Notícia atualizada às 12h58 de 21 de março de 2024

A taxa de dificuldade na leitura acima dos 20% nos jovens, de um modo geral, e o estigma que a sociedade ainda tem face às escolas profissionais foram o mote para uma conversa com Nuno Crato, ex-Ministro da Educação e da Ciência de Portugal, que, na tarde de ontem, esteve na Escola Profissional Vasconcellos Lebre, na Mealhada, no âmbito da iniciativa «Aposta no Futuro», levada a cabo pela escola na última semana. Intitulada «Ensino profissional no quadro do sistema educativo: Cidadania da proposta, para uma cidadania plena dos seus destinatários/protagonistas», a conversa foi moderada pela jornalista Margarida Alvarinhas.

«De 2012 a 2015, a escolaridade obrigatória subiu do 9.º para o 12.ª ano, sendo que o ensino profissional tem quase 40% dos jovens e já esteve nos 43%, o que demonstra ser uma parte muito importante do ensino obrigatório. O ensino profissional proporciona certificação de escolaridade, dá qualificação profissional para procura de emprego e ainda permite que os alunos prossigam estudos», enalteceu Nuno Crato, explicando que «felizmente em Portugal o ensino profissional começa no 3.º Ciclo», o que proporciona «uma educação idêntica para todos até ao 9.º ano».

O ex-Ministro da Educação e da Ciência de Portugal referiu «ser normal que um jovem de 15 anos não saiba o que quer fazer e tenha incertezas sobre o futuro», admitindo, contudo, não se estar «a saber explicar aos jovens as opções que têm. Aos 15 anos deviam ter uma ideia clara das ofertas disponíveis e o que estas contêm» e dando como exemplo «os casos da Alemanha e Suíça, onde o ensino profissional é muito valorizado».

Uma valorização que algumas pessoas da plateia garantiram não existir e não ser reconhecida. «A sensação que dá é que há vergonha em assumir-se o ensino profissional», disse um dos intervenientes, corroborado por uma professora da EPVL que desvendou que há duas semanas apresentou os números do ensino profissional, «na tentativa de desconstruir a ideia que me deram de que estavam aqui porque era mais fácil concluírem os estudos do que no ensino regular».

«Nós pais também devíamos ter mais informação, pois temos obrigação de lhes abrir o leque de ofertas. Nós conhecemo-los bem e podemos fazer com que fiquem mais alerta para aquilo que querem do futuro», disse uma encarregada de educação, presente no evento. Ideia partilhada pela aluna, Cristina Pinto, de 17 anos, aluna no 12.º ano do curso de Ação Educativa, que recordou que no 9.º ano já sabia que pretendia seguir o ensino profissional. «Nessa altura, o ensino regular só me deu a conhecer o seguimento do ensino regular e não me ajudou na aposta que eu queria para o ensino profissional. Também em casa, quando disse o que pretendia, foi um “31”, ora porque o ensino não era bom, ora porque só tinha pessoas com vícios, mas eu não desisti e cá estou a terminar o curso», disse a jovem, que pretende seguir o ensino superior na área da Psicologia.

Carlos Sousa, diretor da EPVL, referiu que «a taxa de abandono no ano letivo transato foi de 2%», alertando para a falta de diagnóstico vocacional em contexto escolar, o que leva a que já no corrente ano letivo, tenham chegado à EPVL «cerca de 20 alunos, nos meses de setembro a janeiro», vindos do ensino curricular, «porque se aperceberam de que não era o que pretendiam para o futuro». «Estará o país a trabalhar na área vocacional dos nossos jovens?», questionou retoricamente.

 

«Mais de 20% dos jovens têm dificuldades de leitura»

Nuno Crato apresentou a Iniciativa Educação Teresa e Alexandre Soares dos Santos, onde é um dos dirigentes, e que, entre outras propostas, apoia crianças do 1.º e 2.º anos com dificuldades na aprendizagem inicial da leitura e da escrita. «A percentagem de jovens com grande dificuldade de leitura está acima dos 20% e, por isso, o programa central tem de ser colmatado logo no início», referiu, adiantando ser «um problema ocidental. Há países no sudoeste asiático em que essa taxa está nos 4% e isso é inevitável, por diversas condicionantes. 20% não é desculpável, mas nos países ocidentais começou a aceitar-se de que era normal que os alunos não soubessem ler».

 

Mónica Sofia Lopes