Em tempos foi feriado nacional. Hoje marca o Dia do Município de muitos concelhos no país e vários na região da Bairrada. A Romaria da Ascensão ao Bussaco é recordada com saudosismo pelos mais velhos, mas é também uma tradição mantida pelos mais novos. Não será exceção para alguns elementos do Rancho Folclórico de São João, freguesia de Casal Comba, no concelho da Mealhada, que irão em romaria desde a localidade até à Mata do Bussaco. O percurso culmina com um almoço partilhado nas Portas de Coimbra, onde a iguaria rei da Mealhada – o leitão – não faltará na merenda.

Não é preciso ir muito longe para que várias pessoas descrevam a Quinta-feira da Ascensão, Dia Santo de Guarda ou Dia da Espiga como algo extraordinário, um dia que se assemelhava ao Natal ou à Páscoa, em que não se trabalhava. Preparava-se o farnel – não faltavam as pataniscas de bacalhau – que mais tarde era partilhado na Mata do Bussaco, local onde também se bebericava a água da fonte, para espantar as coisas más. Havia uma automotora especial – designada de «Comboio da Ascensão» -, que trazia pessoas (milhares) de perto, mas também de muito longe, até à Estação de Luso, sendo a partir daí a Romaria até à Mata.

A escolha do Bussaco explica-se pelo facto de durante anos ter sido um espaço de reclusão religiosa, onde permaneceram os Carmelitas Descalços. Passado este período e com a Mata aberta à população, o local era considerado santo e as pessoas começaram a acorrer ao local, principalmente em Dia da Ascensão. Os estudantes de Coimbra caminhavam seis horas para também neste dia estarem num espaço considerado sagrado.

Completando a Romaria, as missas neste dia – como ainda acontece, por exemplo, na Vacariça -, serviam para bênção das pétalas e ramos de trigo, papoila, alecrim, oliveira e videira, que as pessoas levavam às Igrejas, onde depois de benzidos eram lançados à «seca» dos campos e também, durante o ano, «queimados» para que fosse afugentada a trovoada. Conta-se, que muitos juntavam à bênção um pão, que duraria um ano inteiro sem nunca apanhar bolor.

«Recordo-me da minha avó dizer que, neste dia, não se fazia rigorosamente nada, até mesmo cozinhar fazia-o no dia anterior», começou por dizer, ao nosso jornal, Isabel Costa, elemento do Rancho de São João, uma das participantes na Romaria, que hoje, 9 de maio, partiram do Largo da Igreja de Casal Comba, às 9h00, em direção ao Bussaco. «Do nosso grupo seremos no mínimo dez pessoas, que farão um dos percursos que os romeiros faziam em tempos passados. Iremos trajados, alguns com as típicas cestas do farnel, que será degustado nas Portas de Coimbra», explica.

De Casal Comba, o grupo seguiu em direção à Póvoa da Mealhada, seguindo até à Vacariça, onde pela estrada da Quinta do Vale chegará ao Pego. Foi nesta localidade que, por um caminho pelo meio da floresta chegará às Portas de Coimbra, num percurso total de cerca de nove quilómetros. «Vamos cantando e brincando e é sempre muito divertido. O caminho significa isto, o encontro com as pessoas, mas também o de estar connosco», continua Isabel Costa, recordando que «esta subida ao monte, está muito ligada ao sagrado e à religião. A Mata do Bussaco era considerada um local sagrado, muito apreciada depois de um ano de trabalho duro».

Também o GEDEPA ponderou a romaria a pé com o Rancho de São João, «mas por impossibilidade de muitos elementos, irá somente à tarde para fazer parte da animação cultural», disse-nos João Pedro Marques, presidente da direção deste Grupo da Pampilhosa, que recordou as últimas vezes que foi a pé, há cerca de 40 anos: «Os mais novos iam sempre à frente e logo atrás as senhoras com o almoço, onde não faltava a galinha atestada. Nas cestas de vime ia também o pão e o vinho. Era um dia efetivamente especial, sempre muito animado com toda a gente a cantar. Lembro-me que era neste dia que comprávamos sempre uma coisinha qualquer no Bussaco. São memórias que ficam gravadas».

 

Texto de Mónica Sofia Lopes

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