foram estabelecidos critérios, logo na primeira reunião, que levaram ao resultado final. «As atas de todas as reuniões estarão disponíveis na Biblioteca a partir da próxima segunda-feira», enfatizou.

Ao prémio concorreram oito obras, tendo sido excluídas três, duas pelo facto de não terem mantido o anonimato na apresentação das obras, fator crucial em todo o processo (uma vez que o júri só sabe os nomes dos autores no final, sendo avaliados sob pseudónimo) e um que pediu para ser excluído pelo facto de a obra enviada não ser o género literário pedido. Foram assim a avaliação cinco obras dos autores João Manuel Ribeiro, Maria Leonor Gaspar, Mário Silva Carvalho, António Breda Carvalho e Francisco João Saínhas.

Para o presidente da Câmara da Mealhada, António Jorge Franco, quem ganha com estas obras «é a nossa cultura e o concelho da Mealhada». Palavras corroboradas por Filomena Pinheiro, vice-presidente da Autarquia, que enalteceu os concorrentes: «Todos contribuíram para o enriquecimento da literatura nacional porque produziram romances, que vão ser lidos e gerar emoções e muitas reações. Também é da criatividade das vossas produções que o nosso território é conhecido e pode ser alvo de novas dinâmicas».

 

Prémio homenageia «ilustre mealhadense»

Criado em 2018, num executivo liderado pelo socialista Rui Marqueiro, o Prémio Literário António Augusto da Costa Simões procura homenagear a «mais grada figura do concelho da Mealhada». «Foi um pilar de desenvolvimento e progresso na Mealhada, na região, no país e no mundo», referiu Filomena Pinheiro, vice-presidente da Autarquia, confessando «ser uma honra ter o seu nome neste prémio. Costumo até dizer que é o nosso “Leonardo da Vinci”».

«António Augusto da Costa Simões, que nasceu a 23 de agosto de 1819, na Vacariça, e faleceu a 26 de novembro de 1903, é considerado o maior impulsionador do método experimental em Portugal. Ficou conhecido pelas suas qualidades de reformador e progressista em quase todas as áreas em que trabalhou. Foi professor e, mais tarde, reitor na Universidade de Coimbra, embora desempenhasse outros cargos ao mesmo tempo, nomeadamente clínico municipal, membro da Câmara dos Pares do Reino e presidente da Câmara Municipal de Coimbra, entre outros», lê-se numa nota municipal.

 

Mónica Sofia Lopes