O escritor Francisco Moita Flores esteve, na manhã de ontem, na Escola Secundária da Mealhada onde o tema «livro» foi mote para uma conversa que tinha como missão o incentivo à leitura e de como este ato pode ajudar os jovens a enriquecerem o seu percurso profissional.
«Vocês estão na idade em que se divorciam dos livros, dando prioridade aos telemóveis, mas não se esqueçam que a velocidade é a negação do pensamento, cuja sua articulação precisa de tempo», começou por dizer o também ex-inspetor da Polícia Judiciária, que defendeu que «cada escritor deixa a sua alma e um pedaço de si em cada livro» e que «as pessoas se “perdem” porque não têm os livros como companheiros».
Para uma plateia de meia centena de jovens do ensino secundário, Moita Flores falou do seu primeiro contacto com a leitura. «Quando nasci não havia luz elétrica em minha casa e tínhamos um petromax. O meu pai todos os dias saía da oficina, jantava e sentava-se no sofá a ler. Comecei a ler por vê-lo a ler e por isso não é de estranhar que a primeira obra que li tenha sido “Amor de Perdição”», contou, acrescentando que «o pai se “alimentava” de livros da biblioteca itinerante da Gulbenkian». «Em determinada altura perguntou-me se não queria ir com ele e acabou por pedir ao bibliotecário para me inscrever. Foi assim que comecei a requisitar livros. Não esqueço os primeiros que li para a minha idade: “Os Cinco na Torre do Farol” e “A Flecha Negra”», desvendou.
O autor continuou o seu discurso enfatizando a importância da leitura: «É a forma de deixarmos de ser medíocres. Os livros estão à vossa espera nas bibliotecas e são companheiros de vida. Bons companheiros de praia, de viagem e até na casa de banho».
À questão do Diário de Coimbra sobre a percentagem de mais de 20% dos jovens não saberem ler, Francisco Moita Flores referiu que «cada vez se vendem mais livros». «O problema é que ainda agora passei ali em baixo e no intervalo, mais de 60% dos jovens estavam no telemóvel, no período em que poderiam conviver e partilhar ideias», lamentou, enfatizando «haver cada vez mais estímulo para a leitura por parte das editoras e das escolas», mas ser esta «uma luta constante que não pode parar: estimular a leitura, sempre, para que sejam melhores alunos e melhores cidadãos».
Agradecendo a presença do escritor, Pedro Semedo, responsável pela Biblioteca Escolar do Agrupamento, referiu, tendo como amostra os alunos do secundário, ser «uma idade terrível, não só pelos telemóveis, mas pela orientação que estabelecem relativamente aos resultados escolares».
Mónica Sofia Lopes