Numa reunião, onde os ânimos se exaltaram por diversas vezes, o presidente da mesa da assembleia geral da ACB, que não foi concreto na resposta se a direção organizava ou não o Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada de 2025, voltou a enfatizar a necessidade de se fazer cumprir os estatutos da associação, «uma vez que sem associados, juridicamente (a mesma) não existe». Com os três órgãos sociais demissionários (exceto os quatro elementos representantes das escolas de samba que não se demitiram até à data da reunião) a mesa da assembleia acabou por defender a necessidade de novo ato eleitoral, não sem antes Fernando Marques, presidente da direção demissionário, elencar algumas contas que apareceram em dívida na ACB, já depois de tomarem posse.

O impasse começou na assembleia extraordinária de final de novembro, em que um dos pontos previa «a análise, discussão, votação e aprovação dos estatutos da ACB» e a convocatória estipulava que estivessem doze elementos de cada escola de samba, o número referente aos órgãos sociais das mesmas, mas onde se lê que se realizaria, trinta minutos da hora estipulada «com qualquer número de presenças», o que não veio a acontecer, segundo declarações dos associados na assembleia extraordinária do dia 13.

«A ACB não tem associados e propusemos que devia haver um quórum mínimo de sessenta pessoas. Uma alteração da minha responsabilidade para credibilizar esta assembleia», começou por dizer Helder Xabregas, presidente da mesa, lamentando que só tenham estado «28 pessoas» e dando conta da não assinatura dos protocolos financeiros entre a ACB, escolas de samba e Câmara Municipal, no passado dia 5 de dezembro, numa sessão, em que garante que o presidente da Autarquia apelou «ao bom senso».

Depois de uma hora de uma panóplia de questões colocadas e troca de informações, Patrícia Pinto, presidente da direção da escola Amigos da Tijuca, perguntou: «A mesa da assembleia geral da ACB vai fazer o Carnaval de 2025? Sim ou não?». Interpelação que levou Helder Xabregas a responder que «quem faz o Carnaval são os elementos da direção. Há Carnaval com cabeça, tronco e membros», acabando por assumir um «nim» como resposta, numa sessão em que, no final, resignou ao cargo.

Já no ponto dois que previa «a análise e aprovação das demissões dos órgãos sociais eleitos a 16 de outubro de 2024» e algumas dúvidas se a legislação previa ou não a votação, o ponto foi retirado numa aprovação por unanimidade. «Visto que no vosso entender estamos demitidos, vamos convocar eleições», referiu o vice-presidente da mesa. Do mesmo órgão, Rui Goulão afirmou que «acima de tudo deve prevalecer o Carnaval da Mealhada» e que, por isso, iria ser marcada «uma data para eleições».

Depois da leitura da ata da sessão passada, Margarida Oliveira, da comissão administrativa da Real Imperatriz, contrapôs algumas das afirmações lidas, afirmando que «o senhor presidente da mesa começou por se demitir, dizendo que era uma vergonha o número de pessoas presentes e afirmando que o presidente da direção também se ia demitir». «O Pedro Castela (dos Sócios da Mangueira) perguntou umas dez vezes que pontos importantes dos estatutos queriam alterar e nunca responderam», sublinhou.

Declaração que levou Fernando Marques a garantir que a proposta foi enviada às escolas vinte dias antes da assembleia. «Queremos mudar o ano fiscal para o ano civil, todo o resto das propostas é proveniente dos pedidos das escolas, que estão em atas, e que o Helder passou dias a analisar. Propusemos transparência», disse, dando ainda a conhecer alguns números em dívida que apareceram depois da tomada de posse: «Uma nota de crédito, no valor de cinco mil euros, que tem de ser devolvido, três mil euros de IVA às Finanças e cerca de 1.700 a operadores de telecomunicações».

 

Preocupação com o Carnaval da Mealhada (também) chegou à assembleia municipal

O tema Carnaval foi também focado na última Assembleia Municipal da Mealhada – um dia antes da assembleia geral extraordinária -, pela bancada do Partido Socialista que questionou face aos acontecimentos o que «estava previsto» por parte da Autarquia. Em resposta, o presidente do Município disse confiar «nas pessoas que estão no Carnaval», sublinhando que «não vão deixar ficar mal os mealhadenses».

Sofia Lousado, deputada municipal pelo PS, enquadrou a questão da bancada que representa com o facto de o Município ter previsto «um apoio de 95 mil euros ao Carnaval, uma das principais atividades culturais do concelho». «A sua dimensão torna indiscutível a preservação deste evento, contudo, sente-se uma grande fragilidade neste modelo organizacional», referiu, questionando: «Está prevista alguma coisa para a colmatar?».

António Jorge Franco começou por dizer que «há muito a discutir» sobre um evento que «envolve pessoas extraordinárias». «O modelo está gasto e terá que ser repensado, mas não é este o momento», afirmou, acrescentando ainda: «Confio nas pessoas que estão no Carnaval». «Irão lutar para não deixar ficar mal os mealhadenses e esta instituição», enfatizou, referindo-se à ACB, um dia antes da assembleia da associação, que ditou a marcação de novo ato eleitoral.

 

Mónica Sofia Lopes