A descentralização da comemoração dos noventa e dois anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Pampilhosa para a freguesia de Barcouço foi, na tarde de 30 de setembro, elogiada por todos os representantes das entidades convidadas. A cerimónia ficou marcada pelo discurso de Marco Braga, vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, que lamentou que sejam “os bombeiros a financiar o Estado e não o contrário”.

O dia foi de festa, mas Rogério Silva, presidente da direção dos Bombeiros da Pampilhosa, não quis deixar passar a recente acusação de três bombeiros no incêndio de Pedrógão Grande. “Estou cá (bombeiros) há treze anos e surpreende-me a evolução que isto está a ter. Os bombeiros trabalham voluntariamente e ainda são acusados?” questionou o dirigente, defendendo ser “ao Estado que compete socorrer pessoas e bens”, bem como “transportar doentes”.

Em relação às questões financeiras, Rogério Silva relembrou “que, às vezes, os Hospitais têm dez meses de atraso no pagamento às corporações” e que até “a Autoridade Nacional da Proteção Civil que pagava a 1 de agosto, agora só o faz a 1 de setembro”. “Se não fosse a ajuda da população não sei onde isto ia parar!”, agradeceu ainda.

Um apoio sentido ontem, com os elementos da Comissão das Festas de Santa Marinha da Pampilhosa, em 2018, a entregarem um cheque de três mil e quinhentos euros aos Bombeiros da Pampilhosa. E Marco Braga enalteceu: “Se não fosse este Grupo, e tantos outros pelo país fora, não sei o que seria das corporações dos Bombeiros. São eles que se substituem ao Estado e fazem com que não andemos a mendigar por transportes e outros meios. O que vimos aqui é exemplo do reconhecimento das populações ao trabalho que é feito pelos Bombeiros”.

O vice-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses lamentou ainda que “sejam os Bombeiros a financiar o Estado”, entidade que diz “dever milhões de euros” às corporações, estendendo a insatisfação quando se referiu aos bombeiros acusados no incêndio de Pedrógão. “Não podemos aceitar que sejam os bombeiros voluntários o ‘bode expiatório’ da tragédia”, rematou.

O lamento ao poder central é colmatado com os elogios feitos à Autarquia da Mealhada. “Há um grande investimento na prevenção por parte do Município”, referiu António Ribeiro, Comandante Operacional do Distrito de Aveiro. Palavras corroboradas por Marco Braga: “A Câmara da Mealhada investe nas duas corporações do concelho porque sabe que assim está a proteger as suas populações e isto merece-nos reconhecimento”.

O facto das comemorações dos noventa e dois anos da Associação se realizarem em Barcouço, uma freguesia fustigada por um incêndio, de grandes dimensões, em agosto de 2017, foi também alvo de congratulação. “Passei aqui um dos piores momentos da minha vida!”, referiu Rui Marqueiro, presidente do Município da Mealhada, garantindo “ser justo” ser aquele o local “para as cerimónias” e explicando que “na Câmara se gerem os recursos que são de todos”. “Não há nada que os Bombeiros nos peçam que não tentemos satisfazer”, concluiu.

Num discurso de aclamação a todas as entidades que apoiam a corporação que comanda, Fernando Abrantes afirmou sentir-se “honrado ao lado do corpo de bombeiros da Pampilhosa”, qualificando-os de “responsáveis, disciplinados e profissionais”.

 

Mónica Sofia Lopes