Dois anos depois de alguns eleitos em órgãos autárquicos terem espoletado os procedimentos necessários para a desagregação das freguesias da Mealhada, Ventosa do Bairro e Antes, esta quinta-feira, na Assembleia da República aprovou-se, por unanimidade, na comissão parlamentar com a pasta do poder local, a extinção da referida União de Freguesias e criação das três freguesias, agregadas em 2013 por imposição de uma lei criada na altura. «Hoje foi dado um passo importante que, ao concretizar-se, representa a luta das populações em ver devolvidas as suas identidades», referiu Joana Sá Pereira, deputada municipal na Mealhada pelo Partido Socialista, na última sessão deste órgão, que se realizou na noite de 12 de dezembro, e a responsável por levar «a boa nova» ao órgão.

Foi no final de 2022 que uma proposta, apresentada pelos eleitos do PS, para desagregação das freguesias que integram a União de Mealhada, Ventosa do Bairro e Antes foi aprovada, por unanimidade, em assembleia de freguesia extraordinária. O documento foi votado com um aditamento de um Gabinete de Advogados, contratado pela Junta da União de Freguesias, que consideraram que a mesma possuía «alguns pontos que seriam muito difíceis, para não dizer impossíveis, de serem aprovados na Assembleia da República». Na mesma sessão, foram ainda anuídas, por unanimidade, as propostas para criação das freguesias da Mealhada, Ventosa do Bairro e Antes. A unanimidade estendeu-se à Assembleia Municipal nesse mesmo ano.

Agora o processo entrou em fase de andamento, para as freguesias de todo o país que entenderam reverter a situação, através da Lei n.º 39/2021, tendo em conta que em 2025 será ano de eleições autárquicas. «Com a agregação, a União de Freguesias na Mealhada passou a ter 18% do território do nosso concelho, o que implica quatro cemitérios, uma cidade e duas das maiores aldeias do município. Demasiado grande para as necessidades da população», referiu Joana Sá Pereira, na assembleia municipal da passada quinta-feira, informando que, naquele dia, teria sido dado «um passo importante», com a aprovação, em comissão parlamentar, da criação das três novas freguesias. «A concretizar-se as populações de Ventosa do Bairro, Antes e Mealhada podem finalmente ver devolvidas a identidade que lhes foi retirada», enfatizou.

Sobre o tema, Pedro Semedo, da coligação «Juntos pelo Concelho da Mealhada» – que junta o PSD, CDS, Iniciativa Liberal, Partido da Terra e Partido Popular Monárquico – defendeu que com a agregação «ganhava-se escala e capacidade de investimento». Da mesma bancada, João Lousado, 1.º Secretário da Assembleia Municipal, difere na opinião, afirmando que «esta reposição recupera a autonomia. O que sentimos é que perdemos uma herança pela qual muitos dos nossos antepassados lutaram». O deputado congratulou o papel dos presidentes da União, desejando que «nada se vá perder com esta separação», no que toca ao fator financeiro.

Também Abílio Semedo, presidente da Junta da única União de Freguesias no concelho da Mealhada (o segundo presidente a gerir esta união, depois do socialista João Santos nos primeiros dois mandato), explicou que, apesar das dificuldades, «nunca se perdeu a proximidade com as pessoas, uma vez que todas as terças e quintas-feiras estou junto da população de Ventosa e às quartas e sextas-feiras na Antes». «Sou a favor da desagregação, mas não tenho dúvida nenhuma que a Antes vai ficar prejudicada em termos de valores», acrescentou o autarca.

António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, congratulou «a boa notícia». «A identidade nunca se perdeu, mas devemos voltar a ter as nossas freguesias», referiu.

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

Fotografia de Arquivo