Os diretores do Agrupamento de Escolas da Mealhada e da Escola Profissional Vasconcellos Lebre sensibilizaram, na manhã de ontem, para alguns problemas ainda existentes. Fernando Trindade falou nos alunos estrangeiros, alertando para o facto, por exemplo, de os de origem brasileira não terem Português Língua Não Materna, um impedimento estabelecido pela legislação, e Carlos Sousa falou no estigma que ainda existe relativamente às escolas profissionais, admitindo que «isso cria problemas estruturais na sociedade». As declarações foram proferidas na cerimónia de receção municipal para a comunidade educativa, que se realizou no Cineteatro Messias.
«Só o ensino público é verdadeiramente ensino de acolhimento e inclusão», começou por dizer Fernando Trindade, diretor do Agrupamento de Escolas da Mealhada, referindo que «num universo de 1912 alunos, 12,7% – 242 alunos –, são estrangeiros, provenientes de dezanove nacionalidades». «E aqui é preciso ter atenção de que, no caso dos alunos brasileiros, que são muitos, a legislação impede de terem língua não materna, mas a verdade é que eles têm muita dificuldade em perceber o português e os professores também em percebê-los. São estes desafios que temos de ultrapassar», disse.
Outra situação para a qual alertou foi o facto «de cada aluno ser um caso, o que estraga toda a economia possível. Para podermos chegar a todos, juntamo-los em sala. Neste momento, se quisermos fazer tudo o que gostaríamos, teríamos que ter outros recursos, docentes e outras especializações». Para o diretor do Agrupamento de Escolas da Mealhada «há sinais inequívocos da valorização da carreira de professor, mas há uma coisa irrecuperável que é o facto do professor ser o lugar do saber de há 30 e 40 anos. O mundo mudou e hoje é um gestor de estratégias», disse ainda.
Carlos Sousa, diretor da Escola Profissional da Mealhada, partilhou com a plateia, de mais de três centenas de pessoas, «um problema que foi sendo debatido na escola no último ano letivo, que é o facto de acharmos que há um ensino de primeira e outro de segunda». «Os alunos são iguais em direitos e os do ensino profissional não são menos dignos e capazes. Alimentar este estigma, é criar problemas estruturais na sociedade como sejam a falta de mão de obra qualificada», continuou, confessando sonhar «com a escola que quebra barreiras e coloca todos os professores a trabalhar em conjunto, sejam da escola pública ou da privada, para que os alunos saiam com um projeto de vida».
E sobre esta temática em concreto, António Jorge Franco, presidente da Câmara da Mealhada, lamentou «esta separação entre alunos bons e maus. Sou um grande defensor do ensino profissional e o próprio Município tem muitos funcionários provenientes da EPVL». «Todos os alunos têm uma vocação e, por isso, contará com o meu apoio nessa luta para que não haja alunos de A e outros de B», manifestou o autarca ao diretor da EPVL, escola que conta com 350 alunos.
O edil congratulou ainda a moldura humana presente na cerimónia, afirmando que isso representa «um sinal de investimento no concelho da Mealhada em técnicos e assistentes operacionais». «Uma parte substancial do nosso orçamento é para a Educação, sendo uma área prioritária e nunca considerada uma despesa», enfatizou.
Em representação da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares esteve Ana Mónica Oliveira que sublinhou alguns desafios que a «escola» tem, no seu geral, referindo-se, contudo, à Mealhada como um exemplo «na promoção da cidadania, na partilha de boas práticas de inclusão e empatia». «Estamos de regresso à escola e o mais importante é preparar cidadãos capazes para uma vida profissional eficaz. Isto torna tudo mais fácil no futuro», referiu.
Mealhada com ensino articulado de música
António Jorge Franco destacou o facto da Mealhada ter, pela primeira vez, o ensino articulado de música, algo só possível com a autorização do Ministério da Educação Ciência e Inovação à Rubato – Academia de Artes e com o apoio do Município em termos de cedência de instalações.
Paulo Almeida, diretor pedagógico da Rubato – Academia de Artes, sublinhou esta “oportunidade para os alunos da Mealhada”, arrancando, este ano, com música, mas com a possibilidade de, futuramente, ser alargado à dança e ao teatro. «Falamos de um projeto inovador e de uma lacuna que existia no concelho da Mealhada na certificação das artes», disse.
Mónica Sofia Lopes