Locais de referência e marcos na história de vida da última rainha de Portugal, Amélia de Orleães, foram, na manhã de ontem, visitados, no concelho da Mealhada por cerca de uma dezena de participantes oriundos da Mealhada, Anadia e Cantanhede, que tentaram «imaginar» “in loco” esses momentos. A visita – que percorreu a Estação da Pampilhosa, o Challet Suisso e Palace Hotel do Bussaco – foi uma experiência pioneira de um dos percursos que a Autarquia pretende que seja homologado.
No dia Internacional da Mulher, a Mealhada, num desafio lançado pela Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, recordou «uma das grandes mulheres da história, que teve algumas passagens pelo concelho da Mealhada, no final do séc. XIX e início do séc. XX». «Amélia de Orleães, filha do Conde de Paris, nasceu em 1865, em Inglaterra, local de exílio da família, e o seu casamento com o príncipe D. Carlos de Bragança foi acordado em Janeiro de 1886, em Paris, onde o “casal” se viu pela primeira vez», começaram por explicar Lurdes Réu Carvalho e Liliana Duarte, técnicas de Turismo, durante a viagem de autocarro que começou junto à Biblioteca Municipal da Mealhada.
Em Portugal, o primeiro encontro entre Amélia de Orleães e D. Carlos de Bragança foi na Pampilhosa, na Estação de caminhos de ferro, a primeira paragem da visita de ontem. «Foi aqui, nesta Estação, que Amélia de Orleães teve o primeiro contacto com Portugal. D. Carlos recebeu a sua noiva e respetiva família, nesta estação que estava toda engalanada, no dia 19 de maio de 1886, tendo sido recebida por uma multidão. A banda tocou o hino e as pessoas gritaram de entusiasmo. Carlos abraçou-a e deu-lhe um beijo na cara», continuaram, referindo mais detalhes, como o facto da princesa vir vestida de branco e terem pernoitado, nesse dia, no Challet Suisso, junto à Estação da Pampilhosa, «hotel onde a família real se hospedava, concretamente no quarto n.º 11, quando visitava a região beirã e que era propriedade de Paul Bergamim, um empresário suíço».
Três dias depois de pisar solo português, precisamente na Pampilhosa, Amélia de Orleães casou com o rei D. Carlos na Igreja de S. Domingos, em Lisboa, tendo passado a noite de núpcias em Sintra, no Palácio da Pena. O casal real teve três filhos, uma menina, que morreu durante o parto, Luís Filipe e Manuel. «A rainha d. Amélia, a quem cabia a educação dos filhos, destacou-se como rainha pelo seu papel na solidariedade social, visitando muitas instituições, principalmente a da Assistência Nacional aos Tuberculosos. Neste contacto com as pessoas preencheu um vazio do papel do seu marido, como Rei, que não gostava de multidões», continuou Lurdes Réu Carvalho.
«Em 1908, a rainha assistiu ao assassinato do marido e do filho mais velho, príncipe herdeiro, havendo uma imagem com muito simbolismo em que D. Amélia com um ramo de flores na mão tenta defendê-los dos assassinos», continuam as técnicas de Turismo, que relataram que, depois da tragédia, D. Amélia mantém-se firme ao lado do filho mais novo, o jovem rei D. Manuel II, de apenas 18 anos».
Em outubro de 1910 é proclamada a República e a família real parte para o exílio, em Inglaterra, tendo a última cerimónia pública do Rei sido em 27 de setembro desse ano, nas comemorações do centenário da Batalha do Bussaco, antes do exílio em Inglaterra.
Em 1945, Salazar recebe, com todas as honrarias, D. Amélia em Portugal para uma viagem de memórias e, em todos os locais por onde passou, foi recebida com alegria e emoção. Passou uma noite no Palace Hotel do Bussaco e, segundo algumas fontes, fez um passeio solitário ao Cedro de S. José, plantado em 1644. Faleceu em França em 1951, tendo sido sepultada, como era a sua vontade e com honras de Estado, no Panteão Real da Dinastia dos Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora.
Participantes querem mais visitas: «História é o que não falta neste concelho»
Esta visita contou com cerca de uma dezena de pessoas que, no final, manifestaram-se agradados com a mesma. «Foi um percurso perfeito. Agora há que continuar porque história é que não falta neste concelho com a Batalha do Bussaco, o Museu Militar, as Vias Sacras», disse, ao nosso jornal, Maria Amélia Azinhaga, de 83 anos, oriunda de Murtede, Cantanhede.
Palavras corroboradas por Ermelinda Galvão e Maria Sereno, ambas de Anadia, que desconheciam a passagem de D. Amélia pelo concelho da Mealhada. «Adoro tudo aquilo que seja relacionado com história. Gostei muito desta visita», disse Ermelinda Galvão. «Vivi no Brasil até aos 20 anos e conheço mal a nossa história. Quando soube desta visita, inscrevi-me e foi realmente um momento muito positivo», concordou Maria Sereno.
Joaquim Correia, chefe do Setor de Turismo da Câmara Municipal da Mealhada, congratulou a presença dos participantes, avançando estar «em fase de homologação alguns percursos do concelho, onde estará o de Amélia d’Orléans”. Queremos melhorar este percurso e lançá-lo para as escolas porque achamos ser muito importante». «Queremos receber pessoas e dar a conhecer o nosso património», enfatizou.
Celebrações terminam hoje com oficina «A mulher e o mundo do vinho»
As celebrações alusivas ao Dia da Mulher na Mealhada contaram ainda com a partilha das autoras Cidália Vargas Pecegueiro e M. Margarida Pereira-Muller sobre as diferenças da mulher de 1940 e a mulher do séc. XXI; uma sessão alusiva à ourivesaria tradicional feminina como adereço ou atavio no traje feminino – 1830/1930, pela voz de Joaquim Correia, que explicou o uso de peças de ourivesaria popular e das tradições ligadas ao ourar da Mulher de antanho, e o seu significado na vida das mulheres na segunda metade do séc. XIX até, sensivelmente, à década de 30 do séc. XX.
Na Biblioteca decorreu ainda uma sessão organizada pela CADES e desenvolvida pela psicóloga da clínica Naturalmed, dedicada ao tema “O Paradigma Mulher de Hoje e a Mulher de Antigamente: partilha de experiências e emoções”, com uma proposta de reflexão acerca do progresso ao nível dos direitos humanos.
Este sábado, 9 de março, realiza-se, na antiga destilaria do Instituto da Vinha e do Vinho, o workshop «A mulher e o mundo do vinho», com a enóloga Raquel Carvalho, convidando-se as mulheres para uma tertúlia sobre o vinho e o papel da mulher na sua representatividade na sociedade, terminando com uma prova cega de vinhos.
Mónica Sofia Lopes